Educação

Aulas de cidadania

Colégios incentivam atividades práticas relacionadas a disciplinas como História e Sociologia 

Jovens interessados em política, bem informados, questionadores. Em várias escolas, o ensino de História, Geografia e Sociologia não se restringe aos livros didáticos. A teoria tem sido complementada com atividades práticas que aumentam não só o conhecimento, mas estimulam também a cidadania e até a diplomacia. No Colégio Cruzeiro, por exemplo, estudantes do 9º ano do Ensino Fundamental e do Ensino Médio já se organizaram em comitês que simulam os da Organização das Nações Unidas (ONU).

Este ano, os alunos foram divididos em três comitês: “Conselho de Segurança Histórico – Guerra da Coreia”, “Conselho de Direitos Humanos Histórico – Conflito do Congo” e “Organização dos Tratados do Atlântico Norte Histórico – Guerra do Kosovo”. Com isso, além de estudarem os temas, trabalham oratória e autonomia, entre outros aspectos.

– Sempre vou aos comitês, falo sobre algum tema, mas sempre há uma autonomia por parte dos alunos e é esse o espírito. O objetivo principal é torná-los cada vez mais autônomos e capazes de empreender e realizar – explica Leandro Gomes, professor de Sociologia do colégio que, junto com os ex-alunos Felipe Muniz, Maria Luiza Teixeira Leite e Júlio Crêlier, levou o projeto para a instituição.

Segundo ele, atividades como essas enriquecem toda a formação dos alunos.

– A importância é total. É a verdadeira pedagogia da autonomia, ensinada​ por Paulo Freire. A educação tem que ser prática, dinâmica, tem que fazer sentido com a realidade do aluno. No ano passado, tivemos uma experiência nesse sentido muito positiva. O professor de História Márcio Rogério desenvolveu um projeto que consistia em uma simulação das eleições gerais de 2014, com partidos e eleitores, debates e enfrentamentos. Foi muito enriquecedor e facilitador para o aprendizado de ​Sociologia, ​política, cidadania, História, ​Filosofia, linguagens, etc – conta o professor.

As eleições presidenciais do ano passado também foram trabalhadas de forma semelhante no Colégio Marista São José, na Tijuca. Os alunos simularam um pleito eleitoral, organizando todo o processo. Segundo Cláudia Abramo, orientadora educacional do Ensino Fundamental I do colégio, esse e outros trabalhos do tipo vão muito além do conhecimento avaliado nas provas.

– Não vale ponto ou nota para disciplinas específicas. Os alunos se beneficiam pelos valores que são agregados a sua formação. Por essa perspectiva, o ponto ganho é para a sua vida. Auxilia os estudantes a desenvolverem habilidades comportamentais e relacionais, valores e competências fundamentais para o sucesso na escola e na vida. Estimula a reflexão sobre as características do estudante Marista e como utilizá-las para desenhar o perfil de liderança adequado aos princípios da Instituição – avalia Cláudia, citando outros trabalhos desenvolvidos pela escola com o mesmo propósito. – Podemos destacar outras atividades que estimulam e motivam o protagonismo e a liderança: pesquisas, debates e seminários sobre assuntos da atualidade; e a Olimpíada Marista, evento que tem como princípios para a competição: respeito, ética, dignidade, lealdade e simplicidade.

Para Leandro Gomes, do Cruzeiro, o envolvimento e o interesse dos alunos nessas atividades só mostram o quanto os jovens hoje estão antenados aos acontecimentos e politizados.

– O interesse dos jovens é total. Existe um mito de que os jovens são alienados, que não se interessam por política. Isso não é verdade. As temáticas que trabalho com eles em sala – cidadania, política, desigualdade social​ – são muito prestigiadas. O jovem atual é hiper informado. Entretanto, há um quantitativo enorme de (des)informação, ou seja, nem sempre o que se lê na internet ou se vê na TV é um conhecimento válido no sentido da aplicabilidade prática de como se tornar um cidadão. Ou seja, quando se sai do senso comum da notícia, em sala, e são discutidas mais a fundo algumas questões postas na mídia, isso causa, no primeiro momento, um assombro nos alunos e depois vem a discussão, o debate. É assim que tudo acontece.

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