Problemas masculinos estão presentes em cerca de 50% dos casais inférteis, diz urologista
Quando um casal decide que é hora de ter um filho, a demora para engravidar pode ser estressante. É preciso ter paciência e saber quando começar a investigar se há algum problema impedindo a concepção. De acordo com o urologista Marcello Cocuzza, membro do Departamento de Reprodução Humana da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), a infertilidade conjugal costuma ser definida após um ano de relações sexuais desprotegidas sem que haja gravidez.
– Quanto mais tempo um casal permanecer infértil, menor a chance de conceber naturalmente. Portanto, a avaliação deve iniciar tão logo o paciente se apresentar com a queixa de infertilidade – afirma.
É muito comum a mulher procurar seu ginecologista e começar a investigação. Mas, segundo o urologista, em 30% dos casais que não conseguem engravidar, o homem é o único responsável pela causa da infertilidade – sendo que causas femininas associadas às masculinas ocorrem em 20% dos casos. Daí a necessidade do homem participar desde o início desse processo de análise.
– Sendo assim, pode-se dizer que problemas masculinos estão presentes em cerca de 50% dos casais inférteis. Pelo fato de os problemas masculinos serem tão comuns, é essencial a investigação do homem infértil, iniciando-se com um histórico individual e familiar detalhado, além do exame físico completo – orienta o médico.
As causas podem ser várias. A principal delas é a varicocele, ou varizes do testículo, que consiste na dilatação anormal das veias testiculares, principalmente após esforço físico. Essas veias fazem parte do cordão espermático e sua dilatação pode dificultar o retorno venoso provocando disfunção testicular e piora da qualidade do sêmen.
– Hoje em dia, a correção cirúrgica da varicocele é o procedimento mais realizado no tratamento da infertilidade masculina.
Outros problemas comuns são a criptorquidia, que é a presença do testículo fora da bolsa testicular, e também a torção testicular, que pode acontecer na adolescência e provocar isquemia do testículo afetado. Ambos estão associados à diminuição da espermatogênese.
– Além disso, infecções do trato genital masculino tais como prostatite e epididimite, podem levar à obstrução reprodutiva e subsequentemente à infertilidade. História prévia de orquite pós-caxumba também é importante. O acometimento testicular ocorre em 40% – 70% dos casos de caxumba pós-puberal – afirma o urologista.
Segundo o médico, apesar da análise seminal – conhecida como espermograma – sera ferramenta disponível mais utilizada na rotina de prática clínica, o exame possui limitações. Trata-se de uma análise do sêmen e não um teste de fertilidade:
– Aproximadamente 30% dos homens com parâmetros seminais dentro da faixa de normalidade não conseguem engravidar suas parceiras, permanecendo sem diagnóstico da causa da infertilidade e sendo classificados como portadores de infertilidade idiopática – que não se consegue explicar.
O Dr. Cocuzza explica que para avaliar a fertilidade é preciso medir a integridade do DNA, que é essencial para a transmissão de informações genéticas.
– Atualmente é possível medir esse parâmetro no sêmen dos pacientes. A pesquisa de fragmentação no DNA do espermatozoide é especialmente importante nos casais com infertilidade idiopática e naqueles que serão submetidos a técnicas de reprodução assistida.
Apesar de fatores endócrinos serem relativamente raros na causa da infertilidade masculina, o urologista considera importante uma avaliação hormonal (do FSH, LH, testosterona total e livre, prolactina e do estradiol – este último principalmente em pacientes com Índice de Massa Corpórea elevada).
– Existem várias evidências de que a obesidade pode alterar o processo regulador hormonal, e influenciar no mecanismo de reprodução masculina, o que pode resultar em subfertilidade e infertilidade. Entretanto, diferentemente das mulheres, os efeitos da obesidade no sistema reprodutor masculino e seu provável papel na infertilidade ainda são pouco conhecidos. Além disso, os estudos relativos aos efeitos da redução de peso na qualidade do sêmen e nos hormônios responsáveis pela reprodução ainda são escassos – explica.
A boa notícia é que na maioria dos casos é possível melhorar o potencial de fertilidade do homem por meio de medicamentos ou cirurgias. Os tratamentos são em sua maior parte baseados em hormônios e visam aumentar a liberação de substâncias testiculares para incrementar a produção de sêmen.
– No caso da varicocele, por exemplo, a correção por cirurgia é uma ótima opção quando bem indicada, possibilitando a melhora dos parâmetros do espermograma em 60% a 80% dos pacientes e de gravidez em 40% dos casais.