Família Lazer

No azulzinho do cinema

Sessão Azul adapta sala de cinema para crianças com autismo 

No sábado, 23 de janeiro, tem sessão pra lá de especial no Kinoplex Tijuca. O filme não será diferente do de muitas outras salas de cinema, mas o ambiente, sim. Para o público que assistir a “Snoopy & Charlie Brown Peanuts – O Filme”, não importa se alguém falar mais alto ou não ficar sentadinho na poltrona. As luzes também não se apagam totalmente e o som fica bem abaixo da potência máxima. A Sessão Azul é cuidadosamente adaptada para crianças com autismo. Crianças que raramente (em muitos caso, nunca) vão ao cinema.

– Acredito que o principal diferencial da Sessão Azul é o carinho e atenção que damos aos pais, orientando quando necessário. O trabalho com as crianças que precisam de direcionamento e afeto neste momento, é igualmente importante. É um ambiente novo, com muitos estímulos que podem perturbar esta criança. Temos que ir com calma e muita paciência. Além disso temos a expectativa que isso gere um maior engajamento da família no tratamento da criança – avalia Carolina Salviano de Figueiredo, psicóloga e mestre em Psicologia Clínica, com ênfase em autismo e desenvolvimento da linguagem e da subjetividade, e idealizadora e organizadora da Sessão Azul.

Assim como filmes que caem rapidamente no gosto do público, a iniciativa é sucesso de bilheteria. Na sessão de estreia, dia 15 de dezembro de 2014, as inscrições (a entrada foi gratuita) superaram a expectativa, e teve lista de espera. A exibição foi no Kinoplex Via Parque, na Barra da Tijuca, mas a novidade se projetou muito além da sala, além até do Rio de Janeiro.

– Temos muitos pedidos, do Brasil todo! Queremos muito atender a todos. Não
esperávamos por isso agora logo na primeira sessão, não – diz Carolina.

O sucesso só foi possível graças ao trabalho incansável dos organizadores. Segundo Carolina não foi fácil tirar a ideia do papel:

– Após anos escutando, observando e vivenciando experiências de famílias de pessoas com Transtorno do Espectro do Autismo (TEA), identificamos vários casos em que muitas vezes elas deixavam de ter um convívio social maior por receio ou até vergonha da reação do autista em situações que, para ele, não sejam tão confortáveis, como ir a shopping, restaurantes, festas ou ao cinema. Tomando por base a mesma iniciativa do CineMaterna (leia “Quem disse que não dá para ir ao cinema com bebê“), decidimos avaliar a organização de sessões de cinema especialmente voltadas para pessoas com TEA e seus familiares. Não foi uma tarefa fácil organizar a primeira sessão, principalmente porque precisávamos contar com o apoio de uma grande rede de cinema que estivesse disposta a abrir espaço para este projeto. Após muita procura e negociações, conseguimos o apoio da rede Kinoplex, que disponibilizou uma sala no Shopping Via Parque sem custo algum para nós ou para as famílias.

A Sessão Azul não se trata de um simples passeio. É lazer, sim, mas também uma manira de estimular e acompanhar o desenvolvimento de crianças com TEA nesta interação social.

– O objetivo principal é que as sessões de cinema funcionem como uma extensão ao trabalho terapêutico realizado com a criança, e o engajamento dos pais no processo de tratamento. Durante as sessões, por meio de profissionais devidamente capacitados, é feito o acompanhamento e orientação às famílias de forma que as sessões funcionem como uma espécie de treinamento para as crianças na adaptação ao ambiente do cinema, e também para os pais para orientá-los em como lidar com as dificuldades de adaptação da criança ao novo ambiente, de forma que auxiliem diretamente para realizar e facilitar esta ambientação – explica a psicóloga..

A Sessão Azul ainda não tem uma periodicidade definida. Tanto na estreia como na edição que vai acontecer no dia 23 deste mês, a escolha dos filmes foi decidida por meio de enquete com o público. Os ingressos já estão à venda para esta segunda sessão e custam R$ 15.

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