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Autismo e lazer

Crianças precisam de brincadeiras, passeios, diversão. Mas para famílias com crianças autistas nem sempre é fácil desfrutar momentos de lazer. Mãe de Luciana, 11 anos, e Theo, 4 anos, a psicóloga Elaine Oliveira Boneto sabe bem disso. Com os dois filhos diagnosticados com Transtorno do Espectro Autista (TEA), ela não só busca os melhores lugares para o lazer da família como faz questão de indicá-los, compartilhando experiências no instagram.

– O Diversão e inclusão (@diversaoeinclusaokids) surgiu do tema da minha Iniciação Científica, que era sobre lazer, cultura e esporte para pessoas com necessidades específicas. O primeiro vídeo foi no Parque da Mônica (em São Paulo). Mostrei toda a rotina com meus filhos e duas mães mandaram mensagens emocionadas, dizendo como aquilo mudou a vida delas e das crianças, que nunca tinham ido a um parque – lembra Elaine, que criou a conta há dois anos e tem 10 mil seguidores. – Acredito e sempre defendi que crianças com deficiências invisíveis precisam de lazer. Elas passam horas na escola, horas na terapia, e não têm tempo para o lazer. A infância e a adolescência acabam, e muitas não aproveitam.

Elaine não tinha formação em Psicologia quando recebeu o diagnóstico da filha Luciana, então com 4 anos. Também não tinha ideia do que era autismo e de como seria a vida da menina. Começou a fazer faculdade um ano depois e acabou se especializando em Autismo e em Análise Comportamental. Para ela, tão importante quanto estar num parque, hotel ou restaurante que respeitem as leis de acessibilidade é perceber se há, nesses locais, realmente a vontade de promover inclusão.

Elaine e os filhos, Luciana e Theo, em momento de diversão



– Já tive muitas experiências bacanas. Uma vez, fiz uma virada de Ano Novo no Castelo Park Hotel, em São Paulo. Avisei que tinha duas crianças autistas e logo nos colocaram no primeiro andar para facilitar o acesso. Depois nos procuraram para explicar que os fogos de artifício tinham sons bem altos, e ofereceram não fazer a queima de fogos por causa dos meus filhos. Até hoje me emociono, porque foi a coisa mais linda que já vi até hoje – recorda a psicóloga.

Autismo e lazer – Famílias buscam destinos mais adequados às necessidades das crianças

Apesar de algumas preocupações, outros pais de crianças autistas procuram, assim como Elaine, proporcionar momentos de pura diversão aos filhos. Para a jornalista Carol Brandão, mãe de Theo, 5 anos (foto em destaque), e João, 11 meses, “o que vale é experimentar e não limitar”:

– O que funciona para o Theo pode não funcionar para outras crianças, pois o espectro é enorme. Mas a dica é experimentar, dar a oportunidade de conhecer, e não se frustrar se não der certo.

Carol também chama a atenção para a importância de estar atento ao que agrada e ao que incomoda a criança.

– Na hora de escolher um destino, é considerar o que regula e desregula a criança. É observar e conhecer seu filho, perceber os momentos que ele fica mais super estimulado ou mais nervoso. Conhecer a criança é meio caminho andado para fazer qualquer passeio – avalia Carol, que não tem dúvidas de que praia, piscina e parque aquático são sempre sucesso para Theo, que também adora água, mas também curte parquinhos e fazendinhas.

Autismo e lazer – Quanto mais informação melhor

O músico Alessandro de Brito busca o máximo de informações sobre os lugares antes de levar a filha Ana Flávia, de 11 anos, para se divertir. E procura sempre compartilhar tudo com antecedência com a menina, com diagnóstico de TEA aos 3 anos.

– Sempre gosto de antecipar as viagens com a Ana, mostrar como iremos, o tipo de transporte, o tempo de viagem, e as imagens de onde vamos ficar. Mas confesso que ficamos sempre bem receosos com o que vamos encontrar nos lugares visitados. Sempre procuramos mais informações sobre os locais: tipos de espaços, acesso a Internet nesses espaços, possibilidades de flexibilidade de horários e uso de equipamentos – diz ele, para quem o “combinado nunca sai caro” – Para nós, sempre vale a pena colher o quanto for possível de informações, ver comentários de pessoas que já estiveram no local e, em caso de dúvidas ou necessidades específicas, fazer contato prévio.

E os cuidados valem a pena. O parque Beto Carrero, em Santa Catarina, foi uma ótima experiência para Alessandro, que também é pai de João Gabriel, 19 anos, e João Henrique, 12 anos.

– Fomos ao Beto Carrero World e o Passaporte Kelly é simplesmente perfeito para os beneficiados e seus familiares. Desconto no ingresso, prioridade nas filas e possibilidade de inclusão de acompanhantes fazem com que a experiência para todos seja inesquecível. Na minha opinião, esse programa devia ser uma referência para todos os envolvidos em turismo, hospedagem e diversão – elogia.

Alessandro e os filhos num passeio em família

Autismo e lazer – A diversão é necessária e possível para famílias com crianças autistas

Elaine Boneto já deixou de ir a muitos lugares e já se decepcionou com a falta de estrutura e/ou preparo em outros. Carol Brandão já precisou sair no meio de apresentações de teatro porque o filho Theo ficou incomodado. Mas elas e outras mães e pais de crianças autistas sabem o quanto ´é importante não desistir.

– O autismo precisa de previsibilidade. Já deixei de ir a muitos lugares por falta de informações. Pessoas com necessidades invisíveis enfrentam barreiras atitudinais. Os lugares precisam ver que tem mães que ficam no banheiro tentando controlar a crise de uma criança, o que é perigoso e anti-higiênico. No Parque da Mônica, tem a Sala do Silêncio, com tatame e cores mais neutras. Para o autismo, isso é muito importante – avalia Elaine.

Buscar informações e não ter medo de experimentar são as dicas dessas famílias.

– Tudo vale a pena. Praias, clubes, parques de diversão, pousadas, casas alugadas. Ter coragem e disposição para que diante da relação tentativa x erro, não olhar apenas para o que não deu certo, mas que toda experiência é válida e tem o poder de criar vínculo familiar, independência e e crescimento para todos – diz Alessandro.

Leia também Olhar científico sobre o autismo, Autismo e os desafios das mudanças na pandemia, Autismo em livro.

Foto em destaque: Carol e o filho Theo num passeio em Angra dos Reis

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