Museu de Astronomia leva brincadeiras de ciências para dentro de casa
Por mais cuidados que se tenha, está difícil afastar as crianças das telas de celular, tablet e computador. O isolamento necessário por conta da pandemia de Covid-19 fez vários compromissos migrarem para o modelo online. Agora, não é só mais o jogo, o bate-papo, o vídeo. Tem escola, curso de idioma, aulas de música e tratamento fonoaudiológico, só para citar alguns exemplo, por meio dos dispositivos digitais. Fechado ao público devido à quarentena, o Museu de Astronomia e Ciências Afins (MAST) também levou o projeto Brincando com a Ciência para mundo virtual. Mas com uma diferença: fazer as crianças brincarem com objetos reais.
– Ciência e tecnologia se alimentam, mutuamente. Hoje uma não existe sem a outra. Quando falamos em processos de ensino e aprendizagem, a tecnologia tem, sim, um papel muito importante a cumprir, especialmente, em termos de acesso potencial e recursos didáticos. Mas o “mundo virtual” não substitui as experiências reais. Falando, especificamente, dos museus, por exemplo, a internet hoje nos permite fazer visitas virtuais às exposições, visitas orientadas, ou ainda participar, virtualmente, de ações educativas. Isso é muito bom. Mas estar presencialmente no museu e interagir diretamente com o seu espaço, seus artefatos, conversar com outros visitantes é uma outra experiência. Precisamos das duas. Podemos fazer a mesma analogia com experiência de um laboratório escolar. Uma simulação no computador pode ajudar a explorar a fenomenologia de um processo e ajudar o estudante a entender o que está sendo estudado. Mas, o laboratório real continua a ser muito importante. É no mundo real que muita coisa dá errado e o inesperado acontece, o que leva a novas questões e novos desafios – avalia Douglas Falcão, tecnologista sênior na Coordenação de Educação em Ciências ( COEDU/MAST).
Seguindo essa proposta de promover o conhecimento por meio da interação, o Mast passou a exibir, semanalmente, vídeos no seu canal no YouTube, ensinando o público a construir um aparato utilizando princípios científicos ou a realizar uma brincadeira. Toda quarta-feira, às 15h, é apresentado um novo vídeo. O primeiro estreou dia 27/5, e tem como tema o som. No vídeo, a pesquisadora da Coordenação de Educação em Ciências (COEDU/MAST) Taysa Bassallo ensina como fazer um sino com uma colher, um barbante e um copo. As brincadeiras são sempre com material comum de se ter em casa.
– Temos um livro que orienta na construção de mais de 50 artefatos desse tipo. Selecionamos um conjunto deles, em especial aqueles constituídos de materiais que costumamos ter em casa, já que não haveria sentido em solicitar que as pessoas saiam para adquirir algum item. A faixa etária é na verdade muito aberta. Mesmo as crianças menores podem, com a ajuda de adultos, usufruir de forma prazerosa e rica destes artefatos que misturam o lúdico e a ciência. Cada faixa etária pode encontrar a sua melhor exploração. Apenas como exemplo, considere este nosso primeiro aparato. Reproduzir um som de sino com um copo plástico, um pedaço de linha e um garfo é algo muito interessante. Uma criança de três anos vai se encantar com esse som tão diferente, já uma criança de oito anos, além de se encantar, poderá ser questionada sobre o que está acontecendo. Vamos colocar um vídeo por semana na internet, mas para quem quiser mais, pode acessar o endereço http://www.mast.br/images/pdf/publicacoes_do_mast/brincando_com_a_ciencia_volume_2.pdf e fazer o download do livro – explica Douglas.
Brincando com a Ciência no canal do YouTube é mais um exemplo do compromisso do Mast com atividades lúdicas e educativas para o público infantil.
– Temos um longa tradição na pesquisa e desenvolvimento de atividades educativas na área de ciência e tecnologia. Desde a década de 1980, investimos na interatividade como uma forte estratégia para estabelecer relações baseadas na motivação. Toda criança tem alma de cientista. A questão é, na verdade, criar condições para que ela exerça essa capacidade de errar, acertar, experimentar, refazer e comunicar. Quando pensamos em como chegar nos lares em tempos de isolamento social com este projeto, a ideia foi, apesar de usar a internet, estimular o gosto por fazer coisas no mundo real. Fazer a criança explorar situações concretas e lúdicas com a ajuda de outras pessoas. A mesma criança que fica, diariamente, na frente de um computador ou com um smartphone nas mãos por horas a fio, também se interessa por artefatos concretos que funcionam de verdade – diz Douglas.
O trabalho que vem sendo desenvolvido pelo museu o torna uma das principais referências de conhecimento e cultura científica no Brasil. E, segundo a diretora do Mast, Anelise Pacheco, com potencial para muito mais.
– O MAST tem o potencial para ser o benchmark de museu de ciências no país, não só pela rede de unidades de pesquisa na qual está inserido, colaborando, estreitamente, com instituições como o IMPA, INPA, CBPF, INT, CETEM, LNCC, IBICT e Observatório Nacional (ON), dentre outras, como também, pela forte relação que possui com as universidades, atraindo por meio do programa PCI (Programa de Capacitação Institucional), profissionais com grande potencial para contribuir para a popularização da ciência em larga escala e de maneira criativa e efetiva. Caso se torne o depositário do acervo das UP’s (Unidades de Pesquisa) no MCTIC (Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações), o papel do MAST ficará ainda maior e mais essencial, ao se tornar o responsável por guardar a memória das unidades de pesquisa do país. Por fim, com a possibilidade de um maior aporte para eventos de popularização como exposições e mostras virtuais, o MAST terá tudo para ficar em pé de igualdade com os benchmarks de ciência no mundo, como o Science Museum e o Exploratorium de São Francisco.