A jornalista Mariana Samor, grávida de Antônia, conta como busca controlar a ansiedade nos livros
“As palavras proferidas para gestantes são vagas, mas sempre muito mágicas, etéreas e espirituais. De fato, na intuição, o raciocínio que se usa para chegar a uma conclusão é puramente inconsciente, o que faz muitos pensarem que trata-se de um processo divino. Até acredito que eu terei esse lado mais naturalmente desenvolvido no processo de criação, mas para controlar minha ansiedade e não me sentir uma mãe perdida logo nos primeiros dias, pesquiso livros que possam me dar algo mais concreto.
Tudo que se encontra para ler aqui é escrita americana ou francesa. Ok, se é o que temos, embarcamos nessa! A primeira leitura com que me identifico é de Pamela Druckerman. Essa escritora americana escreve bem e de modo claro. No seu título “Crianças francesas não fazem manha”, Pamela, que sai de Nova York e vai morar em Paris, se mostra em apuros diante da tranquila forma como as francesas tocam a criação de seus pequenos. E para encontrar seu caminho do meio na primeira gestação, ela investiga não só o que diz respeito às pesquisas e publicações francesas, mas à “mágica” das parisienses para chegar ao sono de uma noite inteira de um recém-nascido. Apesar de o livro apontar algumas coisas sem sentido para nós, com uma criação latina, o modo como os parisienses pensam e agem pode funcionar para deixar a vida da família mais saudável. Não é uma receita, é quase um conhecimento coletivo sobre como cuidar do bebê apostando no equilíbrio perfeito entre ouvir os filhos e deixar claro que são os adultos que mandam. Algo como acreditar que a criança deve entrar no ritmo dos seus pais e não o contrário. Para isso, é preciso observar e deixar o bebê ter sua primeira autonomia: encontrar a solução para pertencer ao mundo novo dos homens sem prolongar a manha. O raciocínio é simples: os franceses não aceitam, logo de cara, nos primeiros dias de vida, digo DIAS, viver em função das chantagens dos seus pequenos. Manha não cola nem com recém-nascido. Eles não os tratam como pequenos reis. Ou seja, se a criança chora no meio da noite é preciso observar e esperar alguns minutos, entre 10 a 15, para saber se é algo como fome ou somente resmungo e manha. Além disso, para eles, o resmungo noturno não é motivo para ser beneficiado com leite materno sempre. É preciso conhecer o cenário primeiro para depois tonar a amamentação como única solução para acalmar o filhote.
Cruel? No primeiro dia pode ser difícil, mas no segundo, já será algo bem mais tranquilo e ocorrerá em um tempo menor. E no terceiro dia, a paz doméstica começa a ser moldada, é o que garante Pamela, que testou o método com a filha. O livro ainda trata de outras questões para evitar o constrangimento social pautados na educação respeitosa ao universo dos adultos. Ou seja, quer fazer parte do mundo? Então terá que esperar sua vez para ser escutado. E mesmo aos quatro meses, as regras de alimentação são parecidas com a rotina dos adultos. O interessante dessa leitura é que Pamela humaniza mais toda essa lógica, porque ela mesma sempre se vê apostando no contrário.
O segundo livro que comecei a ler tem uma capa tosca que mais parece um comercial de margarina dos anos 50, sem qualidade. A trash capa rosa da “A Encantadora de Bebês resolve todos os seus problemas”, sobre o método da inglesa Tracy Hogg, parece uma leitura chata logo de cara. Mas tem um conteúdo bem detalhado no que diz respeito às técnicas da qualidade do sono dos pequenos. Ela usa exemplos, dicas e menos palavras como: ritmo e intuição. Vai direto ao ponto, apesar de tudo parecer uma receita de bolo. Sugere um prontuário chamado de E.A.S.Y:
•Eat (comer)
•Activity (atividade)
•Sleep (sono)
•You (você)
É algo para você registrar sobre sua rotina com o bebê. É bom também para munir de informação seu pediatra, caso seja necessário. A base do livro é investigar o sono da criança para que a mãe tenha algum te
E a última leitura, é sobre apreender a afagar o filhote com a técnica indiana da Shantala. No livro, escrito pelo guru das mães francesas, Frédérick Lebouyer, as imagens são bem ruins, e o bebê exemplo nelas não parece amar tanto a tal massagem, mas já vi na prática a técnica e sei que ajuda e muito acalmar os pequenos.mpo para ela. Mostrar que nada é tão desesperador assim. Também tentar resolver os problemas de mamadas em excesso. Mas é sempre bom lembrar que para cada bolo há uma medida. Do contrário não teríamos tantas diferentes receitas. E é sempre bom tornar leve o elaborar da primeira receita, lembrando que é apenas um experimento. Então, achei mesmo que algumas dicas são importantes, mas não creio que tudo deva ser tão exato na luta de uma boa noite de sono quando o assunto é uma vida.
E aí, adiantou tanta leitura?
Chego ao consultório lotado de grávidas e, como sempre, troco figurinhas com as gestantes. Empolgada com as teorias dos livros, eu começo a despejar o conteúdo nas pobres das mães de primeira viagem que percebo que estão com a mesma cara assustada de quando eu entrei no consultório a primeira vez. Mas ao longo das explicações, o que eu estou dizendo parece fazer sentido. Todas sacam seus Iphones e anotam os títulos. Algumas até me parece que não ter o hábito de ler, mas agora querem se sentir confiantes na preciosa tarefa de ser mãe. Não acredito que ler esses livros seja fundamental para todas as mães, mas para mim foi conforto e confiança. E quem sabe um dia eu ganhe a confiança necessária para dar crédito à frase do pensador alemão, Johann Goethe: ‘Assim que você confiar em si mesmo, você saberá como viver'”.
Mariana Samor é jornalista e aguarda ansiosamente a chegada de Antônia