Confira as orientações do presidente da Sociedade Brasileira de Urologia do Rio sobre a enurese noturna
Se isso já aconteceu com você quando era criança, é provável que se lembre a vergonha que sentiu ao acordar e ver a cama molhada. De acordo com o presidente da Sociedade Brasileira de Urologia do Rio de Janeiro, Dr. Alfredo Canalini, a enurese noturna – eliminação involuntária de urina durante a noite, numa idade onde este controle já deveria existir – é um problema psicossocial bastante traumático para a criança, podendo mobilizar emocionalmente todo o núcleo familiar.
– Castigar a criança por isso só piora a situação – alerta o médico.
O especialista explica que, ao nascermos, nosso sistema nervoso não está totalmente preparado para controlar a bexiga. O amadurecimento do sistema nervoso central ocorre ao longo do tempo, de tal forma que aos 4 anos de idade 85% das crianças com desenvolvimento neuropsicomotor adequado conseguem controlar a bexiga durante o dia. Já o controle noturno costuma ocorrer por volta dos 6 anos.
– Em torno de 15% das crianças, por volta dos 7 anos de idade, podem ainda apresentar episódios de perda noturna; aos 10 anos, este número cai para 5% – afirma.
De acordo com o médico, o pipi na cama pode ser provocado por várias situações, entre elas a falta de maturação do controle neurológico da bexiga; distúrbios do sono, em que a sensação de vontade de urinar não consegue despertar a criança; e, ainda, o aumento da quantidade de urina produzida pelos rins durante a noite. O Dr. Canalini explica que não há uma conduta terapêutica única para um problema com tantas causas e vários tipos de medicamentos podem ser usados, associados ou não ao tratamento comportamental.
– O tratamento correto depende de uma avaliação criteriosa, e geralmente é prescrito somente durante um período de tempo, o suficiente para aliviar os sintomas enquanto o organismo está se desenvolvendo e amadurecendo.
As crianças costumam comparecer à consulta para tratar do problema com algum constrangimento. Segundo o médico, uma abordagem que sempre funciona é, logo após o relato do problema pelos pais, continuar a consulta com um diálogo dirigido à criança, e informando logo de início um dos aspectos principais do problema: a hereditariedade.
– Cerca de 70% das crianças enuréticas têm parentes que tiveram o mesmo problema, sendo que em pelo menos 40% das famílias um dos pais passou pela mesma situação. Isto nem sempre é contado ao pequeno paciente, e quando ele passa a saber disto, e mais ainda, quando no meio da consulta um dos pais confessa que teve o mesmo problema, é impressionante como o semblante da criança muda. A face de sofrimento se transforma em expressão de alívio por descobrir-se não ser tão diferente assim – relata o médico.
Na grande maioria das vezes, a enurese noturna tem cura espontânea, sem necessidade de qualquer tipo de abordagem mais profunda. Segundo o urologista, com o devido esclarecimento da criança e dos familiares a ansiedade diminui, e algumas vezes isto basta para os sintomas desaparecerem.
– É importante lembrar, no entanto, que em alguns raros casos a enurese, noturna e diurna, pode estar associada a algum problema mais grave. Crianças que mantêm este sintoma por mais tempo, e principalmente acima dos 10 anos de idade, devem ser obrigatoriamente avaliadas por um urologista – orienta.