Casos se tornam mais frequentes e endocrinologista orienta sobre cuidados
Mais comum em adultos, o diabetes tipo 2 não é tão raro na infância. Atualmente, o tipo 2 corresponde a cerca de 1/3 dos casos de diabetes em crianças e adolescentes. E a frequência na faixa pediátrica tem aumentado de modo significativo dede o fim do século 20.
– Esse aumento é decorrente da combinação de alguns fatores também mais frequentes nesta faixa etária. O sedentarismo aliado a uma alimentação em que predominam produtos alimentícios processados e ultraprocessados, e que por isso costumam ser ricos em açúcar e gordura saturada e trans, tem levado as crianças a progressivo ganho de peso e o excesso de gordura corporal é um fator de risco importante, por levar a uma série de mudanças no metabolismo da glicose, com aumento da resistência à ação da insulina, o que leva ao quadro de diabetes tipo 2. Ainda devemos chamar a atenção para a piora da qualidade do sono nesta faixa etária, e que também colabora para ganho de peso e diabetes – explica a endocrinologista Patrícia Peixoto, membro Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, da Abeso (Associação Brasileira para Estudos da Obesidade) e da Endocrine Society..
O diabetes atinge cerca de 415 milhões de pessoas em todo o mundo. Estima-se que em 2040, 642 milhões terão a doença. Entre crianças, a forma mais comum de diabetes é o tipo 1, que é autoimune (o sistema imunológico ataca as células que produzem insulina, e a glicose não é absorvida). O diabetes tipo 1 é tratado com insulina, atividade física e dieta controlada, e não é tão comum quanto o diabetes tipo 2, que corresponde a cerca de 90% dos casos.
Histórico familiar de diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares e síndrome metabólica são alguns fatores que podem levar crianças a apresentar o diabetes tipo 2, assim como a obesidade e os hábitos alimentares. Para investigar o problema, a endocrinologista recomenda a realização de exames a partir dos 10 anos de idade ou no início da puberdade.
– A partir dos 10 anos já se indica a realização de dosagem de glicose no sangue, após jejum de 12 horas. Se a criança tem fatores de risco, como obesidade, hipertensão arterial ou elevação do colesterol, este exame pode ser indicado antes dos dez anos. Caso esteja normal, a frequência de repetição em geral será anual, mas pode ser diferente de acordo com cada caso. Exames de sangue mais específicos, como teste de tolerância à glicose, podem ser necessários, mas também a indicação será baseada na avaliação de cada caso, individualmente – orienta Patrícia Peixoto.
Diagnóstico e tratamento precoce são fundamentais. Segundo a endocrinologista, embora ainda não se saiba tanto sobre como evolui o diabetes tipo 2 em crianças, a experiência acumulada no tratamento dos adultos é importante para se evitar as complicações para estes pacientes. Um estudo que acompanhou um grupo de jovens com diabetes tipo 2 mostrou altas taxas de complicações e doenças associadas, como hipertensão arterial, dislipidemia, retinopatia e problemas renais, já nos primeiros meses após o diagnóstico.
-Isso reforça que nesta faixa etária o diabetes possa evoluir de modo mais acelerado e que medidas de prevenção e diagnóstico precoce se fazem necessários, para proteger essas crianças do surgimento de problemas mais graves, principalmente renais e cardiovasculares ao atingirem a terceira ou quarta décadas de vida – avalia a endocrinologista.