Método propõe que bebês comam sozinhos, mas não é endossado como forma única de alimentação
Após os seis meses da amamentação exclusiva, é hora de iniciar a alimentação complementar do bebê. E, de acordo com os alimentos que vão sendo liberados pelo pediatra, as papinhas passam a fazer parte da dieta do neném. Mas o método Baby-led Weaning (BLW), criado pela consultora em saúde britânica Gill Rapley, propõe deixar a papinha de lado e oferecer os alimentos em pedaços para que o bebê mesmo se sirva, com as próprias mãos.
– A proposta é que, por volta dos seis meses de vida, o bebê comece a fazer as refeições junto com a família, sentado em seu cadeirão. A comida é oferecida picada, em formas e tamanhos que ele seja capaz de segurá-la com as mãos e levá-la à boca. Assim, a criança vai comer o que quiser e na velocidade que quiser, sem pressão por parte dos pais, o que a incentiva a ter maior confiança – explica Luna Azevedo, nutricionista materno infantil e sócia-fundadora da Nutrindo Ideais, em São Paulo.
Segundo Luna, o método traz vários benefícios e é bem-visto por especialistas, com nutricionistas comportamentais e psicólogos:
– O BLW estimula a autonomia do bebê, seu desenvolvimento motor, cria uma relação mais positiva e participativa no ato de comer, gerando mais segurança no bebê também. O desenvolvimento dos sentidos, pela cor, textura, sabor e cheiro são também mais trabalhados por esse método, já que a criança pega o alimento com as próprias mãos. O BLW deve ser feito quando a criança já senta sozinha, o primeiro sinal de maturidade gástrica para seus reflexos naturais de engasgue e deglutição de forma autônoma. Nutricionistas comportamentais e psicólogos veem benefícios no BLW pelo desenvolvimento de autonomia do bebê estimulado nesse método e pela relação saudável que a criança desenvolve desde o início com a comida, feita de forma natural e guiada por ela mesma. O ato de misturar muita comida dificulta futuramente que o bebê reconheça o gosto do alimento puro. Então seria superior esse método ao preconizado de misturar papinhas de várias frutas juntas ou sopa de vários legumes juntos. O que acontece muitas vezes é dos pais precisarem fazer uma nova introdução alimentar na criança com 2 anos pois ela não reconhece o gosto das frutas sozinha – avalia a nutricionista.
Ainda assim, lembra Luna, não se trata de um método aceito por todos. A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) lançou no ano passado um guia sobre alimentação complementar, com algumas orientações em relação ao BLW, e as recomendações do Manual de Orientação do Departamento de Nutrologia. A SBP reconhece a importância de as crianças explorarem os alimentos, as texturas, mas não a adoção única do método BLW. De acordo com o guia, “profissionais de saúde e sociedades da Nova Zelândia, Canadá e Estados Unidos não recomendam oficialmente o BLW”, e a própria SBP conclui que “não há evidências e trabalhos publicados em quantidade e qualidade suficientes para afirmar que os métodos BLW ou BLISS sejam as únicas formas corretas de introdução alimentar. As orientações fornecidas pelos autores são coerentes com o desenvolvimento infantil, mas, limitar um processo complexo a uma única abordagem pode não ser factível para muitas famílias, e, portanto, não pode ser endossado – como forma única de alimentação infantil – pelo Departamento de Nutrologia da SBP”.
É bom lembrar também que o BLW é um método de adicionar alimentos complementares à dieta do leite materno ou fórmula, um método de progressão alimentar, e não a substituição da amamentação. As principais diferenças estão no uso da mão do bebê, em vez de colher, e do alimento in natura, no lugar de papinhas e mingaus. Com isso, a escolha desses alimentos também deve ser pensada para permitir que os bebês consigam comer.
– Como o BLW estimula a alimentação em pedaços e não amassados (para que a criança consiga pegar), alimentos muito duros ou pequenos demais ou que a criança não consiga pegar com a própria mão não são tão indicados. Existe uma forma de preparar e cortar os alimentos para facilitar a pega pelo bebê. Feijões podem ser dados em bolinhos para que os pequenos consigam pegar – explica Luna Azevedo.