Algumas crianças precisam usar óculos ainda bem novinhas
Muitas crianças precisam usar óculos desde muito cedo. Você já deve ter visto algum pequenininho com uma armação no rosto. Se não viu, não se espante. Há vários casos de crianças que começam a usar óculos antes dos 3 anos de idade.
– A causa mais comum para crianças pré-escolares usarem óculos são ametropias (miopia, astigmatismo e hipermetropia) e estrabismo acomodativo (esotropia acomodativa) – explica a oftalmologista Monick Goecking, representante da Sociedade Brasileira de Oftalmologia.
Essas alterações não são raras e costumam ser logo identificadas com o correto acompanhamento oftalmológico. O primeiro exame de vista, na verdade, é realizado ainda no recém-nascido. Depois disso, a consulta com um oftalmologista deve ser feita, preferencialmente, antes do bebê completar 1 ano, e repetida conforme orientação médica.
– A primeira avaliação ocular da criança deve ser feita nas primeiras 48h de vida, pelo pediatra, na maternidade. Segundo a diretriz da sociedade brasileira de Oftalmologia Pediátrica, todas as crianças saudáveis, sem qualquer alteração perceptível nos olhos, devem ir ao oftalmologista entre 6 e 12 meses de idade para um exame oftalmológico completo com dilatação das pupilas para mapear a retina., e este exame, se normal na criança saudável, deve ser repetido entre 3 e 5 anos de idade, preferencialmente aos 3 anos – orienta Monick Goecking.
A médica ressalta ainda a necessidade de procurar um oftalmologista ao observar qualquer coisa diferente nos olhos ou comportamento da criança relacionado à visão, e em casos de doenças e histórico de doenças na família.
– Crianças com alterações aparentes nos olhos, queixas oculares, que aparentem não enxergar bem, que tenham sido prematuros, que tenham outras doenças sistêmicas inflamatórias, autoimunes ou infecciosas com potencial manifestações oculares, ou história familiar de doenças oculares como catarata congênita, glaucoma congênito e retinoblastoma devem se consultar com oftalmologista o quanto antes – explica.
A indicação de óculos para crianças pequenas traz certa apreensão aos pais. Além do diagnóstico, costuma preocupar o fato do próprio uso da armação. Pode parecer incômodo, mas mesmo os mais novinhos se acostumam com os óculos, pois sentem mais conforto visual ao usá-los.
Óculos ou cirurgia
Apesar de importantes, os óculos nem sempre são a única forma de tratamento. Alguns problemas de vista precisam também de intervenção cirúrgica. A necessidade varia de acordo com a situação e mesmo com a idade. Em alguns casos, devem ser realizadas quando ainda bebê, em outros, é necessário aguardar o desenvolvimento.
– As cirurgias para correção de estrabismo costumam estar indicadas a partir de 1 ano e 6 meses, mas cada caso deve ser avaliado de forma individualizada. Estrabismo acomodativo usualmente são de tratamento clínico, quando indicado cirurgia para estrabismo parcialmente acomodativo, estas cirurgias são mais tardias. A cirurgia de correção de miopia deve aguardar a estabilidade da refração do paciente, “grau dos óculos” , esta estabilidade costuma ocorrer aos 20 anos. Além da idade, outros fatores são importantíssimos para avaliar a indicação da cirurgia refrativa, como expectativa do paciente, idade, qualidade do filme lacrimal, espessura da córnea, boa semiologia ocular, topografia corneana, mapeamento de retina , tomografia de córnea e aberrometria para uma cirurgia segura – avalia a oftalmogolista.
Estrabismo
Sabe aquele olhinho que insiste em não ficar alinhado? Se a criança já nasce estrábica (esotropia congênita), é necessária a intervenção cirúrgica. A cirurgia também pode ser indicada em caso de estrabismo de acomodação (esotropia acomodativa), que costuma aparecer por volta dos dois anos, estando associada à hipermetropia. Mas em muitos casos, o estrabismo tem cura e pode ser tratado com óculos e uso de tampão.
Hipermetropia
Costuma causar estrabismo acomodativo na criança, pois o olho “busca” a melhor ângulo para a visão. O tratamento do estrabismo (clínico e/ou cirúrgico) e o uso de óculos são o tratamento mais comum na primeira infância.
Astigmatismo
O astigmatismo está entre os mais frequentes problemas de visão, inclusive na infância. É o oftalmologista que vai diagnosticar e prescrever o tratamento mais eficaz de acordo com o grau apresentado e histórico da criança.
– É pouco provável a cura espontânea do astigmatismo, mas pode ocorrer em “graus” baixos. O astigmatismo pode variar ao longo da vida, tanto o eixo quanto o poder (“grau”), de acordo com características individuais e é influenciado por aspectos ambientais (coçar os olhos, pterígio, trauma ocular, cicatrizes e depósitos corneanos, alterações palpebrais ). A cirurgia refrativa também é indicada para correção de astigmatismo – explica Monick Goecking.
Miopia, astigmatismo e o risco de ceratocone
O ceratocone é uma doença degenerativa da córnea, que altera sua estrutura, tornando-a mais cônica. De acordo com a oftalmologista, a associação de miopia e astigmatismo não são sinônimos de ceratocone. Mas trata-se também de uma doença a que os pais devem estar atentos.
– Crianças com história familiar de ceratocone, alergia, hábito de coçar os olhos ou com síndromes genéticas conhecidas pela associação com ceratocone (Síndrome de Down, Ehlers Danlos, osteogenesis imperfecta, entre outras) devem ter acompanhamento oftalmológico pelo menos semestral para diagnóstico precoce e evitar a progressão – orienta a médica.
Cegueira infantil pode ser evitada na maioria dos casos
Segundo Monick Goecking, os conhecimentos médicos atuais permitem prevenção ou tratamento efetivo de pelo menos 60% das causas de cegueira e severo comprometimento visual infantil. O diagnóstico precoce e o tratamento realizado já na primeira infância ajudam a preservar a saúde da visão ao longo da vida.
– Dentre as causas prevalentes de cegueira infantil está a ambliopia (olho preguiçoso), que está relacionada a erro refracional não corrigido, à privação de imagem na retina (por obstrução nos meios oculares até os seis anos de idade) ou ao estrabismo, que levam ao inadequado desenvolvimento da visão no cérebro. A cegueira por ambliopia pode ser prevenida com o exame oftalmológico das crianças com até três anos de idade. A incidência de ambliopia varia entre 0 a 5% da população geral. De modo geral, mais da metade das crianças cegas do mundo são cegas devido a causas evitáveis (15% tratáveis e 28% preveníveis). Nos países em desenvolvimento, a proporção de cegueira por causas evitáveis é maior que nos países desenvolvidos – diz a especialista.
No Quem Coruja, você encontra outras matérias sobre saúde dos olhos das crianças. Leia também Cuidados com os olhos, Telas de celular e saúde dos olhos, Obstrução do canal lacrimal, Óculos escuros: estilo e proteção, Estrabismo de acomodação.
Foto em destaque: Imagem de Nguyen Dinh Lich por Pixabay
Matéria muito boa, meu filho usa óculos desde os 3 anos, a preocupação era adaptação mas foi super tranquilo.