Carrossel Família

Educação não machista

Coordenador do Observatório do Machismo ressalta o papel da família na educação antimachista

Mudanças na sociedade começam em casa, com a educação recebida pelas crianças. E o combate ao machismo não é diferente. Começa na observação de como educamos nossos filhos, sejam meninos ou meninas. Mas o que é educação machista?

– São características a que a gente acabou se acostumando e internalizando de tratamento diferenciado de meninos e meninas em todas as instâncias. As palavras, as falas, a forma como se olha para meninos e meninas quando, por exemplo, estão tristes ou chorando, a divisão de tarefas domésticas, fazendo uma atribuição do feminino ao cuidado da casa. Todo o trabalho da educação machista é o de configurar aqueles corpos que nasceram com pênis na condição de meninos e atribuir a eles uma série de características que são socialmente desenvolvidas, e, para as meninas, outras características. Fazendo qual divisão? Meninos sendo preparados para serem mais ativos, ousados, assertivos; e meninas sendo preparadas para serem passivas, para serem cuidadas e cuidadoras – relaciona o psicanalista, educador e filósofo Helio Hintze, idealizador e coordenador do Observatório do Machismo (www.observatoriodomachismo.com.br). 

Pós-doutorando  em Formação Antimachista  e Antirracista de Educadores pela USP, Helio realiza diversos trabalhos voltados a essa temática, como os encontros virtuais “Como criar nossas crianças sem machismo?”. 

– Durante o meu trabalho, defendo a seguinte questão: o cuidado, a fragilidade, a assertividade não são características que estão nos genes, elas participam da educação. Então, a educação machista passa num primeiro núcleo de socialização, a família. Tudo que for hoje ensinado a uma criança que ela faz aquilo porque ela é menino ou  que ela faz aquilo porque é menina, participa da educação machista – explica. 

Muitas vezes, as famílias reproduzem falas ou atitudes machistas por falta de conhecimento. Mas alguns avanços também são percebidos. Quanto menor for a associação de características de trabalho e de manifestação de sentimentos ao gênero, menos machista é a educação. 

– Meninos podem ir para a cozinha, podem brincar de boneca. Meninas podem fazer judô, podem ser preparadas para virar astronautas. Toda vez que nós tratamos uma criança de maneira diferente porque ela é “menino” ou “menina”, a gente está internalizando a cultura machista – diz Helio.    

A educação machista também é prejudicial para os homens. “Ter que” agir de determinada maneira, “não poder” agir de outra, pode afetar o desenvolvimento emocional. 

– Para as meninas, há uma melhor lida com a emoção, e para os meninos uma maior rigidez. Isso, lá na frente, acaba invertendo os papéis, Os grandes oprimidos são os homens que não sabem lidar com suas emoções – avalia o educador.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *