A escritora Janine Rodrigues fala sobre o seu amor pela escrita e o poder da literatura
“É desde criança que gosto de escrever. Quando queria pedir ou contar alguma coisa para minha mãe, escrevia uma cartinha. Na escola sempre gostei de redação e de atividades que envolvessem a contação de histórias. Acho que juntei tudo: o amor pelas crianças, pela escrita e pela leitura.
Sou apaixonada pelo Ziraldo. Tenho enorme admiração por ele. O livro O Menino Maluquinho, do Ziraldo foi e ainda é muito importante em minha vida. Até hoje, quando leio este livro, sinto como se estivesse, de fato, dentro da obra. Ouço a voz do Ziraldo contando a história. O Mauricio de Souza também tem uma importância enorme pra mim. Era viciada nos gibis da Mônica. Aprendi muita coisa importante com as histórias dela. Coisas que levo até hoje.
Acredito que, através da literatura, podemos colaborar para a quebra de preconceitos, formando cidadãos mais conscientes. A literatura possui diversos papeis importantes, e um deles é nos instigar a pensar. Seja na concordância ou na discordância do conteúdo do livro, a leitura nos provoca. É impossível ler e não fazer uma reflexão sobre o que foi lido.
Durante a infância vivenciamos uma serie de novas experiências. Formamos opiniões. Gostamos e desgostamos de um monte de coisas. Acho que em meio a isso tudo o que mais importa é o respeito. E o respeito cabe em todas as ‘’tribos’’. Você não precisa gostar, nem achar bonito. Você pode não entender o gosto do outro, mas você pode respeitar. No caso das crianças, se conseguirmos incutir nelas a importância do respeito, com o passar do tempo certamente este valor ficará cada vez mais sólido e presente em suas vidas.
Além disso, é importante lembrar que uma criança que respeita não oprime o outro. Não contribui para que o outro se sinta inferior. Muitas crianças apresentam comportamento violento e seguem caminhos tortuosos por que não sabem lidar com a rejeição.
‘No Reino de Pirapora’, meu primeiro livro, conta a história de Pirapora, uma menina com aversão a tudo o que é diferente dela. Todavia, Pirapora passou a renegar o diferente a partir do momento em que ela própria se viu como diferente – uma grave catapora a deixou com bolinhas por todo o corpo. Sabemos ser comum que vítimas de bullying, em dado momento, passem de vítimas a algozes, isto é: que imponham aos outros o sofrimento que passaram, dando sequência a esta engrenagem perversa e violenta. Uma criança, no dia do lançamento do livro, me disse que seu irmão também não tinha amigos, assim como a Pirapora. Ela me contou que o irmão era o mais alto e forte da turma, e que o chamavam de Pezão. Para revidar, o irmão, como realmente era o mais alto e forte, batia nos colegas, e por isso não tinha amigos.
Em outra ocasião, uma menina me contou que ela era estranha, igual à Pirapora, por que sua mãe a chamava de pancinha, bombom, ursinha. Certamente esta mãe acredita que está tratando a questão do sobrepeso da filha de uma forma delicada e carinhosa, mas não tem ideia do quanto este comportamento está sendo prejudicial para a menina.
Essas coisas me impressionam muito.
Muita gente pode discordar, mas eu acredito, sim, que todo agressor foi vítima em algum momento. Não que a agressão se justifique por causa disso. Mas acredito que ninguém é mau por natureza. O problema é que o agressor se sente no direito de se vingar do outro, seja esse outro quem for. E a agressividade cresce como pipoca em óleo quente.
Eu quero muito, assim como muitos de nós , que o bullying acabe, mas para isso é preciso fazer mais. Ainda ouço pessoas dizendo que se sentir ofendido por causa de bullying é frescura. Conheço famílias com crianças que sofrem bullying e não recebem nenhum tipo de orientação.
Na verdade estas famílias nem sabem que o bullying é um problema sério, e tanto a criança que pratica quanto a que sofre a agressão precisam de ajuda. A criança precisa ser educada. Se não a auxiliarmos, se não contribuirmos para sua formação, ela vai crescer e se formar sem entender determinados valores, como o respeito. Também é importante compreender que o bullying não segue um padrão. Penso que esta forma de violência está relacionada principalmente ao que eu provoco no outro quando me manifesto. É fundamental entender por que o agredido se sente agredido, pois ele também, embora não tenha de aceitar o bullying, não deve viver em função da agressão do outro”.