Oncologista pediátrico ressalta a importância da alimentação equilibrada e atividades físicas desde a infância
Fundador e presidente da Associação para Crianças e Adolescentes com Câncer (Tucca), e diretor do Serviço de Oncologia Pediátrica do Hospital Santa Marcelina, em São Paulo, o oncologista pediátrico Sidnei Epelman chama a atenção para alguns cuidados simples com a alimentação e exercícios que podem, sim, proteger o organismo de alguns tumores. Mesmo que não haja fórmula mágica para a prevenção do câncer, muitas pesquisas reforçam a importância de uma dieta saudável desde a infância.
– Estudos apontam que há certos nutrientes realmente capazes de auxiliar na proteção contra determinados tumores. O ideal é que, desde a infância, a criança já se acostume a uma dieta balanceada, com boa oferta de vegetais, grãos e verduras, alimentos que, sugerem muitas pesquisas, ajudam a prevenir alguns tipos de câncer. É muito mais importante se preocupar em evitar os maus hábitos alimentares do que adotar uma dieta à base de tomate pelo resto da vida, por exemplo. Escolha comidas e bebidas que alcancem uma manutenção do peso saudável. Coma cinco ou mais porções de vegetais e frutas por dia. Escolha também cereais e fibras em vez de alimentos industrializados. E limite o consumo de carne processada e vermelha, que estão associadas ao câncer colorretal. Mas não adianta preparar refeições saudáveis para os filhos se os pais consumirem somente alimentos industrializados e ricos em gordura. Para que os hábitos sejam realmente assimilados, é fundamental que a mudança aconteça com toda a família – explica o médico.
Doutor Epelman também vê muitos benefícios na prática de esportes, pois há estudos que mostram que exercícios regulares diminuem o risco de determinados tipos de câncer. E o hábito deve começar cedo. Computador e videogame, segundo o especialista, têm que dar lugar a brincadeiras que movimentem o corpo.
– A recomendação é que a criança faça atividade física num ritmo de moderado a forte de 30 a 60 minutos por dia, cinco vezes por semana. Ela é importante porque ajuda a regularizar alguns hormônios sexuais – no caso dos adolescentes – e a função imune, que são fatores relacionados ao risco de ocorrência de tumores. Esse hábito, mantido até a vida adulta, reduz o risco de câncer. São consistentes as evidências que indicam que mexer o corpo regularmente oferece bastante proteção contra câncer de mama e cólon. Mulheres que se exercitam regularmente pelo menos duas vezes por semana têm um risco 19% menor de desenvolver câncer de mama, antes ou depois da menopausa. Isso significa, em última instância, diminuir o tempo que seu filho passa na frente do computador, televisão ou videogame. Atividade física não precisa ser necessariamente um esporte com disciplina rígida. Só o fato de a criança estar correndo e brincando com os amigos já conta nessa matemática – afirma Epelman.
Sidnei Epelman tem autoridade para falar sobre o assunto – e suas recomendações devem mesmo ser levadas em consideração. Presidente, no Brasil, da Rede Internacional para Tratamento e Pesquisa do Câncer (INCTR, na sigla em inglês) atuando na coordenação de programas em Oncologia Pediátrica, ele trabalha nessa área há mais de três décadas. Ao Quem Coruja ele explicou um pouco sobre os tipos de câncer mais comum na infância e das particularidades do diagnóstico:
– O câncer na infância não é fácil de ser diagnosticado porque mimetiza várias outras doenças comuns nesta faixa etária. Além do fato do câncer não ser uma única doença mas várias, com características próprias. De acordo com dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca), os tipos de câncer mais comuns em crianças e adolescentes no Brasil são: leucemias, com incidência maior na faixa etária de 1 a 4 anos; linfomas, com maior frequência em adolescentes de 15 a 18 anos; e, por fim, em terceiro lugar, os tumores do sistema nervoso central, que acometem as faixas etárias de 1 a 4 anos, 5 a 9 anos e 10 a 14 anos.
Apesar de os pequenos também estarem sujeitos à doença, ela tem, na infância e na adolescência, maior taxa de cura.
– A taxa de cura do câncer entre crianças e adolescentes está em torno de 70% e é maior do que entre os adultos. O tratamento e sua duração vão depender do tipo de tumor e de seu grau de disseminação – diz Epelman.
E o tratamento, como se sabe, vai muito além da medicação. Assistência psicológica e carinho também são indispensáveis. Desde 1998, a Tucca vem atuando para cura e para a melhora na qualidade de vida de crianças com câncer.
– A Tucca foi fundada por mim e por minha esposa, a psicanalista Claudia Epelman, médicos, pais de pacientes e representantes da sociedade civil, com a proposta de elevar as taxas de cura e de melhorar a qualidade de vida de jovens carentes com câncer. O nome teve origem na expressão “Tumor Cerebral em Crianças e Adolescentes”, não mais utilizada pelo fato de a Tucca ter ampliado sua atuação para o tratamento de pacientes com todos os tipos de câncer da infância e adolescência. Desde seu início, temos atuado no diagnóstico, tratamento e reabilitação e também na pesquisa e capacitação profissional, de forma a oferecer acompanhamento multidisciplinar, além de exames e medicamentos de última geração, sem qualquer custo ao paciente e sem fila de espera – conta Epelman, destcando a abrangência da associação. – Com mais de 2.300 jovens assistidos, a parceria da TUCCA com o serviço de oncologia pediátrica do Hospital Santa Marcelina alcança taxas de cura comparáveis aos principais centros de oncologia pediátrica da Europa e Estados Unidos. Este dado é especialmente relevante quando nos deparamos com o fato do câncer, nos países em desenvolvimento, matar mais crianças que a AIDS, Malária e Tuberculose juntos, sendo a segunda causa de morte infantil no Brasil, de acordo a Organização Mundial de Saúde.
Localizada na Zona Leste de São Paulo, a Tucca conta com oncologistas, psicólogos, neuropsicólogos, fisioterapeutas, fonoaudiólogos e assistentes sociais, que acompanham pacientes e familiares durante o tratamento do câncer.
– A escolha do local para atuação da Tucca se deve ao fato de a Zona Leste ser a região de maior densidade demográfica da cidade, próxima a importantes e populosos municípios da Grande São Paulo, de forma que, dos vários outros centros de referência no tratamento do câncer na cidade de São Paulo, a Tucca seja a única na região. O retorno profissional e pessoal é completo. É um privilégio oferecer maior chance de cura para crianças e adolescentes, independentemente de classe econômica, por meio de um trabalho diferenciado.