Participação ativa dos papais nos cuidados com as crianças é bom para o desenvolvimento delas
Acordar a cada choro do bebê, trocar fraldas, preparar mamadeiras e papinhas, dar banho, levar para tomar banho de sol, ninar…A chegada de um filho muda a rotina de muitos homens. Sim, homens. Viver a paternidade sem tabus e preconceitos é a realidade de papais que, como as mamães, sabem que nem tudo é fácil, lindo e maravilhoso, mas trocam o verbo “ajudar” pelo “dividir” quando o assunto é cuidados e educação dos filhos.
– Temos gêmeas, as tarefas precisam necessariamente ser divididas: é, antes de tudo, uma questão numérica. Reconheço, entretanto, que a sobrecarga materna acaba sendo maior, muito maior, absurdamente maior. Isso é injusto e errado. Grave problema geracional: quando eu nasci as mães eram as principais cuidadoras e os pais não colocavam tanto a mão na massa. Eu troco fraldas, dou banho, saio sozinho com as duas, no carrinho; e adoro esses momentos “pai e filhas”, elas também. Poderia ser mais participativo em lavar mamadeiras e arrumar a mochila da creche e, principalmente, com os afazeres domésticos. Leio livrinhos, elas pedem isso para mim. Ponho para dormir, claro. Muito embora nesse quesito elas demandem a mãe, porque ainda mamam. Eu não ajudo, eu crio junto, com todas as dificuldades e os aprendizados – conta o jornalista Emanuel Alencar, pai de Clarice e Aurora.
Para ele, o nascimento das meninas não foi apenas um momento inesquecível. Mas uma mudança intensa em sua vida:
– É uma revolução. A gente precisa reequilibrar o tempo livre, que deixa de ser livre, e isso impacta na relação com o trabalho. Ficamos, por outro lado, menos radicais e raivosos porque agora há seres humanos que precisam de nosso suporte. E passei a dar valor a outras coisas, adoro ficar em casa com Aurora e Clarice e a Maíra, mãe delas.
O dia a dia do auxiliar administrativo Leonardo Rodrigues também inclui os cuidados com os filhos, Letícia, de 11 anos, e Bernardo, de 1 e 10 meses. Leva e busca o mais novo na creche, e, como muitas mamães, trabalha fora e em casa.
– Dou banho, corto as unhas, faço comida, lavo roupa, troco fraldas, brinco com eles. Quando minha esposa tem algum compromisso, eu fico com as crianças numa boa, e sempre de olho no caçula poque ele gosta de aprontar – conta Leonardo, para quem a paternidade também foi uma mudança completa na vida. – Agora minha responsabilidade dobrou. Meus filhos sempre em primeiro lugar.
Participação ativa dos pais nos cuidados com os filhos são mudanças na sociedade
Emanuel e Leonardo não são raras exceções, ainda bem; mas se diferenciam de muitos homens, sim, por dividirem tarefas domésticas e os cuidados com os filhos com suas companheiras. São exemplos das transformações pelas quais a sociedade vem passando ao longo do tempo.
– O papel do pai na sociedade tem se transformado, sobretudo, nas últimas décadas. De fato, a “condição” de pai evoluiu e continua em franco processo de evolução, devido às transformações culturais, sociais e familiares, passando pela fase em que os filhos eram propriedades do pai (com as mães quase sem direitos), e pela fase em que o pai era apenas o suporte financeiro da família. Historicamente, até ao fim do século passado, o pai desempenhava, essencialmente, uma função educadora e disciplinadora, segundo códigos frequentemente rígidos e repressivos. E, a interação entre pai e filho era reduzida, particularmente nos primeiros anos de vida, bem como a sua participação nos cuidados diários à criança. Com as alterações profundas que se deram na sociedade ocidental, como os pais empregados, a composição da família nuclear e as dificuldades econômicas, o pai foi se tornando cada vez mais participativo – afirma a psicóloga Edyleine Bellini Peroni Benczik, doutora em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano pela USP.
Transformações essas relacionadas ao papel da mulher, cada vez mais inserida no mercado de trabalho, e sua busca por condições de igualdade social.
– Um número de mulheres cada vez maior ingressando no mercado de trabalho e conquistando a independência econômica; novos arranjos familiares, com significativa mudança nas relações entre homens e mulheres, como a separação entre papéis conjugais e papéis parentais. Nesta nova redistribuição igualitária dos papéis masculino e feminino, o homem como marido e como pai tem sido o principal alvo de transformação – avalia a psicóloga.
Pai presente: Importância da figura paterna no desenvolvimento dos filhos
Edyleine Benczik destaca a importância da figura paterna para o desenvolvimento da criança.
– A interação entre pai e filho é um dos fatores decisivos para o desenvolvimento cognitivo e social, facilitando a capacidade de aprendizagem e a integração da criança na comunidade. Essas vivências insurgem nas várias possibilidades de construção psicoafetiva, com repercussão nas relações sociais, cognitivas e emocionais. A figura paterna tende a estar cada vez mais próxima de seus filhos. Hoje em dia, os pais estão mais participativos e compartilhando vários aspectos da vida de suas crianças, tanto do ponto de vista emocional, social, quanto cognitivo. A participação efetiva do pai na vida de um filho promove segurança, autoestima, independência e estabilidade emocional. A importância do pai na vida de um filho é inerente às necessidades do filho, ele recebendo ou não os cuidados do pai. Se o filho, recebe os cuidados, tem um pai próximo, afetivo e acolhedor, terá a chance de crescer com uma base segura de afeto, autoestima, estabilidade emocional e com possibilidades de se desenvolver como ser humano mais pleno – explica a psicóloga.
Foto em destaque: Leonardo com o filho Bernardo/Acervo pessoal
Sou casada com o Leonardo e realmente compartilhamos tudo!!
Ele é fundamental em nossas vidas!!
Me sinto privilegiada por ter um companheiro tão presente e amigo.