A contação de histórias não é um mero passatempo para as crianças, mas uma maneira esmerada de estimular a imaginação e tocar emoções. O Concha de Histórias celebra sete anos desenvolvendo esse trabalho tão rico em cultura e afeto. À frente do projeto está a arteterapeuta e contadora de histórias Vanessa Lobo, que vem publicando uma série de vídeos comemorativos no instagram @conchadehistorias.
– Os vídeos são uma forma de comemorar os sete anos de trabalho do Concha de Histórias, e foram viabilizados pelo edital Arte Escola, da lei Aldir Blanc, uma lei muito necessária que amparou diversos artistas. O Concha de Histórias foi contemplado pelo edital tanto no Arte Escola, direcionado para as escolas municipais, com as ações voltadas para estudantes, quanto no inciso 2, de manutenção de grupos, para o qual fizemos outras contrapartidas, que foram lives no nosso instagram. Em função de estarmos na pandemia, a proposta inicial, que seriam encontros presenciais com crianças do primeiro ao quinto ano, com contação de histórias, música, confecção de brinquedos e brincadeiras, foi transformada em oficina cultural virtual. E, por ser virtual, estamos disponibilizando os vídeos para o grande público. Além dos estudantes das redes municipais, toda e qualquer pessoa pode assistir aos vídeos e desfrutar da oficina cultural – conta Vanessa.
O Concha de Histórias surgiu em 2014, em parceria com a musicista e musicoterapeuta Renata Fracalossi (que não faz mais parte do projeto), e é voltado para a primeira infância. Vanessa e Renata acabaram desenvolvendo o trabalho mais voltado para bebês ao perceberem que havia uma demanda muito grande para esse público.
– Aos poucos, o trabalho foi ficando mais direcionado para bebês, de 4 meses a 3 anos. Antes da pandemia, fazíamos encontros semanais com as famílias, que duravam 50 minutos e tinham sempre o momento de acolhida, quando as famílias chegavam, o momento de história, e o momento da cantoria, quando os bebês experimentavam os instrumentos musicais. Havia sempre também interação com algum elemento sensorial (bolinhas, fantoches, papel celofane, argolas, brinquedos de pelúcia), de acordo com o assunto principal do encontro; e sempre encerrávamos com uma ciranda, mão na mão. Os bebês pequenininhos vinham no colo dos responsáveis – lembra Vanessa.
Esse contato tão importante para crianças e adultos não é possível em meio à pandemia, mas Vanessa continua firme e forte na nobre tarefa de contação de histórias. O trabalho vem sendo desenvolvido ao lado da atriz e musicista Débora Diniz, no Concha de Histórias desde 2018.
– A importância da contação de histórias se dá tanto para a infância quanto para os adultos. É importante a gente semear nosso imaginário com elementos ricos e trazer ludicidade para nossa vida, nosso dia a dia. Quando a criança escuta uma história de desafios, como de João e Maria, ela está experimentando emoções sem, necessariamente, vivenciar aquilo. Ela vai aprendendo que, sim, a vida é cheia de desafios, que às vezes tem coisas que se mostram de um jeito, mas, na verdade, era de outras formas. A gente começa a superar os monstros vencidos nas histórias fazendo paralelo com os desafios que vamos enfrentar ao longo da vida. Tanto as crianças quanto os adultos usam as histórias como inspiração para enfrentar os grandes monstros, os bichos-papões que nos amedrontam, ainda mais hoje, no contexto que estamos vivendo. Politicamente, socialmente, são muitos os monstros que nos aterrorizam, a doença, o descaso com a vida, a falta de cuidado com o humano, especialmente, pelo governo brasileiro. Então, se a gente não fortalece internamente, se não se fala para si mesmo: “eu consigo vencer esse desafio”, fica mais difícil superá-los. A gente precisa da força do nosso inconsciente, buscar no inconsciente coletivo as nossas armaduras de proteção para esses bicho-papões – avalia Vanessa.
Foto em destaque: Divulgação/Marília Cabral