Cirurgia de retirada de útero pode ser evitada, diz especialista
Os miomas uterinos assustam muitas mulheres. E não à toa. Eles respondem por cerca de 60% a 70% das histerectomias (cirurgia de retirada de útero), na faixa etária entre 35 e 55 anos. Mas muitas dessas cirurgias podem ser evitadas, segundo o ginecologista Claudio Basbaum, fundador da clínica Pró-Matrix e criador da campanha permanente “Mulheres, salvem seus úteros!”, que completa 21 anos.
– Atualmente a ciência médica amparada pela evolução da tecnologia mostra que com tratamentos modernos e eficientes entre os quais, a videolaparoscopia , a videohisteroscopia e a embolização de miomas, torna possível evitar a perda do útero e viver sem os sintomas indesejáveis dos miomas. No Brasil, estima-se que entre 200 e 300 mil mulheres por ano perdem o útero. O número é baixo se comparado aos Estados Unidos, onde essas cirurgias já alcançaram 1 milhão de pacientes por ano. Mas não deixa de ser assustador, ainda mais pelo fato de que o procedimento poderia ser evitado na maior parte das vezes, visto que as estatísticas revelam que cerca de 2/3 dessas cirurgias- em torno de 65 a 70%- são feitas desnecessariamente – avalia o médico.
Entenda melhor sobre mioma, a relação com gravidez, e as maneiras de preservar o útero na entrevista do Dr. Claudio Basbaum ao Quem Coruja:
Quem Coruja – O aparecimento de miomas pode dificultar a gravidez?
Dr. Basbaum – Estudos revelam que miomas estão presentes em torno de 45% a 50% das mulheres, com maior incidência entre os 35 a 45 anos, mas cerca de 50% deles não causam sintomas. Entretanto, a presença destes nódulos, dependendo do seu número, volume e localização nas paredes do útero, pode causar sangramentos genitais anormais, comprimir órgãos das proximidades, como bexiga, reto e trompas, por exemplo, assim como criar dificuldades para engravidar ou estar associado a abortamento. Estes riscos diminuem significativamente a cada gestação bem sucedida com filhos nascidos vivos. Assim, mulheres que já tiveram bons resultados gestacionais por três, quatro vezes, têm expectativa de risco reduzido em cerca de 80%, o que nos permite concluir que a gravidez em mulheres com miomas, exerce um fator favorável para o sucesso de outras gestações futuras.
Quem Coruja – 2- Um mioma pode aparecer durante a gestação?
Dr. Basbaum – O encontro de miomas uterinos durante uma gestação não é muito comum, sendo sua incidência, de acordo com as estatísticas, menor de 0,5% até 4% das gestantes. Ademais, não se pode afirmar que aqueles miomas começaram durante a gravidez ou ficaram evidentes pelo seu crescimento promovido pelos hormônios que mantêm a gravidez, sobretudo os estrogênios e/ou pela maior facilidade de visualização através das ultrassonografias realizadas. Devemos lembrar que pelo fato das mulheres estarem postergando a idade para engravidar – o que as faz entrar na faixa etária mais comum para o surgimento dos miomas -, é de se esperar a presença aumentada destes tumores durante a gravidez.
Quem Coruja – De que forma o mioma pode comprometer a gravidez?
Dr. Basbaum – Seu impacto sobre a evolução gestacional é muito variável e, como salientamos, está na dependência tanto do número, tamanho e localização nas paredes musculares do órgão, quanto do seu crescimento e/ou transformação local durante o estado gravídico. Assim, uma gestante com útero miomatoso pode não apresentar qualquer problema relacionado como também pode estar mais exposta à dor pélvica, abortamento espontâneo, parto prematuro, restrição de crescimento fetal, posições anômalas do bebê, descolamento placentário, hemorragia pós-parto, maior incidência de cesáreas, entre outros. Assim sendo, para as mulheres portadoras de miomas que engravidem, está indicado o controle ultrassonográfico mais frequente a fim de monitorar e prevenir as possíveis complicações.
Quem Coruja – Mulheres com histórico de mioma podem engravidar?
Dr. Basbaum – A literatura médica e nossa experiência pessoal permite afirmar que muitas pacientes portadoras de miomas podem engravidar e dar a luz sem maiores problemas. O sucesso, como já mencionei, depende do numero, dimensões e onde estão localizados na massa uterina. Quando os miomas estão afetando a capacidade reprodutiva, o tratamento cirúrgico conservador, como a miomectomia, por exemplo, é o mais indicado. A taxa de concepção quase triplica e os índices de abortamento espontâneo caem a quase um terço das gestantes com estes históricos.
Quem Coruja – Os miomas podem ser evitados?
Dr. Basbaum – Não há como se prever nem prevenir o surgimento de miomas. Entretanto sabemos que o risco da doença é maior quando existem antecedentes de miomas em parentes próximas – mãe, irmãs, primas. Análises demográficas detectam que os miomas também são de três a nove vezes mais frequentes e mais “agressivos” nas mulheres negras quando comparadas às brancas. Outro fator mencionado é o histórico de processos inflamatórios pélvicos: a inflamação e a infecção afetando o endométrio, ocasiona repercussões no miométrio (músculo do útero) predispondo de três a cinco vezes mais o surgimento dos miomas. Estudos revelam também que o sobrepeso aumenta o risco para o surgimento dos miomas, sobretudo nas mulheres após a menopausa.
Quem Coruja – Que tratamentos são mais indicados?
Dr. Basbaum – Nas miomatoses assintomáticas, em princípio devemos apenas fazer o seguimento clínico e através de imagens (ultrassonografia, ressonância magnética da pelve). Sempre que possível, temos que ser absolutamente conservadores, tentando “tratar” inicialmente a sintomatologia apresentada (dor, sangramento uterino anormal), através de métodos clínicos. Na pré-menopausa, os ovários passam a fabricar menos hormônios, e, com isso, o útero e os miomas tendem a diminuir. Assim, se há tempo para se aguardar, sem comprometer a saúde da mulher tem-se uma solução natural e fisiológica do problema, sem a necessidade de cirurgia. A forma de tratamento de miomas depende de uma série de fatores individuais. Em geral, a primeira opção deve ser através de medicamentos, tais como anti-inflamatórios não hormonais ou progestogênios que promovem a diminuição da dor e do fluxo menstrual e os “anti-hormônios”, os quais suspendem temporariamente a produção dos hormônios ovarianos, levando a uma redução acentuada, porém temporária, dos miomas. Nos casos resistentes ao tratamento medicamentoso, a retirada dos fibromas (miomectomia) ou sua desvascularização (embolização) se fará necessária. A retirada do útero (histerectomia) é a última instância a ser recomendada para a solução dos distúrbios provocados pela miomatose uterina. A intervenção cirúrgica só deve ser realizada quando a presença dos nódulos cause sintomas (miomas sintomáticos) cuja correção ou resolução seja resistente ao tratamento clínico medicamentoso.