Casos de sarampo no mundo cresceram 300%
Neste sábado, 19 de outubro, acontece a 26ª edição do Fiocruz pra Você, com atividades culturais, artísticas e de promoção de saúde. A programação especial no Dia D da campanha contra o sarampo tem por objetivo destacar a importância da vacinação. De acordo com dados da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas/OMS), os casos notificados de sarampo no mundo cresceram 300% no primeiro trimestre deste ano, em comparação ao mesmo período de 2018. Uma das causas desse aumento está na baixa cobertura vacinal em vários países, inclusive no Brasil.
– O Brasil vem enfrentando já nos últimos anos, e não apenas neste ou no anterior, uma queda da cobertura vacinal e queda também da procura pela vacina. São as duas coisas. Tivemos momentos em que houve falta de vacina no SUS, aliada a essa falta de percepção dos próprios profissionais de saúde e da população de que a doença não é mais importante – diz Marilda Siqueira, doutora e pesquisadora do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz).
Processos migratórios e movimentos antivacinas contribuem para aumento de casos de sarampo
Segundo Marilda, é preciso investir mais em capacitação de profissionais, de equipes de saúde, dos médicos de família, e na conscientização da população para os riscos da falta de vacinação.
– Várias causas podem ter contribuído para esse aumento de casos de sarampo no mundo. Uma das principais causas são as baixas coberturas vacinais que vários países do mundo estão enfrentando. Isso se deve a vários motivos, mas, de qualquer forma se não houver um incremento na melhoria das coberturas vacinais tanto da primeira dose quanto da segunda dose, vamos continuar enfrentando problemas ao longo dos anos. O mundo vem enfrentando vários processos migratórios, acompanhados ou não de conflitos econômicos e sociais, e isso vem favorecendo o espalhamento de sarampo. Sabemos que no Oriente Médio, por exemplo, vários países estão em situação de conflito e têm crianças e populações todas vivendo em situações precárias de acesso a serviços de saúde. Nesses locais, as coberturas vacinais são muito difíceis de serem mantidas, e essas populações migram para outros países, levando o sarampo de um país para outro. Foi o que aconteceu aqui. A Venezuela começou uma epidemia de sarampo em 2017 e, devido a grandes processos migratórios, nós importamos o vírus aqui no Brasil – explica a pesquisadora, ressaltando que não se trata de culpar imigrantes – Quando um país recebe imigrantes que vêm com algum tipo de doença, se essa doença se espalha no país, a culpa não é dos imigrantes, é do próprio país que não soube manter as altas coberturas vacinais.
Outro fator que tem contribuído para a queda da cobertura vacinal são os movimentos antivacinas, destaca Marilda:
– As fakenews estão se espalhando muito rapidamente. Tem vários movimentos antivacinas que são movimentos sem embasamento científico. Como várias doenças, a exemplo do sarampo, não estavam mais presentes na população nos últimos 15 anos, pelo menos, a percepção de muitos é que aquilo já não é mais importante e isso encontra um campo fértil para instalação de fakenews, e os pais não tem mais a preocupação de vacinar o seu filho.
Sarampo pode matar. Risco é maior em crianças
Com isso, outras doenças já eliminadas ou bem controladas no país, como poliomelite, difteria, tétano e coqueluxe, podem voltar a apresentar surtos. O surto de sarampo é um exemplo. Trata-se de uma doença que pode levar à morte, principalmente, crianças pequenas.
– A fatalidade do sarampo, normalmente, é maior em crianças porque, em geral, até um ano de idade, elas são mais vulneráveis não só para o sarampo mas para uma série de outras doenças. O sistema imune da criança vai se desenvolvendo ao longo dos primeiros meses de vida e, como o sarampo é uma doença que pode atacar os pulmões, nos primeiros meses de vida as vias aéreas não estão totalmente formadas. Além disso, pelo calibre dessas vias aéreas, os bronquíolos, por exemplo, serem muito pequenos, existe facilidade para entupir, cheio de secreção, criando uma dificuldade respiratória muito grande e um ambiente propício de instalação bacterianas secundárias, podendo levar a pneumonias fatais, principalmente, no primeiro ano de vida – explica Marilda.
O Dia D da campanha nacional de vacinação contra o sarampo acontece neste sábado, 19 de outubro. A campanha é voltada para crianças a partir de 6 meses e menores de 5 anos, que ainda não tenham tomado as duas doses da vacina.
– Quando estamos com surto de sarampo, ou epidemia, como é o caso do Brasil agora, a primeira dose é considerada quando a criança tem 1 ano de idade. O governo também oferece uma dose para crianças a partir de seis meses. Mas vale ressaltar que essa dose (para bebês entre 6 e 11 meses) é considerada dose zero. Quando a criança fizer 1 ano de idade ela precisa tomar a primeira dose e fazer o calendário normal de vacina – reforça Marilda Siqueira.
O Fiocruz pra Você acontece das 8h às 17h. Serão oferecidas cerca de 2 mil doses da vacina tríplice viral (sarampo, rubéola e caxumba), apenas para crianças maiores de 6 meses e até 4 anos, 11 meses e 29 dias. Na Avenida Brasil, 4.365, Manguinhos.
Imagem em destaque: Eddie Souza/Divulgação