Depressão, a doença do século, afeta cada vez mais crianças e adolescentes
Tristeza, medo, isolamento. Esses são alguns dos problemas enfrentados por pessoas com depressão, doença que afeta cada vez mais crianças e adolescentes, e já está sendo chamada de a doença do século XXI. A atenção da família e a capacitação adequada de pediatras são imprescindíveis para o tratamento e recuperação dessas crianças e jovens. Mas por que a depressão tem aumentado na infância e na adolescência?
Um dos fatores que podem estar afetando bastante a saúde desses jovens é o uso excessivo de telas (celular, tablets, videogames…). Estar conectado o tempo inteiro no mundo virtual acaba desconectando a criança e o adolescente do mundo real. E isso vale também para os pais e responsáveis, muitas vezes atentos aos celulares quando deveriam estar olhando para os filhos.
– O que assusta é que a depressão está chegando precocemente. Crianças estão tristes e até com ideias suicidas. O que está acontecendo? É comum ver num restaurante, por exemplo, o pai no celular, a mãe no celular e o bebê de apenas 1 ano com um tablet. Falta o olho no olho, o abraço, o almoço de final de semana com a família reunida – diz a pediatra Alda Elizabeth Iglesias Azevedo, presidente do Departamento Científico de Adolescência da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).
Segundo a pediatra, não se trata de ser contra a tecnologia, mas de reconhecer a influência dos meios digitais como um dos motivos da depressão na infância. Há outros fatores de risco, como problemas emocionais graves durante a gestação, violência física, verbal ou emocional, abuso sexual, bullying, terceirização nos cuidados e horas insuficientes de sono para a faixa etária, para citar alguns.
– Já há estudos que abordam a questão desde o pré-natal, se o bebê foi rejeitado na vida intrauterina, como foi a amamentação, o acompanhamento na pré-escola, entre outros fatores – diz a médica.
Depressão tem aumentado entre crianças e adolescentes
Fato é que a saúde das crianças e adolescentes está pedindo mais atenção, e isso se comprova nos hospitais. De acordo com a SBP, as internações de adolescentes com idade de 10 a 14 anos por doenças mentais e comportamentais aumentaram 107% na última década, no Sistema Único de Saúde (SUS). Quase 25 mil casos. Entre 15 e 19 anos, foram mais de 130 mil internações. Segundo levantamento da Sociedade Brasileira de Pediatria, com base em dados do Ministério da Saúde, muitas dessas internações podem estar relacionadas ao aumento de casos de depressão – apesar de se considerar também questões como a maior procura por assistência médica e o aperfeiçoamento das notificações. De qualquer forma, são crianças e jovens que vão parar nos hospitais por conta de transtornos mentais.
A depressão apresenta vários sintomas e é assim também na infância e na adolescência: baixa autoestima, distúrbios do sono, desinteresse pelas atividades habituais e até por brincadeiras, dificuldade de concentração, mudanças no apetite, e mesmo pensamentos suicidas. Como para qualquer outra doença, quanto mais cedo e acertado for o diagnóstico, melhor. Por isso, pediatras precisam estar capacitados para diagnosticar a depressão. Procurar saber sobre o comportamento na escola, como a criança reage em momentos de tristeza e o tipo de interação que ela tem com a família ajuda esses profissionais a fazerem o diagnóstico correto. O tratamento costuma ser feito com psicoterapia, e, apenas em casos mais graves, com medicação. Além da família, que precisa ser o porto seguro dessas crianças e adolescentes, e dos médicos, adequadamente capacitados para o diagnóstico e tratamento da depressão, os professores podem e devem ajudar, estando atento aos comportamentos das crianças e dos adolescentes na escola.
Sintomas de depressão podem ser confundidos com as mudanças de comportamento na adolescência
Os sintomas da depressão na infância e na adolescência não são muito diferentes dos que aparecem na fase adulta. Mas podem ser subestimados, pois muitos pais confundem com manha ou acham que é uma fase e vai passar. Além disso, mudanças hormonais e na maneira de interagir com o mundo são características da adolescência, e nem sempre é fácil para a família distinguir o que é próprio dessa fase dos sintomas de depressão. Não raro, adolescentes machucam o próprio corpo como maneira de expressar seu sofrimento.
– O comportamento dos adolescentes pode mascarar os sintomas de depressão e alguns partem para a autoagressão. Eles mesmos dizem que a dor da alma é pior e preferem a dor física. E isso não é para chamar a atenção, mas uma forma de manifestar que algo não está bem. Alguns ficam até dependentes disso – alerta Alda.
Tempo adequado para o uso de mídias digitais é importante para a saúde
A Sociedade Brasileira de Pediatria considera a depressão uma questão de saúde pública e já está trabalhando com propostas de políticas públicas para prevenção e tratamento da doença. Sobre o uso de telas, a Sociedade Brasileira de Pediatria e a Academia Americana de Pediatria recomendam limites de tempo para cada faixa etária. Para crianças menores de 2 anos, a recomendação é que não haja nenhuma exposição a mídias, “pois as evidências das pesquisas mostram que as interações sociais com os cuidadores são muito mais eficazes e estimulantes para o desenvolvimento da linguagem, da inteligência, da interação social e das habilidades motoras”, segundo o manual de orientação intitulado Uso saudável de telas, tecnologias e mídias nas creches, berçários e escolas, publicado em junho deste ano.
– Crianças maiores devem ficar, no máximo, duas horas expostas às telas, com intervalo – orienta a pediatra.
Mais uma vez, vale ressaltar que não é uma guerra contra a tecnologia. Mas um cuidado especial com uso que se faz dela. Tanto da exposição das crianças às mídias quanto do comportamento dos pais diante delas.
– Os transtornos de comportamento sempre existiram na literatura. Mas esse aumento de casos de depressão na infância e na adolescência é preocupante. A presença das telas influencia o isolamento. E quando os pais ficam só no celular, as crianças crescem num lar onde estão isolados, com TV ligada o tempo todo, subordinados, às vezes, a conteúdos violentos e inadequados – avalia Alda Elizabeth.
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Foto em destaque: Imagem de Myriam Zilles por Pixabay
Pertinente demais o tema!!! Parabéns pro Quem Coruja pela abordagem responsável.