Perguntas sobre o assunto são uma oportunidade de criar vínculos com os pais
Por que os meninos fazem pipi em pé e as meninas precisam sentar? Como o bebê entrou na barriga? E como saiu? Essas e outras perguntas – ainda mais difíceis de responder – são feitas por pequenos de diversas faixas etárias por aí. Há quem tire de letra, mas muitos pais são pegos desprevenidos e não sabem como respondê-las adequadamente. De acordo com a sexóloga e educadora sexual Cida Lopes, que há quinze anos trabalha com crianças do ensino fundamental, muitas vezes, quando elas fazem perguntas sobre sexualidade aos pais, elas têm mais interesse em criar vínculos do que em ter acesso à informação em si.
– Tanto nós, adultos, quanto as crianças só conversamos sobre nossas dúvidas com quem confiamos. É preciso entender que a sexualidade não se restringe apenas aos aspectos genitais, mas é uma forma de expressão da afetividade, do carinho, da intimidade, do amor e que ela está presente em qualquer fase da vida de uma pessoa – explica Cida.
Para ela, esperar que os filhos cheguem à adolescência para conversar sobre o assunto pode ser tarde demais, pois queiram os pais ou não, a sexualidade começa a ser construída na infância e recebe influência tanto dos estímulos e informações aos quais as crianças têm acesso a partir de fontes variadas (colegas, livros, internet, comerciais de TV, novelas, outros), quanto da omissão e silêncio de pessoas com as quais convivem e confiam. Em geral, diz a educadora, as crianças começam a despertar para o assunto a partir do momento em que identificam a diferença de sexo. Essas primeiras curiosidades surgem por volta de dois anos e meio a três anos.
– Primeiro, precisamos rever o que é sexualidade. Se pensarmos que ao falar em sexualidade estamos falando em relação sexual, aí surge a preocupação com a idade e com o tempo para abordar o assunto. Na verdade, sexualidade é toda a forma de demonstrar e receber afeto. A relação sexual é um dos itens, em termos de relação, que compõem a expressão do afeto. Uma educação sexual positiva é a educação preventiva e pode evitar sofrimentos, ansiedades, inseguranças e disfunções sexuais psicogênicas futuras, baseadas em crenças e em conceitos errôneos – alerta.
E mesmo para abordar a relação sexual é preciso prestar atenção ao conceito que os adultos carregam, porque a relação sexual é uma coisa natural e deve ser tratada naturalmente, afirma Cida.
– A família que se preocupa com a idade para falar disso mostra que não trata o assunto com naturalidade. Se a questão flui naturalmente na própria família, a criança cresce já tendo contato com os valores que os pais desejam transmitir sobre o assunto. Assim, muitas vezes a dúvida nem vai aparecer, e se aparecer deve ser tratada naturalmente. A menina pergunta por que tem vagina e o menino pergunta por que tem pênis da mesma forma que pergunta por que tem cabelo escuro, ou por que tem olhos claros.
Cida Lopes ressalta ainda que a omissão ou censura, além daquele hábito comum entre os adultos de usar histórias falsas e fantasiosas para responder a esse tipo de dúvida, reforçam o conceito distorcido que ainda vigora sobre o tema.
– Assim, desmistificar e questionar tabus, crenças e preconceitos relativos à sexualidade, a partir do desenvolvimento de respostas adequadas a cada situação e faixa etária, bem como ter a oportunidade de discutir e trocar ideias abertamente sobre o assunto e as relações humanas e ao seu processo educacional devem ser prioridade – afirma.
Como abordar o assunto? De acordo com a educadora, não é preciso antecipar. Caso surjam dúvidas, elas devem ser tratadas com naturalidade. As perguntas sobre esse tema devem ser respondidas como qualquer outra pergunta. As crianças estão descobrindo o mundo e fazem questionamentos baseados nas diferenças e curiosidades que percebem.
– Em muitos casos, a criança nem mesmo sente necessidade de perguntar, pois esclarece suas dúvidas na própria convivência. Mas, se perguntar, é importante ser natural, mesmo quando não sentirmos segurança para responder na hora. Nesse caso, os pais podem mostrar que vão procurar outra alternativa, mas nunca reprovar a dúvida da criança – orienta.
Os pais não são obrigados a estar preparados para tudo, mas precisam mostrar que valorizam a dúvida, e que vão procurar uma solução. Assim, se colocam como um aliado da criança. O primeiro passo, segundo ela, é explorar a pergunta da criança.
– Ninguém faz perguntas sobre um assunto que nunca ouviu falar. Devolver a pergunta, procurando saber o que ela viu, ou o que ouviu falar sobre o que está perguntando é bom para se entender o que exatamente a criança quer saber e, então, responder com naturalidade.
[…] Fadua Matuck 04/02/2014 0 […]