Mesada é um bom instrumento de educação financeira para crianças e jovens
Você costuma dar mesada para seu filho (sobrinho ou neto)? Se sim, saiba que pode estar contribuindo bastante para a educação financeira dele. É o que dizem especialistas em economia. Mas isso só vale, claro, se o dinheiro estiver acompanhado de valores. O que isso quer dizer? Que, mais importante do que a quantia em real, é o valor que se atribui ao dinheiro e, principalmente, à forma de administrá-lo. E isso vale, inclusive, para as crianças pequenas.
– O principal aspecto a ser considerado é a maturidade da criança. Em cada fase elas lidam de uma forma diferente com o dinheiro. Então, a mesada precisa ser adaptada a cada realidade. Para ganhar mesada, a criança precisa ter uma noção dos fundamentos da matemática e reconhecer o dinheiro. É importante que seja associada à responsabilidade de cuidar do dinheiro e refletir sobre os gastos. Por isso, 6 anos é uma boa referência – diz Patrícia Campos, superintendente de Educação Corporativa da Mongeral Aegon.
Segundo ela, para que a mesada tenha valor educativo ela não pode ser usada, por exemplo, como moeda de troca pelo desempenho escolar.
– Entendo que mesada não deve ser dada em troca de algo já esperado por ser obrigação da criança, como estudar, por exemplo. A mesada tem um propósito educacional. Os pais utilizarão a mesada como uma forma de dar responsabilidade aos filhos sobre o seu dinheiro, trabalhar a autonomia e a relevância de guardar para o futuro, é importante haver uma consciência de curto, médio e longo prazo. Estudar é fundamental para o futuro da criança e independe de receber ou não mesada. Além disso, há um significativo investimento financeiro dos pais para este fim – explica Patrícia, lembrando que há outras formas de associar à mesada ao bom comportamento. – A criança pode ser penalizada por não cumprir com o que se espera dela. Nesse caso, segue a mesma lógica do mundo empresarial. Onde a pessoa pode ser penalizada se não cumprir suas obrigações, mas também pode ser bonificada, caso supere as expectativas. É importante trabalhar essa ideia com as crianças e adolescentes, afinal isso as preparará para lidar com a realidade profissional, e tudo que é combinado, não é caro e nem é barato, é justo.
Uma dúvida recorrente é a quantia que deve ser estipulada para a mesada. Patrícia lembra que ela deve estar de acordo com as condições dos pais e com os propósitos da iniciativa.
– Se o objetivo estabelecido para a mesada é usar esse dinheiro para ir ao cinema, o valor necessário para a atividade precisa ser levado em conta para que seja viável. Não é recomendado que o valor fique abaixo ou muito acima da necessidade – avalia.
Saber economizar, guardar hoje para realizar um desejo mais tarde, é uma das maiores lições que a mesada pode dar.
– A criança precisa aprender também a lidar com a frustração de não poder fazer uma atividade por não ter o dinheiro disponível se utilizá-lo para outro fim. Ela precisa vivenciar que o dinheiro é finito – explica Patrícia.
A mesada também não pode ser usada para cobrir necessidades essenciais que devem ser pagas pelos pais. Trata-se de um dinheiro para a criança, adolescente ou mesmo o jovem administrar por eles mesmos. Veja outras considerações a respeito da mesada, feitas por Patrícia Campos.
Quem Coruja – O valor da mesada deve ser reajustado periodicamente? Com que frequência?
Patrícia – Particularmente, gosto de trabalhar com a lógica do mercado de trabalho, ou seja, anualmente temos dissídio ou reajuste do salário mínimo para fazer frente ao que a inflação corroeu. Essa mesma lógica aplica-se à mesada da criança ou do adolescente. Definir e informar previamente quando será ajustado, podendo coincidir com o reajuste de ganhos da família, e explicar o valor do dinheiro no tempo, é uma boa forma de educá-los financeiramente, sempre adequando a conversa de acordo com o nível de entendimento e assimilação da criança. Cabe dizer que nem sempre o assunto está relacionado a elevar a mesada, o momento financeiro da família pode demandar uma redução. Lidar com naturalidade diante dessas situações ensina, e muito, aos filhos, cortando supérfluos e priorizando o essencial.
Quem Coruja – Alguns especialistas recomendam um valor semanal em vez de mensal para que crianças mais novas tenham mais controle e noção de dinheiro. Qual a sua opinião a respeito?
Patrícia – Educação financeira não trata apenas de como lidar com o dinheiro, mas também entender seu efeito no tempo. Uma criança de 6 ou 7 anos, tem uma noção temporal diferente de um adolescente de 14 anos. Para os pequeninos, a semanada é uma boa saída. Alivia a ansiedade de ter que guardar para seus gastos no mês e permite que visualizem com mais facilidade por quanto tempo devem “administrar” o dinheiro para cobrir o propósito da mesada. A semanada pode evoluir para uma quinzenada até ser uma mesada. Outra vantagem está no fato da criança aprender a lidar com a frustração de ter o dinheiro zerado, mas por um tempo menor e à medida que eleva a maturidade poderá lidar com isso por um tempo maior. A escassez ensina mais do que a abundância. É importante a experiência de ficar zerado. Fixar o dia do pagamento da mesada é relevante, auxilia no planejamento financeiro. A semanada é paga todo sábado ou a mesada todo dia 5, por exemplo.
Quem Coruja – Até que idade os filhos devem receber mesada dos pais?
Patricia – Estipular um tempo máximo para dar mesada é importante. Considero 18 anos o limite. Isso não significa que o adolescente não terá nenhum suporte financeiro, mas que ele deverá aprender a fazer dinheiro. Com 15 anos, o adolescente já pode assumir tarefas que gerem renda, que façam dinheiro. A satisfação pelo dinheiro ganho por meio do trabalho leva o adolescente a dar maior valor ao que tem. Auxiliar o vizinho ou parente a cuidar de uma criança, reforço escolar, auxiliar os pais em um trabalho do escritório, organizar arquivos, lavar o carro, tudo isso evidenciará o valor do trabalho e que o dinheiro (salário) é proporcional à capacidade das pessoas de resolverem problemas.
Quem Coruja – No caso de adolescentes, é recomendável dar cartão de crédito ou apenas dinheiro? Por quê?
Patrícia – Dar o cartão de crédito a um adolescente, é uma opção cada vez mais freqüente. A decisão de dar um cartão de crédito deve considerar a maturidade e responsabilidade financeira quanto ao uso. Os pais devem ensinar sobre como utilizar adequadamente o cartão, o impacto negativo dos juros, os efeitos do pagamento do mínimo do cartão e, supervisionar. Para isso, cartões pré-pagos são um boa dica, o que permite aos pais acompanhar o padrão de consumo dos filhos e realizar recargas mensais.