Doença é cada vez mais frequente nos pequenos. Neurologista dá dicas de como prevenir
A enxaqueca vem se tornando uma doença cada vez mais comum entre as crianças. De acordo com um estudo publicado recentemente na revista Pediatrics, da Academia Americana de Pediatria, realizado com mais de 9 mil crianças, 6,7% delas queixavam-se de dores de cabeça frequentes. Em muitos casos, a doença chega a afetar os estudos e as habilidades físicas e motoras. Ainda segundo a pesquisa, as faltas escolares eram bastante comuns entre os que sofriam de enxaqueca. Para prevenir o problema, o neurologista Abouch Krymchantowsky, especialista em dor de cabeça e enxaqueca, recomenda vida equilibrada:
– Sempre que possível, fazer a criança ter vida equilibrada, com tempo bem dividido entre comer, dormir, estudar, descansar e brincar. É recomendável ainda limitar o tempo em frente à televisão, ao videogame e ao computador, uma vez que o uso exagerado destes aparelhos, aliado a poucas horas de sono, são as principais causas de dor de cabeça nas crianças – orienta.
Estresse e ingestão de alguns alimentos, como o queijo amarelo, salsicha, chocolate e frituras, e bebidas como refrigerantes, por conta da cafeína, também são responsáveis pelas crises.
– Nas crianças, a influência alimentar nas crises de enxaqueca é mais marcante do que nos adultos. Isso talvez se deva ao hábito moderno de ingerir frequentemente comidas do tipo fast food, mas também à ausência da maioria dos outros fatores deflagradores das crises nos adultos, como menstruação, estresse do dia a dia, ambientes com ar viciado ou repleto de fumaça e maus hábitos de sono.
O difícil, muitas vezes, é saber se o pequeno realmente tem dor de cabeça, enxaqueca ou se está simplesmente imitando algum parente próximo que sofra de algum destes males para evitar o que não gosta de fazer.
– Se a criança começa a evitar fazer o que gosta por causa de dor de cabeça e não apenas aquilo que lhe é desagradável, é hora de dar atenção às queixas. Se algum parente de primeiro grau tem enxaqueca, então é bem provável que ela também tenha, uma vez que trata-se de uma doença hereditária – explica o neurologista.
A principal causa de dor de cabeça frequente ou recorrente é a enxaqueca. No entanto, a criança pode ter dor de cabeça por vários outros motivos, como sinusite, otite, gripe e pneumonia, mas essas dores findam quando a causa termina.
– Se a queixa de que a cabeça dói não tiver relação com alguma enfermidade ou mal-estar físico, e se a dor sentida é forte e não atenua, é preciso levar a criança ao pediatra.
Estima-se que 4 a 8% dos pequenos tenham enxaqueca e muitos começam aos 5 anos de idade.
– A enxaqueca pode se iniciar entre os 5 e os 40 anos de idade, e 40% daqueles que iniciam a sua dor antes dos dez anos podem entrar em remissão (fim da dor) espontânea durante a puberdade. Os meninos apresentam uma ligeira predominância sobre as meninas na prevalência da enxaqueca, mas isto é revertido após a puberdade, quando começam a ser produzidos os hormônios sexuais e o estrogênio, que sofre oscilações normais durante o mês no sangue das meninas – afirma.
Para tratar enxaqueca em criança, diz o médico, quanto menos remédio melhor. Algumas características como periodicidade das crises, intensidade da dor e grau de incapacidade durante os episódios devem ser observadas para a escolha do tratamento.
– A enxaqueca nas crianças tende a ser mais branda e as crises têm menor duração. Repouso e banho frio costumam ajudá-las nesses momentos. Dessa forma, não é preciso remédios. Atividade física regular ajuda muito, assim como nos adultos. Se há alimentos que desencadeiam as dores, então é preciso evitá-los – alerta.
O médico orienta ainda que a criança seja avaliada por um neurologista para eliminar as causas mais graves da dor de cabeça.