Profissional pode ajudar no desenvolvimento da fala e diagnosticar problemas mais graves
Para muitas crianças, o desenvolvimento da fala vem com naturalidade. No começo, há palavras erradas, alguns fonemas trocados ou omitidos, que pouco a pouco vão desaparecendo. A comunicação acontece sem problemas, e, aos 4 anos, elas já dominam os sons da língua maternas. Mas e se não for dessa maneira?
– Se a questão é relativa apenas ao atraso na aquisição de fonemas (trocas ou omissões), depende muito do tipo, frequência da troca ou omissão e impacto na inteligibilidade de fala. Crianças saudáveis, bem nutridas, com aspecto afetivo social bem resolvido, podem ter o sistema fonêmico estável e completo até os 3 e 6 meses, 4 anos. De acordo com a severidade do quadro, convém não esperar até esta idade para procurar ajuda, ainda que apenas para uma avaliação de um profissional competente que indicará a necessidade ou não de se iniciar atendimento – avalia a fonoaudióloga e mestre em Distúrbios da Comunicação Ana Maria Hernandez.
Coordenadora da equipe de Fonoaudiologia do Hospital Santa Catarina, Ana Maria lembra que quanto antes se resolvem as questões relacionadas à fala, menor o impacto sobre a escrita e, é claro, quanto mais cedo o diagnóstico de algum distúrbio, mais eficaz o tratamento. Segundo ela, quando se trata da simples ausência ou substituição dos fonemas, como o “r” de barata ou na redução dos grupos consonantais, como em prato por pato, pode-se aguardar até os 4 anos e meio para procurar um especialista.
– Quando as trocas envolvem muitos fonemas ou a produção da fala é muito restrita não se deve esperar além dos 3 anos. Nos casos em que o bebê não compartilha a atenção, não reage a sons ou apresenta a intenção comunicativa, mas com grande dificuldade em expressão oral, a busca por um diagnóstico é urgente, pois pode se tratar de uma deficiência auditiva, um caso de atraso no desenvolvimento neuropsicomotor e até autismo. Quanto mais cedo se intervem, melhores são as perspectivas de reabilitação – explica.
Há vários motivos que podem levar à necessidade de acompanhamento de um fonoaudiólogo. E eles não precisam, necessariamente, aparecer na fase em que as crianças aprendem a formar palavras.
– As alterações mais comuns variam de acordo com a idade. Em caso de bebês, são as dificuldades de alimentação/amamentação, mastigação, introdução de consistências semi-sólidas (alimento amassado), recusa alimentar. Em crianças maiores, as questões de alimentação também são frequentes. Além destas, atraso de fala (trocas fonêmicas – o “Cebolinha”, distorções como ceceio – muitas vezes apontado como língua presa e linguagem – e pouca comunicação oral), disfluência (gagueira), problemas de motricidade orofacial ortodônticos, respiração bucal, problemas de aprendizagem, de leitura e escrita – cita a especialista, lembrando que, em alguns, a necessidade de fono é apontadas por professores ou outros profissionais, como otorrinos, ortodontistas e pediatras.
Em relação ao atraso na fala, há algumas maneiras de perceber o problema em casa.
– Quanto maior a demora no desenvolvimento de fala e linguagem, provavelmente maior deve ser a severidade do quadro. Os pais devem estar atentos a sinais, como atender ao chamado do próprio nome e a atenção aos sons, como campainhas, latidos de cachorros, canto de passarinhos, palmas, barulhos em geral; buscar o contato visual, buscar compartilhar a brincadeira, apresentar requisição de atenção compartilhada, verificar se há intenção comunicativa através de gestos ou não – indica Ana Maria.
Atenção e estímulo em caso são fundamentais, mas é importante não ultrapassar limites, ressalta a fonoaudióloga:
– O adulto é o responsável por “apresentar” o mundo para a criança. Isto não significa “fazer” por ela. Os pais devem estimular os filhos através de brincadeirinhas de acordo com a idade e o nível cognitivo da criança. Nem exigir desempenho abaixo da idade nem à frente. Ambas as situações podem desestimular a criança. Falar de forma infantilizada, repetindo os erros de fala da criança, não é indicado. Usar vocabulário muito sofisticado também pode não ajudar. A questão do bilinguismo é controversa. Se for uma prática desejada pela família, um dos pais deve sempre se dirigir na língua do país em que vivem e o outro na segunda língua. Para crianças que já demonstrem dificuldade na aquisição da fala, eu particularmente, oriento focar o contato em uma única língua, até que esta esteja estabelecida.