Ninguém gosta de ver seu bebê voltar da creche com marca de mordida de um coleguinha. Ninguém gosta de ser alertado sobre seu bebê estar mordendo coleguinhas na creche. É uma situação delicada para as famílias e para os responsáveis por cuidar das crianças dentro das instituições. Mas é também uma situação mais comum do que se imagina, e, de certa forma, até esperada. Crianças muito novinhas costumam manifestar com o ato de morder sentimentos que elas ainda não têm maturidade para expressar.
– Primeiramente, é importante compreender que a mordida, embora não seja uma atitude apropriada, é comum entre crianças pequenas. Devido à sua pouca idade e ao desenvolvimento ainda em curso do córtex pré-frontal, responsável pelo raciocínio social e tomada de decisões, muitas vezes elas enfrentam dificuldades para expressar emoções. A mordida pode ser uma forma de manifestar sentimentos como frustração, ansiedade ou dificuldade em comunicar suas necessidades – explica Helen Mavichian, psicoterapeuta especializada em crianças e adolescentes.
Isso não quer dizer que os bebês estão livres para morderem uns aos outros. Tanto cuidadores, nas creches, quanto a família, em casa, precisam trabalhar juntos para evitar esse tipo de comportamento, que é sempre constrangedor para os pais de quem morde e um aborrecimento para os pais de quem é mordido.
– É necessário que a família se comunique com a escola ou creche e também com a criança, explicando que essa não é a melhor forma de se expressar e ajudando-a com repertório para que ela possa entender e comunicar suas emoções de forma saudável e eficiente – orienta Helen.
O hábito de morder, de acordo com a psicoterapeuta, pode ser explicado pela necessidade de exploração oral, na qual a boca é esse instrumento de explorar:
– Durante o processo de dentição, o qual o bebe também passa, morder pode ser uma forma de aliviar o desconforto nas gengivas. Além disso, morder, assim como na vida das crianças, pode ser uma forma de expressar sentimentos e emoções, comunicação e imitação ou até mesmo curiosidade.
Segundo a psicóloga, é por volta dos 2 a 3 anos que as crianças começam a ter noções básicas do que é certo e errado. Ainda assim, não compreendem que morder é uma forma de violência. Se o comportamento continuar a partir desta faixa etária, outros fatores devem ser levados em consideração e procurar um profissional especializado ajuda muito.
– Por volta dos 4 a 5 anos, elas costumam compreender melhor o impacto de suas ações e comportamentos e conseguem internalizar normas sociais sobre o que seria um comportamento adequado e aceito socialmente. No entanto, esse entendimento pode variar de criança para criança, lembrando que a família e os cuidadores desempenham um papel essencial ao orientar sobre alternativas para lidar com emoções e expressá-las. Morder outras crianças é comum em bebês e crianças pequenas até cerca de 2 e 3 anos de idade (uma média), faz parte do desenvolvimento enquanto exploram o mundo e tentam lidar e expressar suas emoções e incômodos. Se persistir após essa idade, se tornar agressivo, causar ferimentos graves ou afetar as relações sociais, pode indicar um problema de comportamento que requer orientação profissional e é aconselhável buscar entender melhor o que está acontecendo com o pequeno ou pequena. Um psicólogo infantil pode auxiliar bastante nesse processo – avalia Helen.