A jornalista Isabel Clemente conta em livro as mancadas e acertos de criar filhos
Quem nunca se sentiu a pior mãe do mundo? Pois então. A jornalista e colunista da revista Época Isabel Clemente resolveu contar os desafios de uma família com filhos pequenos no recém-lançado livro ‘A pior mãe do mundo: uma biografia não autorizada de todos nós’. Tudo, claro, de forma bem-humorada.
Escritas no intervalo da loucura, na paz da madrugada e às vezes com crianças bisbilhotando por baixo da mesa, as crônicas traduzem as belezas e dificuldades do processo de educar e expõem as dúvidas de mães e pais.
– O livro surgiu aos poucos. Em 2009, quando eu trabalhava na sucursal da Época em Brasília e estava no fim da gravidez de Carolina, minha segunda filha, entrei para o time de blogueiras da revista no Mulher7x7, que não existe mais. Foi uma época muito legal. Escrevíamos sobre tudo, e eu comecei a enveredar pelo tema família porque não queria usar a internet como extensão da cobertura que eu fazia em Política e Economia. E aproveitei para dar vazão a algo divertido. O retorno foi muito bom e leitores começaram a cobrar um livro. No ano passado, quando o blog acabou, a editora do site me convidou para ser colunista. Decidi então reunir as melhores crônicas e outras muitas inéditas num livro – conta Isabel.
O título, diz ela, é uma brincadeira não só com a culpa que as mães sentem por não acertar sempre mas também com a primeira vez que se ouve esse tipo de coisa da criança.
– O título do livro espelha esse “susto” que levei num belo domingo de sol quando eu apelei para tentar tirar a filha mais velha da piscina. Como ela não obedecia de jeito nenhum, recorri ao modo “ameaça de castigo” e fui rotulada de a pior mãe do mundo. Simples assim, e eu levei um susto. Como assim? Sou legal à beça. E percebi, nas conversas com amigas, que a primeira vez ninguém esquece. Depois passa. Minha filha mesmo disse que falou da boca para fora. Portanto, eu não me acho a pior mãe do mundo, mas recebi um voto nesse concurso. Estamos muitas mulheres empatadas nesse quesito – brinca.
Como muitas, Isabel tem um dia cheio, repleto de demandas do trabalho, de interesse pessoal e da própria família, e às vezes algo escapa.
– Eu não me sinto bem quando esqueço um compromisso na escola (sim, eu já esqueci num belo sábado de manhã em que estávamos brincando em casa), quando percebo tarde demais que não poderei ajudar no dever de casa, que esqueci de marcar o retorno do dentista. Eu não gosto, por exemplo, quando estou morrendo de pressa e minha filha menor, de 5 anos, vem me convidar para brincar. Agora, filha? Perdi as contas do número de vezes em que fui obrigada a dizer “querida, agora não dá”. Eu não sou adepta dessa tese de que o importante é a qualidade do tempo ao lado do filho. Se o tempo que a gente tem para o filho for miserável, não está valendo não. É preciso deixar de fazer muita coisa sim para dar contar de estar ao lado delas. E isso cansa, como cansa.
Na tentativa de acertar, a jornalista faz questão de botar as meninas para dormir, dar banho quando está em casa, pegar na escola, brincar, propor programas juntos.
– Sou imperfeita mas transbordo amor e afeto em tudo que faço por elas, que são pequenas e prioridades na minha vida e na do meu marido.
Embora as experiências contadas no livro sejam pessoais, Isabel acredita que muitas mães e pais se identificarão.
– A despeito de questões específicas de cada um, dos dramas individuais, das lutas de cada família, que variam de intensidade e objeto, somos universais. Eu não sei o que é estar na pele do outro nem ele tem como viver minha vida, mas quando nos tornarmos responsáveis por outro ser, indefeso, inocente e cheio de amor, nos aproximamos uns dos outros no que há de mais sublime. Nossa intenção é a melhor possível mas só isso não basta. Às vezes precisamos – além de informação – de alguma inspiração para percebermos que não temos o controle de tudo, mas uma ótima oportunidade para nos tornarmos pessoas melhores.