Demora na leitura, troca de letras e dificuldade de interpretação de textos escritos pode indicar dislexia
A criança já passou da fase de alfabetização, absorve bem os conhecimentos, mas ainda encontra dificuldades de leitura e escrita. O quadro pode indicar dislexia, um transtorno neurogenético que dificulta a compreensão, interpretação e memorização por meio da leitura. A dislexia é, na maioria das vezes, hereditária, afeta de 4 a 7% da população, e não tem cura. Mas não é impedimento para o desenvolvimento cognitivo de crianças e jovens.
É na escola, onde o aprendizado pela leitura é mais estimulado e cobrado, que a dislexia costuma chamar mais atenção. Mas crianças disléxicas apresentam alguns comportamentos que podem ser observados em casa.
– Os pais devem se atentar a aspectos relacionados a atraso de desenvolvimento da criança antes de ela chegar a escola como atraso de fala, dificuldades de coordenação motora, pouca aptidão para atividades que envolvem letras e números, incoordenação espacial, esquecimentos frequentes de sequências de pequenas tarefas do cotidiano e de nomes de pessoas ou objetos do dia-a-dia. Além disto, a dislexia tem forte componente genético/hereditário (como estes pais eram na escola) e é mais comum em crianças de perfil hiperativo, prematuros e que tiveram intercorrências no nascimento. Não há cura, pois a dislexia é uma condição disfuncional de aprendizagem e não uma doença. O tratamento deve ser interdisciplinar com intervenções nos atrasos de habilidade fonológica, suporte escolar com medidas educacionais específicas, apoio psicológico e medicações quando há associação com TDAH, por exemplo – diz o neuropediatra da Neuro Saber, Clay Brites.
E mesmo com estes sinais, uma criança só pode ser diagnosticada com dislexia depois de avaliação médica adequada.
– O diagnóstico depende de avaliação interdisciplinar aprofundada com a participação de vários especialistas de áreas diferentes, como neuropediatra, fonoaudiólogo, psicopedagogo e neuropsicólogo. Isto leva tempo e esta equipe deve saber profundamente como conduzir estas avaliações e o que significam as dificuldades de aprendizado, pois se deve excluir várias outras condições que podem estar levando a problemas parecidos com a dislexia – explica o médico.
O mais importante é oferecer à criança todo o suporte necessário para ela levar uma vida normal. E a escola tem papel fundamental nisso.
– As crianças com dislexia conseguem acompanhar o currículo escolar, mas precisam de cuidados pontuais fundamentais para que possam evoluir bem como as outras crianças, como: oralizar as provas, dar mais tempo de prova; permitir uso de tabelas de tabuada e de calculadora nas provas exatas; desconsiderar erros ortográficos ao corrigir a prova desta criança e valorizar somente o conteúdo respondido; acrescentar notas baseadas em trabalhos e pesquisas em grupo; tomar cuidado para não expor a criança a constrangimento, evitando colocá-la para ler em público etc – afirma Brites.