A pedagoga Taís Bento, do “Socorro, meu filho não estuda!”, dá dicas para a volta às aulas
Uma parceria entre mãe e filha, o projeto “Socorro, meu filho não estuda!” surgiu a partir de pedidos de ajuda e reclamações que recebiam de familiares e amigos sobre o pouco interesse das crianças nos estudos. A ideia inicial, conta Taís Bento, que é pedagoga com especialização em aprendizagem baseada no funcionamento do cérebro, era a criação de uma série para o Youtube, mas acabou virando um site, logo depois um livro, palestras para pais e formação para professores.
– No início, fazia tudo sozinha e minha mãe (Roberta Bento, professora com especialização em formação de professores de línguas e em aprendizagem baseada no funcionamento do cérebro) dava apoio. No fim de 2014 percebemos que o trabalho e a experiência dela seriam muito valiosos e foi aí que o projeto cresceu bastante – lembra Taís.
O objetivo: ajudar pais e responsáveis a melhorar a relação de seus filhos com os estudos. Segundo Taís, os pedidos de socorro mais recebidos são: ter preguiça de estudar, não se concentrar, não gostar de estudar, não sair do computador/tablet/celular e escrever mal.
O papel dos pais é fundamental para que seus filhos desenvolvam o gosto pelo aprendizado e o hábito de estudar. Mas, alerta Taís, embora muitos tenham consciência dessa responsabilidade, ações que poderiam impactar de forma positiva nos estudos começam tarde demais – no momento em que a demanda por responsabilidade acaba pegando a todos de surpresa.
– Você deve estar se perguntando quando então é o momento ideal para ajudar seu filho a gostar de aprender e a desenvolver hábitos que favoreçam os estudos. E a resposta pode surpreender: desde bebê, quando a criança está formando as memórias que serão a base para o aprendizado ao longo da vida – explica, lembrando que para que a criança aprenda qualquer conteúdo novo, ela recorre, de forma inconsciente, às memórias que estão armazenadas em seu cérebro.
Todo conhecimento adquirido serve de base para os novos conhecimentos. Quando a criança não encontra na memória uma referência em que possa se basear, acaba tendo dificuldade de aprendizagem.
– Esta dificuldade vem precedida de todos os seus sintomas que são: falta de atenção, demonstração de stress, falta de concentração, entre outros.
A pedagoga orienta os pais a fazerem seus filhos assumir alguma responsabilidade em casa. Segundo ela, esta é a mais simples ação que podem tomar para ajudá-los a ter gosto pelos estudos.
– Ao assumir uma responsabilidade doméstica, além da criança desenvolver o senso de responsabilidade que é fundamental para os estudos, o cérebro dela se enriquece de memórias de procedimentos, que são essenciais para que o aprendizado ocorra.
Taís tem um recado para os pais mais desesparados:
– Existe uma boa e uma má notícia. A boa é que eles não estão sozinhos nessa. E a má notícia (que depende do ponto de vista para encará-la como boa ou má) é que mudar essa situação está nas mãos deles! Dar o exemplo de hábitos saudáveis, como o da leitura, é um ótimo começo. Muitos pais reclamam que os filhos odeiam ler, mas eles próprios nunca leem – alerta.
A concentração é um outro exemplo. Cada vez menos, adultos e crianças conseguem fazer uma atividade de cada vez. A ilusão de uma geração multitarefas que consegue (e sofre a pressão para) fazer várias coisas ao mesmo tempo está impedindo que as crianças aprendam a se concentrar.
– Que tal um combinado de deixarem todos os celulares carregando em um quarto enquanto a família janta na cozinha?
Dicas para a volta às aulas
A volta às aulas se aproxima e retomar a rotina de estudos depois das férias pode ser muito difícil. No entanto, os pais podem e devem ajudar os filhos nessa tarefa.
– Definir um horário para estudar e sempre cumpri-lo. O cérebro se habitua a estudar quando ele entra em uma rotina de estudos. A criança pode decidir junto com os pais o horário que acha melhor, desde que todos os dias estude no mesmo horário.
– Usar um timer/cronômetro na hora da tarefa – o cérebro precisa se oxigenar. Falar “senta aí e não levanta da cadeira até acabar de estudar tudo” é contraprodutivo e não favorece o melhor funcionamento do cérebro. O ideal é estudar com intervalos de 5 minutos a cada 25 minutos totalmente concentrado nos estudos. Nesses 5 minutos de intervalo é importante que a criança se movimente. Pode ser ir beber água, dar uma volta dentro de casa mesmo. Recomendamos o uso de um timer para medir esse tempo.
– O cérebro não é multitarefa! Ao contrário do que muitos acreditam, nosso cérebro só consegue aprender uma coisa de cada vez. Portanto, na hora da tarefa ou dos estudos para a prova, a atenção tem que ser exclusiva, estudar com o celular, computador, televisão ligados só vai fazer o processo de estudo parecer mais cansativo e menos produtivo.
– Parar de falar “saia do celular”- o celular, computador ou qualquer tecnologia não são o problema, e qualquer luta contra eles será uma batalha perdida, já que eles já estão integrados no dia a dia dessa geração. O que eles precisam é de alternativas de atividades que não precisem dessas tecnologias. Troque o “saia do computador” pelo “vamos ao parque”, por exemplo. Ensine você ao seu filho com ele pode se divertir se desconectando.