A riqueza do folclore brasileiro esbarra, muitas vezes, na carência de reconhecimento. O 31 de outubro, para várias crianças, é dia do Halloween. Mas desde 2003 é nesta data que se celebra também o Dia do Saci, com o objetivo de resgatar e valorizar nossas manifestações folclóricas. O livro “A infância do Saci”, de Luciana De Lamare, é uma nova e linda contribuição para este resgate cultural tão necessário.
– Sempre tive a sensação de que faltava uma relação mais próxima com nossos mitos e fui movida pelo instinto de conhecer mais. Em abril, quando visitei o Uaná-Etê, Jardim Cultural em Engenheiro Paulo de Frontin, e a fundadora do espaço, Cristina Braga, me mostrou o Jardim do Folclore, sabia que precisava fazer algo a respeito. Saí de lá me questionando sobre o porquê de não conhecermos melhor nossos mitos. Voltando para casa, conversei com meu filho, de 12 anos. Ele me falou que nossos seres mitológicos inspiravam algum medo, o que realmente me preocupou. Naquele momento, senti-me desafiada a ultrapassar as barreiras da oralidade sobre nossa mitologia e buscar mais respostas, para ajudar a reverter essa situação. De fato, o que precisamos é nos aproximarmos das nossas estórias, nos apropriarmos delas e levarmos ao patamar que outros países fazem com seus mitos. Dessa forma, não só nos conectaremos mais com a nossa cultura, mas geraremos mais oportunidades de empreendedorismo, de criação, de inovação. Precisamos praticar mais empatia com esses seres maravilhosos que habitam nosso inconsciente coletivo – avalia a autora.
O objetivo de Luciana é grande, mas começa de modo muito simples: contando para as crianças a história de Saci-Pererê, desde o seu nascimento. Os pequenos leitores são apresentados à mãe, ao pai e a avó do menino travesso, às circunstâncias que o deixaram com uma perna só e ao motivo de suas aparições serem sempre acompanhadas pelo vento forte. Um jeito lúdico de abordar a magia que envolve o personagem.
O livro “A infância do Saci” foi lançado esta semana dentro de uma programação cheia de atividades, promovida pelo Instituto Aupaba, presidido por Luciana. Parte do valor da venda do livro será destinado aos projetos do instituto, organização sem fins lucrativos que se dedica a promover ações e projetos voltados para o desenvolvimento territorial.
– Somos uma organização que busca lindos pretextos para desenvolver territórios dentro de um vasto país. Como acreditamos que a educação é o caminho, estamos buscando apoiadores para um grande projeto de leitura para famílias e crianças que deve iniciar em 2025. Algo que envolve nossa cultura e o empoderamento dos pais no contexto da literatura. É um projeto consolidado em outros dez países latino-americanos e que contribuirá para estímulo da leitura na primeira infância, a aproximação das famílias em seu contexto social e para estímulo da criatividade, a competência humana mais desejada para as próximas décadas – explica Luciana, que também é cofundadora do Instituto Aupaba e especialista em turismo regenerativo com enfoque cultural.