Com o finalzinho do ano chegam também as tão aguardadas férias escolares. Mas, para muitos estudantes, é justamente essa reta final que traz mais ansiedade. As últimas avaliações costumam gerar certo nervosismo e alguns estudantes não “passam direto”. Além disso, há aqueles que se despedem da escola para iniciar o próximo ano letivo em outra instituição. A psicanalista e psicopedagoga Andréa Ladislau explica como crianças e adolescentes são afetados neste período.
Fim de ano letivo – Provas finais, recuperação, cobrança da família
Segundo Andréa, é natural que provas e teste de fim de ano gerem angústias e ansiedades em nossos adolescentes e crianças.
– A pressão de uma avaliação, seja ela qual for, suscita uma maior cautela com a saúde mental e física, visando resultados mais favoráveis para o avaliado. Neste sentido, um trabalho de preparação e auxílio por parte da família e responsáveis em si, é fundamental. Essa rede de apoio deve contribuir para que o ambiente seja o mais harmônico possível, tranquilo e propício à concentração e foco do estudante. A pressão mental já é muito grande, pois envolve o medo do fracasso e mexe com ambições, desejos e autoestima do avaliado. Portanto, quanto menos pressões e cobranças externas surgirem nesse momento, já será de grande ajuda – orienta.
Para ela, a atenção e o apoio da família são muito mais benéficos para a criança ou adolescente do que a cobrança por bons resultados.
– Apontar dedos, julgar, pressionar, cobrar e tumultuar ambientes e o cotidiano do estudante, em nada facilitará para o sucesso da reta final do ano letivo – avalia Andréa.
Ninguém quer ver o filho reprovado, mas é uma situação que pode acontecer.
– Infelizmente, a reprovação faz parte do processo de avaliação. E, certamente, é o maior fantasma de todos os estudantes. Motivo pelo qual, a reta final é tão temida por milhares de jovens em fase acadêmica. Se ela acontece e é preciso mudar de escola, por exemplo, a ansiedade relacionada ao novo, as mudanças e também o impacto motivado pela frustração por ter falhado, ou não se sentir capaz, podem aumentar ainda mais os danos mentais e mexer e muito com as emoções e a autoestima deste indivíduo.
Ainda segundo a psicanalista, estudos mostram que o desenvolvimento de transtornos de ansiedade possui alta incidência neste período do ano.
– Uma ansiedade que será sentida e vivenciada de forma individual por cada indivíduo. No entanto, a grande maioria apresentará sintomas bem característicos. Por exemplo, quando estamos em um estado altamente estressado, nosso córtex pré-frontal – a parte do cérebro responsável pelo pensamento racional – fica prejudicado, então a lógica raramente ajuda a recuperar o controle. O estado de estresse te impede de pensar com clareza e dificulta a comunicação com as pessoas. Além disso, esse estado de estresse vai dificultar a concentração, o foco e assim poderá alterar o humor, provocando irritabilidade excessiva, assim como problemas com apetite e com o sono. Alterando até a forma como respiramos – explica Andréa.
Fim de ano letivo – Mudança de escola
Mudanças, geralmente, causam alguma ansiedade. Quem vai começar em uma escola nova não se afasta apenas dos colegas, mas de todo um ambiente conhecido. Andréa Ladislau chama a atenção para a importância de ouvir os anseios da criança ou adolescente, e explicar que mudanças acontecem e podem trazer muitas coisas boas:
– É muito importante acolher essa criança ou adolescente para as mudanças que possam vir a experimentar. Favorecer a fala, provocar que essa pessoa externe seus sentimentos, oferecendo apoio, sem julgamentos, mantendo uma escuta ativa e próxima. Tudo isso auxilia e muito na construção da autoestima elevada e no empoderamento deste indivíduo. Além de fortalecer suas bases propiciando a maturidade e a elevação cognitiva, inclusive dos mais novinhos. A preparação pessoal deve partir do princípio de ajudar na conscientização de que as mudanças são necessárias e naturais e que, adaptar-se aos processos faz parte do ciclo natural de vida de todo e qualquer ser humano. O diálogo é muito importante neste momento. Ouvir as angústias e ponderar oferecendo apoio, cuidado e proteção, além de mostrar os pontos positivos que essa mudança pode oferecer, como as novas amizades, novo ambiente, novos professores e aprendizados.
Fim de ano letivo – Enfim, férias!
E as férias escolares são um momento super aguardado. Educadores não recomendam manter rotina de estudos durante esse período, apenas revisões de conteúdo mais próximo da volta às aulas. O descanso também é fundamental para crianças e adolescentes.
– Todos precisamos dos momentos de descanso e relaxamento. Massificar os estudos, quando deve-se buscar atividades que tragam prazer, é um grande erro. Até porque, chega um momento que a mente já está tão saturada e pressionada que não haverá mais produtividade efetiva. O foco não será mais o mesmo e muito menos a concentração. Ou seja, o aprendizado não ocorrerá com a precisão e qualidade necessária. Ao fazer uma pausa de descanso, respeitando o momento de férias, a mente irá “respirar”. As atividades prazerosas propiciam o aumento da produção dos hormônios do bem que fazem com que o as células e os neurônios se sintam rejuvenescidos e com isso, após o período de descanso, poderão vir ainda mais fortalecidos e relaxados para que a nova fase de aprendizado traga resultados positivos mais potencializados, seja para qual for a idade do indivíduo. Portanto é, extremamente, necessário e importante pausar, utilizando com qualidade o período de férias. Pode-se fazer pequenos momentos de revisões apenas perto da volta do ano letivo, mas sem a pressão de ter que dar conta de tudo, para não acumular ansiedade ou cobranças internas desnecessárias – explica a psicanalista.
Foto em destaque: Imagem de Vidhyarthi Darpan por Pixabay