Passeios proporcionam aprendizado sobre a cidade
Conhecer a construção histórica da cidade e nossa formação sócio-cultural. Mais do que contemplar pontos turísticos, alguns passeios realizados no Rio de Janeiro proporcionam esse tipo de experiência aos visitantes. Lazer que vira aula de História para crianças e adultos.
Um desses exemplos é o Corsário Carioca, passeio de barco pela Baía de Guanabara, idealizado e organizado por Marcelo Senra. No percurso (a escuna sai da Marina da Glória em direção a Niterói), atores encenam personagens históricos, como Mem de Sá, Villegagnon e Arariboia, contando, de maneira bem lúdica, um pouco sobre a formação do Rio de Janeiro. Além da brincadeira caracterizada, o passeio inclui oficinas sobre especiarias, cartografia e biodiversidade marinha.
– O Corsário Carioca surgiu em 2014, com a ideia de celebrar os 450 anos do Rio, em 1º de março de 2015, com uma encenação na Fortaleza de São João. Eu já lidava com atividades lúdicas, e, após isso, a ideia foi levar a história para a Baía de Guanabara, onde a cidade começou. As crianças aprendem nossa história e a buscar um pouco mais de identidade num momento em que o Rio precisa muito desse resgate de autoestima. Criança adora histórias e o Corsário Carioca é um grupo de contadores da História, que compartilha conhecimento – diz Marcelo Senra.
Além dos oficiais do G-Mar, a tripulação do Corsário é formada por biólogos, escritores, historiadores e professores, todos envolvidos nesta contação da história do Rio.
– Eu me emociono em cada passeio porque é um trabalho feito com tanto amor, entrega, a vontade de compartilhar conhecimento, que é o maior tesouro que a gente tem e é a única coisa que a gente leva, isso é o que mais motiva – diz Marcelo.
Outro projeto que tem o Rio como foco é o Turista Cidadão, promovido pelo curso de Turismo da Universidade Estácio. Para Carlos Eduardo Guimarães, o Kadu, idealizador e coordenador do projeto e do curso de Turismo da Estácio, os passeios guiados pela cidade contribuem para a preservação do patrimônio.
– Acho uma experiência super válida para crianças a partir de 9, 10 anos quando já começam a trabalhar nas escolas algumas questões levantadas pelos passeios. Trata-se no fundo de um projeto de Educação Patrimonial e esse viés educacional pode ser muito estimulante para crianças, principalmente se moram no bairro que será “explorado”. É um projeto que busca resgatar a memória urbana dos bairros para gerar uma relação de afinidade cada vez maior entre moradores e o patrimônio arquitetônico, histórico e cultural de locais. Considero isso vital para que as futuras gerações possam valorizar suas origens e possam desenvolver um olhar mais vigilante sobre o que deve ser preservado. Afinal só amamos e protegemos aquilo que bem conhecemos – afirma.
O toque lúdico nos roteiros do Turista Cidadão fica por conta da viagem virtual ao passado dos locais visitados.
– Durante os tours, trabalhamos a ideia de viagem no tempo através do aplicativo digital para ser utilizado durante o passeio com fotos, pinturas, matérias jornalísticas do Rio antigo. Trata-se de um conceito que se aproxima de uma experiência de Realidade Aumentada, tão em voga no momento – avalia Kadu.
O Turista Cidadão tem passeios mensais, sempre por bairros diferentes do Rio.
– Concentramos uma atenção maior sobre bairros mais antigos da cidade tentando uma alternância entre áreas da Zona Sul, Zona Norte e Centro. Este ano, por exemplo, já fizemos Lapa, Praça Tiradentes e Largo da Carioca, Leblon, Copacabana e, além de Santa Teresa, faremos Laranjeiras e Vila Isabel – conta o coordenador.
Para Carolina Madeiros, professora de História e mãe da Luiza, de 9 anos, as crianças se beneficiam muito com este tipo de lazer.
– Esses passeios são de extrema importância para as crianças. Conhecer sua cidade, suas histórias, seu passado, vivenciando esses espaços que conservam consigo a memória é um programa cultural dos mais ricos. E, certamente, dos mais divertidos – avalia.
Da mesma forma, os passeios promovidos por escolas são de grande utilidade pedagógica, pois permitem uma aproximação, uma interação com o conteúdo dado em sala de aula.
– A maioria das escolas hoje se utiliza do recurso pedagógico dos passeios ou trabalhos de campo. As percepções sobre o ensino da História modificam muito com essas aulas. Os alunos amam. O passeio é rico em interação, conhecimento da região, da história e dos locais de memória. Muitos não têm a oportunidade por questões sócio-econômicas ou sócio-culturais de visitarem esses locais com as famílias. Lembro de um passeio que sempre fazemos à Tiradentes e de muitos alunos falarem serem esse o primeiro circuito histórico que fizeram – diz Carolina, destacando o avanço do ensino de história nas escolas. – A decoreba tende a ser coisa, de fato, do passado. Objeto histórico a ser estudado. Trabalhamos com fontes concretas, visitas e passeios, compreensão da dinâmica histórica com suas mudanças e permanências. Independente da linha ou tendência historiográfica que se escolha, poucas hoje valorizam factual e decoreba.
Foto em destaque: Atores do Corsário Carioca/Andréa Antunes