Gestantes no divã

Acompanhamento psicológico ajuda a lidar com insegurança durante a gravidez

Dúvidas, ansiedade, medo. A gravidez também pode trazer uma série de sentimentos e emoções desconfortáveis. E não se trata de nenhuma anormalidade. É comum, e natural, sentir-se insegura durante a gestação. São muitas mudanças, expectativas, novidades.

– A gestação, como um todo, é um carrossel de emoções – diz a psicóloga Patricia Carvalho Moreira Nunes, que vem desenvolvendo um trabalho específico para ajudar futuras mamães e lidarem melhor com tantos receios, o Programa de Acompanhamento Psicológico à Gestante. – O objetivo é tirar dúvidas, orientar, dar suporte, acolher e ajudar a lidar com sentimentos e emoções para que elas possam viver todo esse período de forma plena, e possam viver a experiência do parto e do puerpério mais tranquilas, mais seguras e mais confiantes na sua capacidade de lidar com a maternidade e todas as mudanças que ela traz.

A proposta não é mostrar que tudo será perfeito, mas ajudar a enfrentar as situações com mais segurança.

– Quando eu falo que o objetivo é viver de forma plena, não me refiro ao mito da maternidade feliz, onde tudo é lindo e maravilhoso. É viver todos os sentimentos que a maternidade suscita; os bons e os não tão bons assim. O objetivo é que elas se sintam acolhidas e entendidas em relação à enorme quantidade de sentimentos contraditórios que elas experimentam, e possam ter um espaço para falar, para aceitar, e para aprender a lidar com eles da melhor maneira possível – explica.

Segundo Patricia, o Programa de Acompanhamento à Gestante utiliza princípios da Terapia Cognitivo Comportamental, que trabalha com o enfrentamento das situações através de reforço positivo:

– O objetivo é mostrar à gestante o “caminho das pedras”, e ajudá-la a lidar com as novas experiências. Com sessões semiestruturadas, discutimos vários temas, entre eles, gravidez e sexualidade, a importância do vínculo materno-fetal, diferenças e semelhanças entre maternidade e paternidade, depressão pós-parto, puerpério etc. Falar abertamente sobre os sentimentos e emoções, torna-se, então, um grande diferencial, algo de grande valia para que mãe e bebê construam, desde a gestação, uma relação saudável de amor e de confiança.

As principais questões levadas pelas gestantes ao consultório costumam estar relacionadas ao tempo de gestação: das dúvidas sobre maternidade, nos primeiros meses, ao medo do parto, no terceiro trimestre.

– Independentemente do fato de a gravidez ter sido planejada ou não, no momento em que descobre que está grávida, a grande maioria das mulheres se vê tomada pela dúvida se está preparada, se será capaz de ser uma boa mãe. No segundo trimestre, quando a barriga começa a aparecer, medos relacionados à mudança corporal são os mais frequentes. Já no último trimestre, quando se aproxima o nascimento, aparecem as questões ligadas às angustias do parto, o medo do desconhecido – conta Patricia.

A psicóloga começou a trabalhar com gestantes depois de atender, a pedido da sobrinha obstetra, uma paciente que apresentava sintomas de depressão.

– Sua história despertou em mim o desejo de desenvolver um trabalho que pudesse contribuir para ajudar as gestantes a enfrentar seus medos, a aceitar seus conflitos, e a estimular os sentimentos positivos, para que elas pudessem embarcar nesta aventura tão importante em suas vidas, com maior conhecimento de si mesmas, e com mais felicidade. Assim nasceu o Programa de Acompanhamento Psicológico. Desde então, tenho tido um retorno muito bom por parte das gestantes que atendo, e fico muito feliz de saber que, de alguma forma, contribuo para a formação de vínculos afetivos positivos, entre mãe e bebê, e possibilito que elas vivam com plenitude a sublime tarefa de ser mãe – avalia Patricia.