Prematuridade e a angústia da família: relato de mães de prematuros
O mês de novembro, ou Novembro roxo, é voltado para ações e orientações relacionadas à prematuridade, situação de 11,7% dos partos no Brasil. Além dos possíveis riscos ao bebê, o nascimento prematuro traz muita angústia e receios à família.
– Lara nasceu de 32 semanas devido a uma insuficiência placentária. Tive pressão alta e diabetes gestacional também. Eu já sabia que ela nasceria antes da hora. Mas foi muito angustiante. Tinha medo dela não sobreviver. Ela nasceu com problemas respiratórios. Precisou de equipamentos para ajudar a respirar. Só se alimentava por sonda. A UTI é horrível. Por mais que você saiba que é o melhor para o prematuro, ver seu bebê tão pequeno com aqueles aparelhos é angustiante. Não podíamos dormir lá. Eu chegava às 8h e ficava até 22h no hospital. Ir p casa sem o bebê e ver o quartinho que você preparou vazio é uma sensação frustrante e de muito medo – lembra a jornalista Waleska Borges, que esperou 21 dias para levar a filha para casa.
A internação é mesmo um momento muito doloroso para os pais, mas está longe de ser a única preocupação em relação aos filhos prematuros. A pedagoga Bruna Silva levou os gêmeos Davi e Matheus para casa após 11 dias no hospital, mas passou o primeiro ano de vida dos meninos apreensiva em relação ao desenvolvimento deles.
– Sempre ouvimos falar tantas coisas em relação a consequências de um parto prematuro para o desenvolvimento da criança, principalmente no que diz respeito ao desenvolvimento físico e motor. No entanto, o que mais me afligia, no primeiro ano, era o desenvolvimento cognitivo. Não sei se esta preocupação estava ligada ao fato de eu ser da área da educação e conviver com crianças com transtornos e déficit cognitivo, mas essa era minha maior preocupação – recorda Bruna.
Novembro roxo: desenvolvimento de prematuros
O receio não é sem fundamento. Bebês prematuros estão mais propícios a terem algum tipo de complicação. Mas nem Lara, hoje com 6 anos, nem os gêmeos Davi e Matheus, com 12 anos, apresentam problemas cognitivos. No caso dos meninos, não foi necessário nenhum acompanhamento especial. Bruna contou com o apoio do que ela chama de “anjos sem asa”, amigos com formação em fonoaudiologia, psicopedagogia e outras áreas afins, além da atenção do pediatra.
– Eles me ajudavam no sentido de estímulo que eram necessários para o desenvolvimento de qualquer bebê, em especial os prematuros. E a qualquer sinal de respostas diferentes do que era esperado para a idade deles, comunicava ao pediatra, que sempre os acompanhou minuciosamente, atento a qualquer coisa que pudesse acarretar problemas para eles. E isso me deixava bem segura. Então digo sempre que não tinha especialistas, mas anjos sem asas que contribuíram muito para o desenvolvimento dos meninos – diz Bruna. Já Lara precisou de atenção especial, devido às complicações de saúde ao nascer.
– Ela recebeu alta sem fechar o canal do coração e foi acompanhada por isso até os 3 anos, quando, finalmente fechou. Demorou a fazer tudo que os outros bebês da mesma idade que não eram prematuros faziam. Só sentou sozinha com nove meses. Fez muita fisioterapia para andar, o que só aconteceu três dias antes dela fazer 1 ano e seis meses. Sempre foi muito pequena. Já na escola, com 2 anos e pouco, tinha dificuldades para correr e pular. A escola sinalizou isso nas reuniões. Só ficou normal por volta dos 4 anos nessa parte motora – conta Waleska.
Não foram momentos fáceis, mas hoje Lara é uma esperta e simpática menininha, que adora compartilhar fotos, vídeos e brincadeiras no @larinhaborgesoficial.
– Agora com 6 anos, é uma menina normal. Linda, inteligente que ainda é pequena, mas não parece que nasceu prematura. Foi uma fase muito difícil. Meu leite secou. Ela quase não mamou em mim. Mas, um conselho que posso dar as outras mamães: não se cobre por isso. Faça o que é possível. Não me culpo por ela não ter tido condições de mamar. Ela teve todo carinho e amor possível com uma mamadeira. Tive o apoio da minha família e do meu marido que conseguiu tirar licença do trabalho e participou de tudo ao meu lado – recorda Waleska.
O desenvolvimento dos prematuros vai depender das causas da prematuridade, das complicações e do tempo da gestação ao nascer. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), são considerados prematuros bebês nascidos antes das 37 semanas completas. Recém-nascidos com menos de 28 semanas são considerados pré-termo extremo; acima de 28 e com menos de 32 semanas, muito pré-termo; com 32 semanas e menos de 37, pré-termo moderado e pré-termo tardio.
Foto em destaque: Lara nos primeiros dias de vida na UTI