É hora de ir para a maternidade, mas sem desespero
Grávida da primeira filha, a jornalista Patrícia de Paula aproveitou os últimos dias do barrigão para fazer um ensaio fotográfico. A sessão de fotos, feitas à tarde, no Arpoador, foi do jeitinho que ela imaginava. Mas no início da noite, a surpresa: a bolsa estourou.
– Por volta de seis e pouca da noite, paramos para comer algo. Mal fizemos o pedido, senti aquela água começar a escorrer pelas minhas pernas, de uma maneira incontrolável. Era a minha primeira gravidez, mas não tive dúvidas: minha bolsa havia estourado. A partir daí foi uma confusão. Funcionários do restaurante tentando me acalmar (eu estava calma, juro!), meu marido saindo em disparada para buscar o carro, as crianças (filhos do meu marido) preocupadas, e aquela água que não parava. Quando meu marido chegou, veio junto um carro de polícia, que foi abrindo caminho até o Hospital Miguel Couto, no Leblon. Em plena hora do rush, tudo parado. Parecia uma cena do filme “Velozes e furiosos” – conta Patrícia, que hoje se diverte ao relembrar a história.
Quando a bolsa estoura é, sim, hora de procurar um hospital. Mas isso não significa que o bebê já está nascendo. O caminho até o atendimento médico pode ser feito sem a correria vivida pela jornalista.
– Esse tempo (que transcorre entre a bolsa estourar e e o bebê nascer) é muito variável e, na maioria das vezes, o parto não acontece repentinamente. Em qualquer situação, é obrigatório ir para o hospital, mas não é necessário “correr” – diz Jair Braga, ginecologista e obstetra do Hospital Caxias D`Or.
Foi exatamente o que Patrícia comprovou ao chegar no Miguel Couto.
– Fui examinada e me aconselharam a ir para o hospital, em Nova Iguaçu, pois não havia vaga ali e daria tempo tranquilamente. O meu parto não podia ser normal porque a minha filha não havia virado. Ela estava sentada e essa era a minha grande preocupação, na verdade. Atravessamos toda a Avenida Brasil, pegamos a Via Dutra e, então, comecei a sentir as primeiras contrações. Quando cheguei ao hospital, por volta das 21h, consegui ser internada. Minha médica só chegou uma e pouca da manhã, pois estava em outra cirurgia. A essa altura, eu já estava com seis centímetros de dilatação. Corremos para o centro cirúrgico e, às 2h15, Fernanda estreou nesse mundo, uma semana antes do previsto. Perfeita, linda, leonina, e que já chegou chegando – conta Patrícia.
Como ela, muitas outras mulheres já passaram pela situação e, também como ela, ficaram apreensivas. Não é para menos.
– O “estouro da bolsa” antes do parto é tecnicamente chamado ruptura prematura das membranas ovulares ou amniorrexe prematura. Ocorre pelo menos uma hora antes do início do trabalho de parto e complica cerca de 10% dos nascimentos, sendo que quase um terço acontece antes de 37 a 42 semanas – o chamado termo da gravidez. A ruptura prematura das membranas ovulares ocorre de forma imprevisível e seu modelo etiológico é multifatorial. Os principais fatores de risco são antecedentes de parto prematuro, tabagismo, hemorragia antes do parto, infecções, e situações que levem a sobredistensão uterina, como a gestação gemelar e o excesso de líquido amniótico, que ocorre, por exemplo, no diabetes gestacional sem controle – explica o obstetra Jair Braga.
Apesar disso, lembra o especialista, a gestante tem tempo para procurar atendimento médico:
– A maioria dos partos não ocorre nas primeiras horas após a ruptura das membranas, por isso, não é preciso correria, nem desespero para a ida ao hospital. O mais importante é se dirigir à maternidade para receber assistência adequada.
E, claro, ninguém precisa esperar a bolsa estourar para dar à luz.
– O mais comum é que o início do trabalho de parto (contrações frequentes e dolorosas) aconteça sem a ruptura das membranas. Quando isso ocorre é preciso ir para a maternidade, independentemente da ocorrência de ruptura prematura das membranas – orienta o médico.
Veja mais alguns esclarecimentos de Jair Braga sobre ruptura prematura das membranas:
– Pode acontecer em qualquer idade gestacional e quanto mais cedo ocorrer – antes de 37 semanas -, piores serão as consequências da prematuridade do bebê.
– Aproximadamente, um quarto dos partos prematuros está relacionado à ruptura prematura das membranas ovulares. Quando ocorre prematuramente, entre 24 e 34 semanas, é muito importante a internação, com acompanhamento clínico e uso de antibióticos, com o objetivo de prolongar a gravidez.
– Quando acorre antes de 26 semanas, as possibilidades de complicações para o bebê aumentam muito, devido à prematuridade extrema.
– Muitas vezes, a paciente percebe a saída de secreção pela vagina, mas o diagnóstico de ruptura das membranas não é claro. Na maternidade, o exame físico realizado pelo obstetra esclarece a maioria das dúvidas, e, algumas vezes, são necessários testes de laboratório realizados na secreção vaginal para confirmação diagnóstica.