Atenção e apoio da família pode evitar maiores transtornos às vítimas, afirma psicanalista
O mundo virtual atrai muitas crianças e adolescentes, e as redes sociais são a prova de que a galerinha está superconectada. Mas é nesse meio também que várias crianças e adolescentes são vítimas de outras crianças e adolescentes, geralmente, coleguinhas da escola, no chamado cyberbulling. E o que deveria ser um espaço de conversas e brincadeiras, torna-se um lugar de sofrimento, com consequências sérias no mundo real.
– O cyberbullying vem aparecendo com grande frequência, principalmente entre adolescentes, desencadeando depressão, ansiedade e outros problemas – diz o psicanalista Paulo Miguel Velasco, professor de pós-graduação em Psicanálise e autor de três livros relacionados a depressão e transtornos mentais.
Na sua experiência em consultório, Velasco vem notando, nos últimos três anos, um aumento de casos de crianças e adolescentes com depressão por causa do cyberbullying. A psicanálise ajuda muitos deles (cerca de 80%) a superarem os problemas, trabalhando em torno do trauma gerado. Mas há casos, lembra o psicanalista, que é preciso medicação; e situações que vão parar na justiça, tamanho o grau do transtorno causado.
Velasco destaca a importância da família para evitar o agravamento dos problemas. Segundo ele, quando os pais e/ou responsáveis interferem na situação logo no início, as chances de que tudo se resolva da melhor maneira são bem maiores.
– Não precisa ser especialista para ver que um filho está triste. Nós sabemos como é o comportamento de nossos filhos, e se notamos alguma diferença., temos que procurar saber o que está acontecendo. O primeiro passo é o diálogo. Mesmo que ele não fale de imediato, com o tempo, vai se abrir. Como, geralmente, são colegas de escola que praticam o cyberbullying, é importante procurar a direção da escola, que deve entrar em contato com os pais do agressor. Em muitos casos, o problema é resolvido ali mesmo, sem maiores consequências – diz o psicanalista.
A família do agressor, aliás, deve estar tão atenta ao comportamento do filho quanto à família da vítima. Segundo Velasco, é o agressor quem mais precisa de ajuda. Nesses casos, recomenda-se a Terapia Cognitiva Comportamental (TCC), onde se trabalha questões como “você gostaria que alguém fizesse isso com você?”, “seria bom pra você?”, “como você se sentiria?”.
– O agressor é o protagonista do bullying e é ele quem deve ser tratado. Embora professores e diretores de escola não tenham essa obrigação, eles também precisam estar atentos a essas situações e chamar os pais para uma conversa sempre que observarem comportamentos relacionados a bullying. Família e escola são muito importantes – avalia Paulo Miguel Velasco.