Coruja Gravidez

Cirurgias intrauterinas

Algumas intervenções no bebê podem ser feitas dentro do útero

Necessitar de uma cirurgia intrauterina, obviamente, é motivo de preocupação para qualquer mamãe e papai. Afinal, há algo de errado com o bebezinho que se espera. A boa notícia é que este tipo de cirurgia vem sendo cada vez menos invasiva e apresenta uma recuperação melhor.

O procedimento não é novo, mas vem evoluindo com o desenvolvimento da medicina. As primeiras cirurgias eram feitas com corte no abdômen da gestante. Hoje, a intervenção pode ser realizada por meio de fetoscopia, técnica feita por meio de pequenos “furos” no abdômen materno.

– As cirurgias intrauterinas passaram a ser mais comuns a partir da década de 1970 com a evolução da ultrassonografia. A partir de então, vêm ganhando maior importância e se tornando uma rotina para os serviços de Medicina Fetal. A cirurgia intrauterina começou em maior escala a partir da década de 1980. Inicialmente, eram feitas a céu aberto (necessitavam da abertura do ventre materno para então abordar o feto). A partir da década de 1990, as cirurgias fetoscópicas (minimamente invasivas) vêm ganhando maior destaque, principalmente por representarem menor risco para a gestante – explica o obstetra Renato Sá, coordenador geral do Centro de Diagnóstico da Perinatal.

Um dos principais centros de referência em medicina neonatal do país, a Perinatal, no Rio de Janeiro, realiza esse tipo de cirurgia para várias situações.

– ​Todas as cirurgias que têm respaldo na literatura médica são realizadas na Perinatal. Coagulação a laser dos vasos placentários nos casos da Síndrome da Transfusão Feto-Fetal nos Gêmeos monocoriônicos; coagulação dos vasos do feto acárdico (outra complicação das gestações gemeres em que um feto com malformações graves, incompatíveis com a vida, pode provocar a morte do outro gêmeo); colocação de balão traqueal nos casos de hérnia diafragmática congênita grave; síndrome da banda amniótica; correção antenatal da mielomeningocele; derivação vesico-amniótica nos casos de válvula de uretra posterior; transfusão intra-uterina nos casos de anemia fetal grave; e derivação tóraco-amniótica nos casos de hidrotórax fetal são exemplos de cirurgias já realizadas na Perinatal – conta Renato Sá.

Um exemplo da vantagem da cirurgia intrauterina é a intervenção para o tratamento de mielomeningocele, uma malformação congênita causada pelo fechamento incompleto da coluna. O procedimento oferece ao bebê uma recuperação motora 50% melhor do que o tratamento pós-natal.

– As correções cirúrgicas de defeitos congênitos são realizadas habitualmente após o nascimento. No passado, somente as malformações fetais que poderiam levar ao óbito eram abordadas antes do nascimento. Com a evolução da tecnologia e após pesquisas científicas de grande relevância, algumas malformações congênitas não letais passaram a ser abordadas antes do nascimento, por considerar que os benefícios são muito superiores aos riscos, é o caso da mielomeningocele. A permanência da abertura na coluna fetal, expondo os nervos a ação do líquido amniótico, agravava os problemas motores, por isso passaram a ser corrigidos ainda dentro do útero – explica o obstetra.

A cirurgia foi realizada com sucesso, em 2016, na pequena Helô, filha de Aline Franciele, moradora de Jacarezinho, Paraná. Aline descobriu a mielomeningocele na 18ª semana de gestação, e procurou a Perinatal para realizar o procedimento. Helô nasceu saudável e só precisou de UTI Neonatal para ganhar peso.

– Hoje, vejo minha filha engatinhando, se movimentando, fazendo tudo que uma criança da idade dela faz e sinto que fiz a coisa certa – avalia Aline.

Apesar de mais comuns e cada vez mais avançadas, as cirurgias intrauterinas ainda não são popularizadas no país. Aline, por exemplo, teve que viajar para o Rio de Janeiro para realizar o procedimento.

– Poucos são os centros que realizam estas cirurgias no Brasil em decorrência da necessidade de alta tecnologia e de equipes médicas muito bem treinadas. Apenas três centros no país, incluindo a Perinatal, têm a capacidade para realizar todo este número de procedimentos – diz o obstetra Renato Sá.

Foto Divulgação/Perinatal

 

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