Como a pandemia de Covid-19 e o isolamento podem afetar o emocional das gestantes
Mesmo a alegria da gravidez costuma ser acompanhada de certos receios. Mudanças hormonais e fatores externos podem aumentar ansiedade, irritação, medos. A pandemia de Covid-19 e todo o isolamento social necessário neste momento afeta também algo muito importante para mulheres grávidas: a rede de apoio. Não poder, neste momento, estar ao lado de familiares e amigos, principalmente daqueles mais próximos, pode ser difícil.
– Sempre fui uma pessoa muito caseira, mas confesso que estar grávida e não poder visitar ninguém da minha família tem sido bem difícil. Não só por mim. É a minha primeira gestação e, também, a primeira gestação em muitos anos na minha família. Então, creio que todos gostariam de estar por perto. Fazemos vídeo chamada e isso ajuda bastante a diminuir a distância, apesar de não ser a mesma coisa de receber um abraço. Estou fazendo todo o possível para a minha mãe e a minha avó acompanharem cada segundo da minha gestação. Estou em contato com a minha mãe diariamente. Seja por ligação, vídeo chamada, mensagens no whatsapp ou fotos. Não deixo de compartilhar nada com elas. Qualquer acontecimento, por mais simples que seja, faço questão de contar. E assim sinto que elas conseguem acompanhar de mais pertinho todas as mudanças que estão acontecendo – diz a designer de moda e empreendedora Gabriele Siqueira Rodrigues, 32 anos, grávida de gêmeos.
Covid-19: Preocupações e frustrações na hora do parto
Como muitas outras gestantes, Gabriele tem buscado se adaptar da melhor maneira às mudanças que vivemos na sociedade. E essa readaptação é muito importante para saber lidar com possíveis frustrações. Especializada em atendimento a grávidas, a psicóloga Patricia Carvalho Moreira Nunes entende o quanto o momento pode ser delicado para as futuras mamães.
– A grande frustração das mães que vão ter filhos nessas condições de coronavírus é que a família não vai poder ir ao hospital. Os avós não vão poder estar lá. Ninguém vai acompanhar aquele momento, que é um momento muito sublime. Todo aquele evento, todo aquele momento único na vida, que será compartilhado com as pessoas, não vai ter ninguém para ver. Isso acaba gerando frustração. Mas o mundo não é do jeito que a gente imagina que ele é. A gente planeja, a gente sonha, a gente imagina, mas o mais importante é que o bebê nasça bem, tranquilo, que tenha saúde, e que a mamãe fique bem também – diz Patrícia.
A psicóloga tem observado que as principais preocupações mudam de acordo com o tempo de gravidez. No início da gestação, são pendências como enxoval e realização de exames que se destacam. No final, é o medo de como será no hospital na hora do parto.
– Pacientes cujos partos vão demorar mais tempo para acontecer estão relativamente tranquilas. O que percebo mais nelas é uma frustração de não poder sair, e questões que, aparentemente, podem ser bobas, mas que para gestantes são muito importantes: Não vai ter feira do bebê? Não vou poder comprar o enxoval? Vai ter ou não chá de bebê? Essa ansiedade é mais uma frustração por não poderem estar vivenciando aquele momento da gestação qual tal gostariam. Já as gestantes com os partos mais próximos estão numa situação mais angustiante porque vai dando aquele aperto no coração: será que vai ter lugar na maternidade? Minha médica vai estar lá? – exemplifica Patrícia Nunes.
O dia do nascimento do neném tem sido mesmo diferente do que muitas mamães imaginavam, pois as maternidades precisam estar adequadas aos cuidados necessários. Na Perinatal, no Rio de Janeiro, por exemplo, as visitas não são permitidas.
– Estão proibidas as visitas às gestantes, às puérperas e às demais pacientes não gestantes internadas em todas as unidades Perinatal. Estamos estimulando as “visitas virtuais”, através dos aplicativos com recursos de vídeos. Com o controle de entrada e saída de pacientes, é normal que o movimento de pessoas seja menor. Nosso objetivo é evitar aglomerações – informa Renato Sá, obstetra e coordenador geral do Centro de Diagnóstico da Perinatal.
Covid-19: Gestantes podem encontrar conforto na própria gravidez
O que pode ajudar muito neste momento é saber diferenciar dor e sofrimento. Patrícia costuma trabalhar os dois conceitos para tranquilizar e motivar suas pacientes. Existe um problema, um fato, algo que causa uma dor inegável. E existe a maneira como cada um lida com essa dor, enfrentando-a e transformando em algo positivo ou deixando que ela se torne um grande sofrimento.
– Não vou conseguir tirar a dor de ela não ver as pessoas na maternidade, mas podemos trabalhar outras coisas importantes. Quem sabe não seja um momento muito único e exclusivo seu com seu filho? Que bom que vai ser assim. Veja o outro lado. A palavra da psicologia é sempre ressignificar. Tenho trabalhado muito essa diferença da dor e do sofrimento, da frustração e da aceitação de tal como é. A vida pode estar dizendo assim: você vai viver em total plenitude com seu filho e seu marido. Falo que o bebê precisa de muito mais silêncio e tranquilidade na hora que nasce do que um monte de gente entrando e saindo. Procuro ver os aspectos positivos para que elas passem por isso de uma maneira melhor.
Uma boa maneira de lidar com a dor deste momento pode ser buscar conforto na própria gravidez.
– É muito emocionante ver as mudanças acontecendo, minha barriga crescendo, meu corpo mudando. Me distraio vendo e comprando coisinhas fofas de neném. Esses dias mesmo, acho que senti os nenês mexendo. Foi bem rápido e bem de longe, mas foi uma das melhores sensações da minha vida. Minha gestação tem sido um paraíso em meio a toda essa confusão que vem acontecendo – avalia Gabriele Rodrigues.
A psicóloga Patricia Carvalho Moreira Nunes desenvolve um trabalho específico dentro do Programa de Acompanhamento Psicológico à Gestante. Instagram: Patcmnunes
A Perinatal criou um hotline para que as gestantes possam tirar dúvidas sobre os cuidados que devem ter durante a pandemia do Covid-19. Pelo telefone (21) 97684-7001, a paciente também pode obter informações a respeito do atendimento e serviços da maternidade. O serviço funciona das 8h às 17h, de segunda a sexta. Recomenda-se que antes de procurar o serviço de emergência, a grávida converse com seu obstetra e siga suas orientações.
Foto em destaque: Imagem de Sylvie Tinseau por Pixabay