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Vou ser pai! E agora?

No homem, o anúncio da gravidez gera um misto de felicidade e preocupação, diz psicóloga

“Meu coração disparou e eu me sentia à beira de um ataque cardíaco, o que sob certos aspectos seria bem-vindo, nem que fosse só para aliviar a sensação de ansiedade. (…) Apesar do choque, a gente sente que é possível se acostumar com a ideia de ser pai, desde que haja o tempo necessário pra tal. Pessoalmente, acho que o tempo necessário para ir tranquilo da notícia da paternidade ao primeiro ultrassom seria de dois a três anos. Doce ilusão”. Foi assim que o blogueiro Renato Kaufmann descreveu a sensação que provocou nele a notícia de que ia ser pai em seu livro “Diário de um grávido”.

Nem sempre o efeito é tão assustador e dramático. Ainda bem. Mas, em geral, de acordo com a psicóloga e doutora em psicanálise pela USP, Priscila Gasparini, no homem, o sentimento que segue o anúncio da gravidez é um misto de sensações como alegria, preocupação, medo da responsabilidade, de não saber cuidar.

O administrador de empresas Anderson Ramalho, pai de Giovanni (14) e Filipe (11) conta que mesmo planejada – ele e a mulher queriam ter o primeiro filho no máximo uns dois anos após o casamento – a confirmação da gravidez gerou preocupação.

– Fiquei muito feliz, claro, mas tive um pouco de medo. Ainda éramos jovens – estávamos com 23 e 24 anos – e eu, na ocasião, não estava com a situação profissional bem definida. Era nosso primeiro filho e assustava pensar na responsabilidade de sustentar e educar – afirma, lembrando que essa tensão já não existiu na notícia da chegada do segundo filho.

O também administrador de empresas Edson Vidal, pai de José Henrique, de cinco meses, concorda:

– Fiquei muito feliz na hora, mas ao mesmo tempo pensava como seria criar e sustentar uma criança.

Para o fotógrafo Leonardo Dresch, pai de Beatriz, de um ano e três meses, o sentimento foi de apreensão diante da mudança que a chegada de um bebê iria trazer para a vida do casal.

– Fazia pouco tempo que tínhamos começado a tentar, mas por mais que esperasse, foi uma ótima surpresa. Na hora bate aquela apreensão diante do novo e da mudança – conta.

De acordo com a psicóloga, os homens demoram um pouco mais para se sentirem a espera do bebê.

– Até poderem perceber a barriga da companheira crescendo, ou seja, ter um dado concreto, visual sobre seu bebê, a gravidez é apenas uma notícia, algo ainda irreal. Para a mulher a sensação é mais real, pois está gerando, e tem sensações físicas.

Além disso, explica Priscila Gasparini, as mulheres têm o instinto materno estimulado desde muito cedo. Já os homens não estão preparados e precisam de tempo para se adaptar.

– Muitas vezes para eles é difícil abrir mão de sua individualidade para se dedicar ao filho. Apesar de toda a emoção e alegria que envolve o nascimento do bebê, o homem pode ter a sensação de estranhamento, de que algo está errado, de que não deveria ser daquela forma. Mas tudo isso é normal. É um processo adaptativo. Ele irá aprender a amar, cuidar e participar da vida do filho, e encontrar seu papel de pai – afirma.

E o parto? Eles contam como vivenciaram essa experiência. Anderson não acompanhou o nascimento de dentro da sala, por não se sentir confortável em ambientes hospitalares, mas relata a ansiedade:

– Ali, ao lado dos parentes e amigos mais próximos, estava muito nervoso. Entretanto, ao ver o bebê pela primeira vez e, especialmente, perceber que ambos nasceram com perfeita saúde, a sensação de felicidade e realização é maravilhosa.

Leonardo registrou todo o parto e cortou o cordão umbilical:

– Acompanhei e registrei tudo. E cortei o cordão umbilical dela. Acho que para os pais, de um modo geral, a ficha realmente só cai nessa hora. Chorei muito de felicidade!

Já Edson não chegou a esperar os nove meses. Devido a algumas complicações na gestação, José Henrique veio cinco semanas antes.

– A expectativa pra ver a carinha dele crescia a cada dia. Acompanhei todas as eco, menos a última, em que a médica disse para minha mulher que teriam que fazer o parto naquele mesmo dia, devido à diminuição da quantidade de líquido amniótico – lembra.

Sobre o parto em si, o administrador conta que foi como se estivesse sonhando:

– Acompanhei o parto. A sensação foi boa, mas meio estranha. Acho que eu estava em transe. Fui encaminhado para um vestiário, para colocar as roupas adequadas e quando me chamaram para sala de parto, já tinham começado. Foi como se eu estivesse sonhando, como se não estivesse ali, de tão mágico que é. Como foi cesárea, a última coisa que saiu foi a cabeça, o que me deixou um pouco apreensivo na hora. Quando vi o meu filho pela primeira vez, foi uma sensação que não tem como descrever.

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