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O que é egocentrismo infantil?

A pedagoga Andrea Rodrigues explica aquela fase em que as crianças têm dificuldade de compartilhar

Quem convive com crianças bem pequenas sabe o quanto é difícil para elas compartilhar brinquedos e outros objetos. Pode parecer, mas não se trata de uma atitude egoísta. Essa é uma característica do desenvolvimento infantil e acontece porque as crianças ainda não sabem coordenar seu ponto de vista com o do outro e estão construindo a ideia de propriedade, ou seja, precisam aprender a diferenciar o que é dela, o que é do outro e o que é de todos.

Essa fase do desenvolvimento infantil é chamada de egocentrismo e se refere a um pensamento realista centrado no ponto de vista da criança. Ela não conhece outras perspectivas diferentes das suas e acredita que todo mundo percebe, sente e pensa da mesma maneira, ou seja, o mundo gira em torno dela.

Nesse sentido, pais e educadores assumem grande responsabilidade ao ajudar as crianças a superar a fase do egocentrismo com tranquilidade mediando situações de conflito. Nas interações familiares as crianças têm a oportunidade de conhecer e vivenciar o amor e a compaixão. E esses sentimentos, aos poucos, substituem o ato egocêntrico. Já a escola, tem papel socializador e ajuda a criança a fazer essa mudança de forma sadia ao impregnar valores como a solidariedade e o respeito ao desejo do outro nas atividades propostas. Além disso, na escola aprende-se as regras do convívio social e isso ajudará a criança, entre outras coisas, a tornar-se capaz de dividir, ouvir o outro e a esperar a sua vez.

Psicólogos afirmam que nessa fase a criança não consegue perceber o outro. Também não mostra empatia em se colocar no lugar de outras pessoas. Não gosta de compartilhar atenção ou pertences e precisa sempre ter suas vontades satisfeitas. Além disso, não vê necessidade de explicar aquilo que diz ou faz, porque acredita que será sempre compreendida e tem dificuldade em lidar com frustrações porque não percebe nada além do seu próprio desejo e sentimento.

Para demonstrar sua insatisfação e ter suas vontades atendidas, as crianças podem fazer birra para chamar a atenção dos pais e professores, demonstrar certa agressividade e até mesmo atitudes melancólicas, se fazendo de vítima diante das situações de conflito.

Nessa fase, a criança se opõe a quase tudo e é justamente essa oposição que vai ajudar a construção da sua identidade, ou seja, a criança descobre quem ela é através do que ela não é. Ele é menino porque não é menina, ela é criança porque não é adulto. É dessa forma que as crianças se diferenciam das outras.

Ao achar que possui um objeto, ou melhor, “todos” os objetos, a criança confunde o “ter” com o “ser”, ou seja, ao disputar um brinquedo a criança busca assegurar a posse da sua própria personalidade. Nas situações de disputa, o desejo de propriedade conta mais que o objeto em si.

Nesse processo, é importante ser paciente e mostrar firmeza. Durante as situações de conflito, auxilie a criança ajudando-a a identificar diferentes perspectivas e olhar a situação por outros pontos de vista. Se for a disputa por um brinquedo, por exemplo, explique por que o outro não quer emprestar ou sugira que brinquem juntos. Se for um lanche, sugira que troquem um pouquinho para que ambos possam experimentar o que o outro trouxe. O objetivo é envolver as crianças na resolução do problema, para que futuramente ela possa fazer isso com independência. Ao promover essas interações permitimos que as crianças construam sua identidade e reconheçam seu jeito de ser.

(14) Comentários

  1. Luiza diz:

    Muito bom!

    1. Inês diz:

      Excelente texto. Obrigada por compartilhar o seu saber.

  2. Noemi Silva diz:

    Amei o conteúdo!

    1. Marta Paes diz:

      Muito obrigada, Noemi.
      Fazemos com muito carinho.
      Equipe Quem Coruja

  3. mariusa diz:

    Ok, mas faltou citar as idades…….em que idade/meses começa, em que idade pode e deve ser trabalhado… em que idade se espera que desapareça ou se atenue….

