A literatura sempre permeou a vida da professora e escritora Sonia Rosa
Quando criança, Sonia Rosa não tinha livros em casa, mas cresceu ouvindo histórias contadas pela mãe dela. Na adolescência, a primeira paixão foi a poesia, um amor que nunca acabou. Adulta, e já trabalhando como professora, deu início à carreira de escritora de livros infantis, e lá se vão cerca de 40 títulos voltados para as crianças. Ao Quem Coruja, ela conta um pouco dessa história tão íntima e bonita com as palavras, e do livro “A manta”, que nos envolve e embala tão carinhosamente como aos bebês que a usaram, de verdade.
Como surgiu o interesse pela escrita?
Sonia – Na verdade, sempre fui amiga da poesia. Crescemos juntas e isso fez uma grande diferença na minha vida e nas minhas escolhas. Na adolescência, comecei a escrever em diários, e, quando me apaixonei, fiquei ainda mais íntima das palavras. Falava de amor em cartas nunca enviadas. E, assim, nesses exercícios amorosos de escrita sensível, quase que naturalmente comecei a fazer poesias. E um mundo novo se abriu para mim deste então. E, é claro, a leitura de poesias também se intensificou. Nessas leituras encontrava sentimentos e me sentia provocada a escrever mais e mais. E a leitura e a escrita passaram a fazer parte da minha vida e foram ingredientes importantes para o meu crescimento… Mas nunca, quando ainda criança, desejei me tornar escritora. Era algo muito distante da minha experiência de vida. Minha família era muito modesta, não havia livros em casa. Foi a escola que me proporcionou a entrada neste mundo maravilhosos dos livros de literatura. Meus professores e as bibliotecas desenvolveram em mim este gosto pela leitura, sentimento que me acompanha desde sempre. Mas, justiça seja feita, apesar da ausência dos livros em minha casa havia o encantamentos pela palavra falada. Isto fez uma diferença para mim! Minha mãe,baiana de nascimento, sempre contava histórias e essas alimentaram as minhas ideias e os meus sonhos. E claro que tiveram influencia neste meu apreço pela palavra.
E a carreira de escritora, quando começou?
Sonia – Como professora, contava diariamente histórias para meus alunos. Um dia comecei a inventar histórias para eles, pois já tinha intimidade com as palavras desde jovem. Foi neste momento que nasceu o desejo de me tornar uma escritora. E a partir daí corri atrás desse sonho; estudando, escrevendo e lendo muito. E a vida foi seguindo, os filhos chegando e a alegria de estar entre as crianças foi aumentando cada vez mais. Meus alunos foram meus primeiros críticos literários. A temática afro brasileira presente na minha vida adentrou pelos meus livros de maneira natural. O Menino Nito, meu livro de estreia, tem como protagonista um menino negro, motivo de muita alegria para mim! Nos meus livros sempre contemplo com minha escritas ou solicito aos ilustradores presença de personagens negros numa perspectiva de valorização desta identidade. Meus livros são para crianças de todas as idades. Em parceria com a ilustradora Luna, que trabalha com arte com massinhas, publiquei uma coleção para crianças bem pequenas, a partir de 11 meses. São livros muito coloridos e cheios de ludicidade. Meus leitores bebês adoram!
Como você avalia o papel da escola na formação de leitores?
Sonia – A escola tem esse papel. Ela desenvolve o gosto pela leitura literária dos seus alunos desde pequenininhos. Os professores compartilham as histórias e oferecem livros de qualidade em suas bibliotecas, E ainda, oferecem atividades em torno da leitura, como roda de leitura, contação de histórias, leitura dramatizada, jogral. Sempre respeitando a inteligência da criança. Além de formar leitores a leitura frequente de literatura desenvolve a criticidade ingrediente fundamental para crescimento. Este trabalho de formar alunos leitores é importante em todas as escolas, mas nas escolas públicas ele é imprescindível, já que por vezes, é a única oportunidade que o aluno tem de ter contato com o livro de literatura. Sempre que possível é importante envolver as famílias nesta tarefa de formação de leitor, Incentivando a ida as livrarias, feiras literárias e a leitura familiar frequente.
Alguns dos seus livros trazem histórias baseadas em sua experiência de vida. Assim é “A manta”, reeditado recentemente?
Sonia – Sim, tem um quê inspirado na realidade. Isto é comum de acontecer nas minhas histórias. Sempre misturo um pouquinho de realidade com um pouquinho de invenção. A manta real foi usada pelo Victor, filho de uma amiga. Ela me deu de presente quando estava esperando meu filho Igor. Depois disso ela não saiu mais da minha família. Embalou meus outros filhos, meus sobrinhos, meus priminhos…. Ela embalou amorosamente todas as crianças da minha família que nasceram depois do meu Igor. Ela trabalhou muito ao longo desses anos que merecia uma história! Fico sempre muito emocionada quando conto essa história!