No mês dedicado à conscientização do autismo, é preciso falar de como o distanciamento social imposto pela Covid-19 têm afetado famílias de crianças com autismo. A mudança de rotina, sentida por muitos, é um desafio ainda maior para autistas. E depois de um ano de pandemia, profissionais de saúde mental destacam a importância do apoio e atendimento aos cuidadores.
– O que tem sido mais difícil para essas famílias é a dificuldade de se adaptarem a uma nova rotina, principalmente, em relação ao cuidado com as crianças. Há sempre um esforço muito grande para estimular a criança, e muitos pais acabam se sobrecarregando. Tem a questão de trabalho, demanda de casa, e isso sobrecarrega muito as famílias, é importante termos um olhar para isso – ressalta Karina Frizzi, psicóloga e analista de comportamento do Grupo Conduzir.
A advogada Tatiana Teixeira Takasu fez o possível para adaptar a casa às necessidades do filho Miguel, de 10 anos, que, com a pandemia, não pôde frequentar a escola e fazer outras atividades a que estava acostumado. Mesmo tendo liberado espaço para ele brincar, e até comprado cadeira e carteira escolar para que as aulas online fossem menos sentidas, Tatiana sabe que a nova realidade é difícil para o filho.
– Nesse período de pandemia, não posso dizer que criamos uma nova rotina, até porque, as crianças autistas têm muita dificuldade em se adaptarem há uma rotina totalmente diferente daquela que elas já estão acostumadas. No entanto, fomos obrigados, como diz o ditado popular a “arrumar o avião voando”, ou seja, nos adaptar à nova realidade – diz Tatiana.
Como ela, muitos pais estão tentando lidar com as necessidades específicas das crianças dentro das restrições da pandemia. Para auxiliar neste processo e cuidar da saúde desses pais, o Grupo Conduzir faz atendimento remoto a cuidadores de crianças com autismo.
– No nosso trabalho como terapeutas, em nossa clínica, sentimos a necessidade de ter um momento semanal com os pais, que se dedicam tanto aos filhos e passam grande parte do dia com eles. Elaboramos um “Treinamento para Pais” de maneira remota e, durante a intervenção, os pais são constantemente orientados pela equipe. Um momento onde podemos ensinar mais um pouco sobre como os cuidadores podem ajudar os filhos a aprender novas habilidades, manejar comportamentos, entre outras coisas. Esse tipo de ação é muito relevante para a qualidade de vida de toda a família – afirma Karina Frizzi.
A sobrecarga costuma ser um pouco aliviada com terapias e conversas. Mesmo sem poder participar tantas vezes quanto gostaria, Tatiana considerou positivas as experiências do atendimento remoto.
– Consegui participar só de algumas terapias online com pais de crianças autistas por conta do stress da pandemia. É muito bom você conversar com um profissional e poder expor seus medos, suas preocupações, os seus sentimentos, ouvir que você não está sozinha, que tem muitas mães e famílias com as mesmas dificuldades – avalia Tatiana, que também é mãe de Sophia, de 3 anos.
Foto em destaque: Miguel e a irmã, Sophia, brincando em casa/Foto de divulgação