Conselhos e opiniões ajudam, mas também incomodam
A intenção, na maioria das vezes, é ajudar. Mas nem sempre conselhos dados às mamães de primeira viagem são bem-vindos. Por mais que a troca de experiência seja importante, alguns comentários soam como intromissão.
– A primeira maternidade é rodeada de dúvidas e inseguranças, e pessoas que já passaram por essa situação sabem como é difícil lidar, e necessário ter ajuda. E por esse motivo julgam importante orientar novas mães. Porém, essas pessoas não levam em consideração as peculiaridades dessa nova mãe. Os palpites podem causar incômodo pela falta de sensibilidade dessas conselheiras, uma vez que não procuram saber como essa mãe pode lidar com tais situações e só querem impor um padrão que já foi vivido. Além disso, essa mãe pode pensar que estão duvidando da sua capacidade de cuidar do seu bebê – avalia a psicóloga Gizeli de Matos Hermano.
A jornalista Ludmilla de Lima reconhece o lado bom da troca de experiências. Ela participa de grupos de mães nas redes sociais, o que a tem ajudado na nova rotina ao lado de Dante, de 2 meses. Mas se incomoda com alguns exageros.
– Sou mãe de primeira viagem, sendo que nunca tinha convivido com bebês pequenos. É tudo muito novo pra mim, e acaba que sou muito influenciada pelos outros. Agora, com meu filho com dois meses, tenho mais consciência disso e tento filtrar mais as informações. Participo de um grupo de mães na internet que é ótimo. Me acalma por um lado, porque troco ideias, vejo que muitas das coisas que aparecem no Dante são normais. Por outro lado, há essa onda de uma ficar diagnosticando o bebê da outra. As pessoas não fazem por mal, só que muitas vezes acabam agitando o coração da mãe à toa – diz Ludmilla, que se aborrece mesmo é com discursos que tentam impor regras de comportamento. – Há uma moda de ficar ditando regras e julgamentos relativos à maternidade. Odeio isso! Se a mulher opta por cesárea, é considerada menos mulher; não pode dar chupeta, remédio de cólica, não pode vestir o bebê de azul ou rosa. Um saco! É um desrespeito.
Mãe de Arthur, de 5 meses, a esteticista Raquel de Oliveira Marques também considera desrespeitosos alguns comentários que costuma ouvir.
– Desde que o Arthur nasceu muita gente gosta de dar palpites e opiniões sobre como cuidar e criar ele. Mas a pergunta que sempre fazem e que mais me incomoda é: “Ele vai mamar no peito até quando?” ou “Ele só toma leite de peito?”. Como se fosse um absurdo ou algo incomum. Fico irritada – afirma.
Não são poucas as “soluções” para tudo que mamães de bebês costumam ouvir. Sem falar nos comentários cheios de críticas à forma como cuidam de seus filhos. Isso cansa, irrita. Ainda assim, diz Gizeli Hermano, vale a pena estar aberta a ajuda.
– Cada mãe deve respeitar o seu modo de lidar com cada situação, mas ajudas sempre são necessárias. É importante saber filtrar as informações recebidas, e entender que não estão duvidando da sua capacidade, apenas tentando ajudar. Trocar experiências com grupos de mães, leituras específicas e informações de profissionais são sempre bem-vindas nesse momento. É importante lembrar que uma mãe está nascendo, e precisa buscar se desenvolver – diz a psicóloga.
É assim que a administradora Sofia Salgado, mãe de Beatriz, 8 meses, costuma processar todas as informações que recebe.
– No meu caso, recebi conselhos da minha mãe e da minha irmã. Elas me orientaram em relação à forma de dar banho, ao leite, à posição de dormir. Coisas simples que me ajudaram bastante. Mas na rua as pessoas param para conversar, tomam um tempão seu, e ficam dando opiniões que você nem pediu. Meu marido tem horror. Já passamos por isso diversas vezes – conta.
Ótima matéria.