Licença paternidade de cinco dias é um tempo muito curto para a adaptação da família
“Cinco dias é muito pouco tempo para um homem que acaba de se tornar pai se adaptar à nova família”, afirma a psicóloga Cristiane Moraes Pertusi. No entanto, esse é o tempo da licença paternidade no Brasil. Recentemente, muitas empresas de tecnologia, como Spotify, Netflix e Facebook, ampliaram a duração da licença para os homens trazendo a discussão à tona.
– Cinco dias é muito pouco tempo para iniciar a construção de um vínculo afetivo que será um dos pilares do desenvolvimento do bebê. A mulher começa a ser mãe antes do pai, que só concretiza de fato sua paternidade no nascimento da criança e precisa interromper este processo tão intenso ao fim de cinco dias, sentido-se muitas vezes excluído da relação com a mulher e com o filho – explica a psicóloga, lembrando que o casal passa de dois a três dias no hospital, local onde ocorrem a maior parte dos partos. Com isso, restam de dois a três dias em casa, de fato, para iniciar uma adequação à nova situação familiar.
Desde a gestação fala-se muito do papel da mãe. E o do pai, neste contexto, fica um tanto obscuro. Muitos homens nem sabem que desempenham um papel importante ainda durante a gravidez, dando suporte emocional à mulher e também começando a estabelecer os primeiros vínculos com o bebê.
– Já se sabe que o bebê é sensível, mesmo no período intrauterino, às emoções e sentimentos maternos, e que é capaz de ouvir e reagir a sons, tanto externos quanto internos, a partir da vigésima semana gestacional. É neste período que o pai pode começar a estabelecer um vínculo com o bebê, em conversas feitas através da barriga. As principais necessidades do bebê são afeto e segurança, e mais do que ter um pai, o bebê precisa sentir-se desejado por ele – orienta Cristiane.
Ampliação da licença paternidade pode trazer benefícios para as mamães
É sobretudo depois do nascimento que os vínculos se aprofundam. Os primeiros dias do bebê constituem um período de adaptação no qual pais e filho estão se conhecendo e estabelecendo as primeiras e mais importantes trocas afetivas.
Segundo a psicóloga, a relação estabelecida nestes primeiros dias e meses de vida do bebê é diferente com o pai e com a mãe, mas isso não significa que uma seja mais importante que a outra. O vínculo mãe-bebê é crucial para o desenvolvimento psíquico e físico da criança, mas a presença do pai é fundamental, facilitando as condições para que a mãe possa exercer a função materna da forma necessária.
– É o pai que provê a segurança à dupla mãe-bebê de que tudo vai ficar bem, fornecendo suporte emocional, auxiliando a mulher a pensar com mais clareza em situações difíceis ou angustiantes, participando ativamente de tarefas com o bebê que vão colaborar tanto para a construção de seu vínculo com a criança quanto para que a mãe não se sinta sozinha e sobrecarregada. Durante esses primeiros momentos vão se constituindo as marcas psíquicas, afetivas, primordiais para todo o desenvolvimento futuro da criança – afirma Cristiane Pertusi.
A função paterna é prover segurança, referência, valores culturais, sociais e familiares, e autoridade, o que é fundamental para o desenvolvimento psicológico e cognitivo do bebê, desde o momento de seu nascimento. Por tudo isso, o ideal, de acordo com a psicóloga, seria o pai poder permanecer em casa pelo menos 3 meses, período minimo da acomodação da nova constituição familiar.
– No Brasil, infelizmente, isto está longe de acontecer. Acredito que algo em torno de 30 dias, que não é o ideal, mas é melhor do que o temos hoje, já traria ganhos importantes para pais e bebê – conclui.