Gravidez Saúde

Fertilização in vitro não é sinônimo de gestação múltipla

As chances de engravidar de gêmeos são de cerca de 20%

Se você é daquelas pessoas que associam a fertilização in vitro à gravidez de gêmeos, trigêmeos e até de mais bebês saiba que as chances de isso acontecer são de 20%. Pois é, no senso comum, a técnica de fecundação – em que o óvulo já fecundado é colocado no útero –  é quase sinônimo de gestação múltipla, mas nem sempre isso ocorre. O que é ótimo, segundo o ginecologista, obstetra e especialista em reprodução humana da Clínica Cegir Dr. Rodolfo Salvato. Ele explica que, apesar de muito bonita, a gravidez gemelar traz mais complicações para mamães e bebês. Por isso, a fertilização deve obedecer o limite da transferência de embriões e ser feita apenas quando há a real necessidade.

– A paciente que se submete ao tratamento de fertilização in vitro tem apenas cerca de 20% de chances de desenvolver uma gravidez gemelar. O grande problema está justamente na comparação que fazemos de “Fertilização In Vitro (FIV) igual a gêmeos”. Mas isso está mais na cabeça das pessoas. Por exemplo, você pergunta para uma mãe que está passando com apenas um único carrinho de bebê se ela fez algum tipo de tratamento? Não. Mas quando ela está acompanhada de gêmeos, a primeira pergunta que fazemos é “nossa são gêmeos, que legal, você fez algum tipo de tratamento?” Então, a resposta é em 20% dos casos, sim. Daí, temos essa falsa impressão de que gêmeos é igual a FIV. Comece a perguntar para as mães que têm apenas um único filho; eu aposto que este senso comum irá mudar, e muita gente se surpreenderá – explica o médico.

O tipo de pergunta citada pelo Dr. Salvato não deverá ser feita com frequência à Laízia Fernandes Cassiano de Lima. A administradora, de 37 anos, é mãe de Mateus, de dois meses e meio; e hoje curte a maternidade depois de passar por quatro tentativas de fertilização.

– Antes de iniciar o tratamento, achava que todas as fertilizações in vitro sempre seriam de gêmeos. A última que fiz foi em abril de 2014, e resultou na minha gravidez. Mas, desde 2012, vinha tentando; foram quatro até conseguir engravidar – conta Laízia, que fez o tratamento depois de descobrir, tardiamente, que sofria de endometriose.

Segundo ela, a gestação não podia ter sido melhor. O acompanhamento médico foi cuidadoso, mas Laízia não teve nem os tão comuns enjoos.

– Minha gestação foi a mais tranquila do mundo, sem enjoos, pressão alta, ou qualquer coisa que pudesse colocar em risco a mim e o bebê. Por ser uma gravidez de um único bebê com certeza facilitou as coisas; se fosse de gêmeos não teria chegado tão longe. Consegui trabalhar até a trigésima sexta semana, ficando somente inchada nos pés e nas pernas, mas fiz drenagem a gravidez toda para ajudar. Meu bebê nasceu com 38 semanas completas. O acompanhamento da gravidez foi como se fosse uma gravidez de risco, tomando todos os cuidados que se possa imaginar, mas a vida foi normal: trabalho, coisas de casa, saídas com o marido, enfim tudo que fazemos normalmente – afirma Laízia.

Os cuidados são mesmo importantes. E começam antes da própria decisão de fazer a fertilização. Há casos em que a técnica não é necessária.

–  A FIV é recomendada para aqueles casais que já passaram por vários tratamentos para engravidar e não conseguiram. A não ser para casos mais específicos, como por exemplo obstrução das duas trompas ou quando o marido não possui espermatozoide ou tem uma pouca quantidade com baixa motilidade. A FIV é a última instância na maioria dos casos, pois se trata de um tratamento de alta complexidade. O grande problema de hoje é que pela ansiedade dos casais, muitos preferem não cumprir as etapas iniciais e partem logo para a última – alerta Rodolfo Salvato.

E como a medicina vem evoluindo, já existe o conceito de “single embryo transfer”, no qual somente um embrião é transferido para o útero. Hoje são dois embriões em pacientes de até 35 anos; três embriões em pacientes de 35 a 39 anos; e quatro embriões em pacientes de 40 anos em diante.

– Este conceito já é debatido há muito tempo nos congressos aqui no Brasil. E, graças a Deus, estamos progredindo em muito para isso. Hoje, muitas clínicas adotam este conceito e já transmitem aos casais. O grande problema para a implantação total desse conceito no Brasil está no seu alto custo e na cultura brasileira de buscar uma gravidez gemelar por achar bonito. Na Europa, a reação das pessoas para uma gravidez desse tipo seria “como foi que isso aconteceu?”, aqui no Brasil a reação seria “são gêmeos? Que lindo!” – avalia o médico.

E para os casais que pretendem se submeter ao tratamento, fica a mensagem de Laízia:

– Não desistam, pois é muito difícil, psicologicamente falando. O casal deve estar coeso e certo do que quer fazer. Todas as vezes que não deu certo era um balde de água fria em nossos sonhos, eu me sentia a mais incapaz das mulheres, mas logo vinha uma vozinha dizendo que eu iria conseguir atingir meu objetivo. O custo financeiro é alto, então deve ser feita uma reserva para arcar com as despesas, deve ser avaliado qual a prioridade do casal nesse aspecto. Paciência para esperar porque pode demorar um pouco alem do que você esperava, já que nem sempre se consegue na primeira tentativa. Confiar no médico é primordial, eles são as pessoas que cuidarão para que tudo corra dentro do esperado, obedecendo todas as orientações, mesmo que as pessoas achem que deveria ser de outra maneira, nessa hora aparece um monte de gente pra dar opinião. O principal é a fé, não importa em que se acredita, é importante se manter firme no onde se quer chegar, sabendo que chegará a sua vez, que você é capaz, que tudo vai dar certo, sem dúvida ajudará  suportar toda a ansiedade do momento do tratamento. Após conseguir atingir o objetivo, prepara-se. Nada será como você imaginou, mas é muito gratificante e sentimento de dever cumprido.

 

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