    1. Marta Paes diz:

      Olá, Mariusa
      Na Educação, assim como na Medicina, na Psicologia e em outras áreas de conhecimento, há várias possibilidades. Pesquisadores e estudiosos acabam apontando determinadas situações para o mesmo assunto. Há estudos que indicam que a criança já nasce dessa forma. Outros acreditam que a partir de 2 para 3 anos, quando a criança começa a se auto afirmar, é que começa a demonstrar sinais de um egocentrismo. Como escrevi no texto, é importante diferenciar egocentrismo de egoísmo. Não é que a criança seja egoísta. Ela ainda não tem maturidade e vivência capazes de mostrar para ela a diferença do que é dela do que não é. É através das relações, do convívio, das regras estabelecidas em casa e na escola, que a criança vai tendo a oportunidade de internalizar as regras sociais. O momento para você mediar essas relações é desde sempre; com muita paciência e entendendo que a criança faz isso de uma forma muito instintiva, sem intencionalidade. Assim que a criança começa a não querer dividir, querer tomar o que está com o outro, é hora de começar a mediar isso, sempre com respeito e respeitando a idade da criança. Acredita-se que o egocentrismo siga até os 6, 7 anos de idade, quando a região do cérebro responsável por isso começa a amadurecer. É importante lembrar que cada criança tem seu tempo, se desenvolve de uma maneira, e, por isso, não dá para fechar essa faixa etária. Mas de um modo geral, podemos dizer que o egocentrismo costuma aparecer a partir dos 2, 3 anos e começa a ceder a partir dos 6, 7 anos.
      Espero ter ajudado
      Andréa Rodrigues

  4. Aline Alves diz:

    Oi tudo bem com vc?
    E quando percebemos esse comportamento em um bebezinha de apenas um aninho.
    Como devemos proceder, com essa idade ela já da birra quando quer alguma coisa e toma as coisas da mãos das outras crianças sempre repreendo e muitas vezes deixo ela chorar.
    Será q estou certa em fazer isso🤔
    Ou ela ainda e muito bebe pra entender q isso não o correto? O q fazer?!!!

    1. Marta Paes diz:

      Oi, Aline
      Geralmente, o egocentrismo aparece a partir dos 2 anos. Mas se você já percebe esse comportamento na sua filhinha, pode ir incentivando-a a compartilhar, a não pegar o que está com outro. Mas sempre lembrando que é uma fase natural e ela, por ser bebê, ainda não entende o que “é do outro”. Interceda com paciência e carinho.
      Tudo de bom para você e sua bebê
      Quem Coruja

  5. Débora diz:

    Muito claro o texto e também sua resposta sobre as idades. Adorei!

    1. Marta Paes diz:

      Que bom que gostou, Débora!
      Conte sempre com o Quem Coruja
      Tudo de bom!

  6. Susane Oliveira diz:

    Meu filho é bem assim mesmo, ele acha que tudo é dele, não gosta de compartilhar nada com ninguém,
    Não dividi o que é dele.
    Ele é muito carinhoso com todos aqui em casa,
    Mais não aceita que outras pessoas se aproximem dele,
    Que o abrace ou o cheire.
    Ele diz assim:
    “Tudo é meu, é tudo meu.”
    Eu converso muito com ele, pra ser menos brabo,pra ser mais amigo dos outros coleguinhas.
    Mais ainda é muito difícil pra ele.
    Dividir seus brinquedos, Affff!!! Essa é uma tarefa difícil.
    Ele tá nessa idade,de 2 para os três anos.
    Começou a estudar esse ano numa creche,
    Eu quis colocar assim cedo, Justamente pra melhorar esse sentimento de que tudo é dele, que tudo gira em torno dele.
    Pra melhorar principalmente a relação dele com outras pessoas e outras crianças também.
    No início,nos primeiros dias,nossa!!!foi bem complicado pra ele ficar na escola,e pra mim ter que deixá-lo na escolinha

  7. Susane Oliveira diz:

    Feliz em ler esse artigo,
    Quero agradecer a uma amiga,(Thais) que me enviou essa matéria via ZAP,
    Nossa me tranquilizou bastante em saber que não é só ele que é assim,
    E que passa.
    Acho que ela sentiu que eu estava precisando ler sobre isso.
    Obrigada amiga!

    1. Marta Paes diz:

      Que bom, Susane! Espero que você e sua amiga, Thais, continuem acompanhando artigos e matérias do Quem Coruja. Fico muito feliz em saber que gostaram.
      Um abraço e tudo de bom
      Marta

  8. Geovana Gomes Cardoso diz:

    Muito obrigada pelo artigo, maravilhoso!
    Você pode nos indicar quais foram as obras, artigos ou teorias pesquisadas? Gostaria de me aprofundar no assunto.
    Obrigada!

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