Crianças também podem cozinhar. Existe até escola para isso
Roberta Furtado e Fabiana Figueiredo estão à frente do Ateliê das Ideias, um espaço onde a culinária é levada à sério de forma divertida. Lá, crianças e adolescentes têm a oportunidade de aprender a cozinhar em cursos direcionados às respectivas faixas etárias. É lá também que são testadas as receitas do programa “Tem criança na cozinha”, do Gloob. As crianças não são o único público-alvo do Ateliê, mas elas foram uma das principais motivações para a casa, que funciona no bairro do Humaitá, no Rio de Janeiro.
– Nossa maior motivação sempre foi aproximar as crianças do universo da comida e da culinária. Na nossa cultura, cada vez mais as pessoas estão se afastando do prazer de comer e da arte de cozinhar. Não temos mais almoços de domingo na casa da avó e muitas famílias não têm sequer uma refeição juntas diariamente. Cozinhar e comer, para muitas pessoas, virou uma obrigação chata que rouba um tempo dos outros afazeres, que teoricamente são mais importantes. Ao oferecer aulas de culinária para crianças estamos aproximando-as do universo afetivo, saboroso e cultural – explica Fabiana.
A empresária chama a atenção também para a importância de os pequenos conhecerem os alimentos e participarem do preparo das refeições para terem mais interesse pela comida.
– Muitas crianças, aliás muitos adultos também, não sabem de onde vem o que eles comem e como esses alimentos chegam ao nosso prato. Muitas das nossas crianças recebem um prato já pronto na hora do almoço com a ordem de comerem tudo e rápido. Não conhecem o que comem e recusam com facilidade o que é oferecido. Cansadas da recusa, a mãe ou a empregada passam a só fazer o que as crianças aceitam, e elas ficam com uma alimentação cada vez mais restrita. O problema aqui não está na comida, mas na estratégia, na forma de oferecer – afirma.
Por conta disso, as aulas no ateliê são, segundo Fabiana, sempre pensadas para apresentar a maior variedade possível de alimentos e diferentes receitas para os alunos mirins:
– Pensamos também em ampliar sempre o repertório de comidas e receitas dessas crianças, pois entendemos que quanto mais elas conhecerem diferentes alimentos e receitas, mais condições elas vão ter de fazer escolhas conscientes a respeito da sua alimentação. Se ela só conhece nuggets, pizza e hambúrguer, é só isso que vai comer mesmo. Se ela for apresentada de uma forma legal a uma variedade enorme de ingredientes e pratos, as chances de sempre escolher o hambúrguer e a pizza diminuem muito, comendo esse tipo de alimentação de vez em quando, como deve ser.
Nas aulas, os pequenos colocam, literalmente, a mão na massa. E, é claro, se divertem enquanto aprendem. Aprendizado, aliás, que não se limita à receita.
– Na aula, falamos um pouquinho de história, de geografia, de cultura e de matemática. Muitos dos nossos alunos aprendem frações no Ateliê antes de aprenderam na escola, pois usamos esse conhecimento para medir os ingredientes da receita. Apresentamos os ingredientes como quem apresenta um brinquedo. Se usamos frutas ou legumes, mostramos inteiros e de preferência sujos para que as crianças façam essa conexão: de que os alimentos vêm da natureza, que teve alguém que plantou, cuidou e agora ele está na nossa casa. Trabalhamos para despertar a curiosidade deles para a comida (ingredientes, utensílios, processos, tipos de cozimento, sabores, hábitos), e no fim da aula eles estão todos orgulhosos da sua produção e querendo provar o que fizeram.
O Ateliês das Ideias funciona desde 2007, e a experiência mostra que crianças e adolescentes se interessam, sim, por gastronomia.
– O interesse das crianças e adolescentes é crescente e, atualmente, muito mais aceito e reconhecido, embora eu ache que sempre houve interesse. A culinária tem um lado mágico, da transformação dos ingredientes, e isso fascina tanto as crianças como os adolescentes. Temos alunos que fazem comidinhas para a família, almoço para Dia das Mães e guloseimas para os amigos. No caso dos adolescentes, saber cozinhar dá muita liberdade. Eles podem usufruir da cozinha de casa com mais autonomia, além de sempre salvarem as viagens com os amigos – avalia Fabiana.