Dia Nacional do Livro Infantil e a importância de Monteiro Lobato
Emília, Visconde de Sabugosa, Tia Nastácia. Você, certamente, conhece essas personagens, não é? São algumas das criações de Monteiro Lobato. E é bem provável que as crianças próximas a você também conheçam, mesmo que nunca tenham folheado um livro do autor. O Sítio do Picapau Amarelo faz parte do imaginário coletivo, e está, merecidamente, popularizado no Brasil, mas bem menos pela leitura do que pela adaptação televisiva. Neste dia 18 de abril, data de nascimento do escritor e, por isso, escolhida para celebrar o Dia Nacional do Livro Infantil, o Quem Coruja convida os leitores a mergulharem no universo das histórias deixadas por Monteiro Lobato, considerado o fundador da literatura infantojuvenil brasileira.
Apesar da reconhecida importância do autor, Lobato parece ter ficado no passado, distante demais da geração que se relaciona com o mundo por meios digitais. À mudança da linguagem somam-se ainda as diferenças sociais que separam o Brasil de hoje do Brasil da primeira metade do século XX. Literatura, no entanto, é aquilo que fica, que permanece em sua essência, que sobrevive a gerações, e muitas das obras de Monteiro Lobato carregam esta característica.
– É claro que algumas obras de Lobato envelheceram, principalmente as obras com conteúdos mais didáticos. Mas há aquelas que permanecem – afirma João Luís Ceccantini, mestre e doutor em Letras, pesquisador de literatura infantojuvenil, e co-autor dos livros “Monteiro Lobato – Livro a livro”, com Marisa Lajolo, e “Monteiro Lobato e o leitor de hoje”, com Alice Áurea Penteado Martha.
Ceccantini foi uma das vozes que defenderam as obras do escritor, alvo de críticas de que eram racistas – em 2010, houve pedido para que a obra não fosse adotada nas escolas. Ele não nega que Monteiro Lobato tenha usado algumas expressões hoje politicamente incorretas, mas lembra que o valor literário das histórias vai muito além disso.
– Lobato tinha a preocupação de falar de nossa identidade, nossa brasilidade, nossas lendas. Dentro do politicamente correto, muitos o acusam de racismo. A sociedade da época era racista e ele escreveu alguns termos, como “negra beiçuda”, sobre Tia Nastácia, por exemplo. Mas era um homem das contradições. O mesmo Lobato mostra uma afetividade brutal dessa contadora de histórias. Às vezes, ela tem protagonismo nas histórias. Há também muitas representações de negros valorativas, mas as pessoas só veem o negativo – avalia Ceccantini.
Para o pesquisador, as crianças são capazes de perceber e selecionar as qualidades de uma obra. Mas podem, mesmo assim, terem mediadores para ajudá-las a entenderem a questão das mudanças da sociedade ao longo do tempo. Só não devem ser privadas de conhecerem a obras de Lobato:
– Não devemos nunca subestimar o leitor. As crianças sabem fazer leitura crítica. Além disso, pais e professores podem ser mediadores e passarem essas explicações para as crianças.
Segundo ele, o que as pessoas conhecem de Lobato está aquém da importância do escritor para a literatura infantojuvenil.
– Nós não temos Disney ou Steven Spielberg para fazer aquelas megaproduções das histórias de Lobato. Se ele tivesse escrito em inglês, seria considerado um dos maiores escritores do mundo – afirma Ceccantini.
Abaixo, uma relação das obras de Monteiro Lobato sugeridas por João Luís Ceccantini às pessoas que vão ler os livros do autor pela primeira vez. Boa leitura!
Reinações de Narizinho (1931)
O Picapau Amarelo (1939)
O saci (1921)
Peter Pan (1930)
Fábulas e histórias diversas (1922/1946)
Histórias da Tia Nastácia (1937)
O Minotauro (1939)
Os doze trabalhos de Hércules (1944)
Caçadas de Pedrinho (1933)
Dom Quixote das crianças (1936)
Memórias da Emília (1936)
A chave do tamanho (1942)