Crianças também apresentam sinais do transtorno, que pode vir acompanhado de depressão
Estima-se que cerca de 9% a 15% da população entre 5 e 16 anos preencherão critérios, em algum momento, para pelo menos um transtorno ansioso, sendo que metade dos casos pode vir acompanhado de depressão. Segundo a psicóloga Ana Paula Magosso Cavaggioni, da Clia Psicologia e Educação, em crianças os quadros mais frequentes são os transtornos de ansiedade generalizada (TAG), de separação (TAS), de pânico, e também de fobias específicas ou social. E, apesar de serem mais frequentes em meninas, também ocorrem em meninos.
A ansiedade é um sentimento natural em qualquer etapa da vida. O limite da normalidade está no impacto que provoca na vida da criança.
– Na criança, a ansiedade pode acompanhar a separação dos pais, o desempenho escolar, as relações interpessoais, mudanças de casa, de escola, nascimento de irmãos. O limite está no impacto que essa ansiedade representa para a vida dela. Daí a importância da observação em casa – orienta a psicóloga.
Crianças excessivamente preocupadas, com queixas frequentes de dores de cabeça, náuseas, vômitos, diarreia, falta de ar, palpitação, dificuldade de concentração, irritabilidade, agressividade, medos excessivos, problemas para dormir ou sonolência excessiva, alteração de apetite, inquietação ou fadiga durante o dia, precisam ser avaliadas por um profissional.
– A ansiedade e o medo passam a ser reconhecidos como patológicos quando são exagerados, desproporcionais em relação ao estímulo, ou qualitativamente diversos do que se observa como norma naquela faixa etária e interferem com a qualidade de vida, o conforto emocional ou o desempenho diário do indivíduo – alerta.
A psicóloga explica que o desenvolvimento de transtornos ansiosos é resultado da interação de múltiplos fatores, como a herança genética, o temperamento do sujeito, o tipo de relação estabelecida com os pais desde o nascimento, e também a criação somada às experiências individuais da criança.
– A ansiedade infantil pode ser causada por problemas emocionais e psicológicos, alterações nos transmissores químicos cerebrais, doenças de tireoide e infecções. Observa-se também uma predisposição genética, ou seja, filhos de pais ansiosos ou depressivos têm maior predisposição à desenvolver transtornos ansiosos – afirma.
Os diagnósticos começam a ser realizados por volta dos cinco anos de idade. Porém, diz ela, é possível identificar sinais de ansiedade patológica e de outras psicopatologias da infância desde muito cedo, ainda na primeira infância (de 0 a 3 anos). Portanto, os pais devem estar sempre atentos para identificar mudanças no comportamento do filhos.
– Geralmente, os sinais estão presentes muito antes do diagnóstico, que acaba sendo feito quando a criança já frequenta a escola. Por isso, é importante que os pais busquem um psicólogo infantil sempre que tiverem alguma suspeita, pois quanto mais cedo é realizada a intervenção, melhores os resultados e menor a exposição da criança ao sofrimento, o que diminui o risco de comorbidades – explica, lembrando que a ansiedade não cuidada pode caminhar para um quadro mais grave, como uma depressão. – Promover a saúde mental da criança, tratando sua ansiedade excessiva ou qualquer outra dificuldade que apresente, é o melhor caminho para uma vida adulta saudável.
O tratamento normalmente consiste em psicoterapia, orientação aos pais, intervenção familiar, além da intervenção medicamentosa quando necessário. A participação dos pais nesse processo é fundamental. A psicóloga dá algumas orientações:
– Não exija da criança mais do que ela é capaz de oferecer. A diminuição da pressão social e emocional é muito importante.
– Não poupe a criança de executar tarefas que ela já esteja apta a realizar, pois assim vai adquirindo autoconfiança.
– Mantenha sempre um espaço para um diálogo aberto, livre de julgamentos para ouvir o que a criança tem a dizer.
– Separe assuntos de adultos de assuntos de criança, pois há conteúdos que crianças pequenas ainda não têm condições de elaborar, devido ao pensamento concreto.
– Estimule o brincar, pois ele ajuda a criança a elaborar muitos de seus conflitos emocionais.
– Discipline com afeto.
– Criança deve ter vida de criança, não de adulto. Portanto, não sobrecarregue seu filho.
– Busque um psicólogo sempre que suspeitar de que algo não vai bem com seu filho. O que na infância muitas vezes com poucas sessões e alguma orientação pode ser superado, quando não cuidado pode se cristalizar e se torna algo muito mais prejudicial e difícil de tratar na vida adulta.