A importância de limitar tempo e supervisionar conteúdos no uso de telas por crianças e adolescentes
Jogos, redes sociais, filmes, séries, vídeos diversos. Crianças e adolescentes encontram de tudo em smartphones e, não à toa, passam grande parte do tempo concentrados nas telas desses aparelhos. Há quem argumente ser essa a realidade das novas gerações e não veja nenhum problema nesse comportamento. Mas, para especialistas em saúde infantojuvenil, controlar o tempo de exposição às telas é, sim, fundamental. Tanto o tempo quanto o conteúdo. Mesmo para os adolescentes, que resistem mais a esse tipo de regra, tudo precisa ser supervisionado pelos pais ou responsáveis.
– Podem usar o celular para brincar, assistir jogos, clipes, filmes. Mas sempre supervisionados. O maior problema das redes sociais livres, da internet, é a falta de supervisão parental. A gente tem recursos de fazer a opção do que a criança pode assistir ou não, de excluir algumas coisas conforme a idade, e isso é muito importante. A gente não pode deixar as crianças simplesmente livres, pois elas não têm maturidade suficiente para saber o que é bom e o que é ruim para elas – explica a psiquiatra Priscila Dossi, especialista em psiquiatria infantil e da adolescência.
Tempo no celular e as relações afetivas entre pais e filhos
Como a médica destaca, não faltam recursos tecnológicos que ajudam no controle de tempo de uso e acesso a conteúdos. Mas a conversa entre pais e filhos, a atenção e orientação que a criança recebe da família são fundamentais. É justamente para este tipo de relação que Priscila Dossi chama atenção. Segundo ela, há muitas perdas com uso excessivo de telas.
– Hoje em dia, mesmo ao lado dos filhos, os pais estão terceirizando os cuidados e a atenção dos mesmos; dando um celular ou tablet para a criança ou para o adolescente, seja para compensar a sua ausência ou mesmo para ter mais independência deles. Isso acaba criando nos filhos uma série de problemas emocionais, comportamentais e no próprio desenvolvimento e na formação da criança. Este é um dos motivos de termos visto aumentar tanto os casos de TOD e outros transtornos infantis, como a depressão e a ansiedade generalizada, TOC, entre outros – diz a psiquiatra.
Telas – Conteúdo acessado por crianças e adolescentes precisa ter supervisão dos pais
Supervisionar o conteúdo consumido por crianças e adolescentes é um cuidado básico. Mas, muitas vezes, os pais não conseguem controlar tudo. Daí a importância das orientações de profissionais da saúde e também de educadores. Recentemente, carta de uma escola do Rio de Janeiro dirigida aos pais dos alunos chamou a atenção para a inadequação do conteúdo da série Round 6 para crianças e adolescentes. A carta viralizou e vários outros colégios também alertaram os pais sobre esse e outros conteúdos que estão ao alcance dos estudantes.
Sobre a série Round 6 e outras produções similares, a psiquiatra Priscila Dossi ressalta que muitos adolescentes, mesmo os que estão na faixa etária indicada na classificação da série, não têm maturidade para assistir.
– Um cuidado que se precisa tomar cuidado com essa série e muitas outras é, principalmente, relacionado à classificação etária. Mesmo uma pessoa de 16 anos, que é a classificação da série, nem sempre tem a maturidade emocional, psicológica para assistir a uma série pesada como essa. Os pais não podem descuidar dessa supervisão do que crianças e adolescentes estão assistindo – alerta.
Para Karla Paes de Oliveira, mãe de Manuela, de 12 anos, a orientação da escola da filha tem ajudado muito no controle em casa. Mesmo antes da polêmica envolvendo a série sul-coreana, a escola já chamava a atenção dos pais para conteúdos vistos pelas crianças.
– Minha filha estuda no colégio Santa Marta, onde estamos sempre sendo alertados sobre conteúdos da internet. Isso é muito bom, pois, assim, conseguimos prestar ainda mais atenção ao que nossos filhos estão assistindo. Costumo orientar minha filha conversando e mostrando os malefícios, e principalmente, com a minha religiosidade, tentando que ela entenda o quanto algumas coisas influenciam para o mal. Em uma reunião do colégio, fui alertada para alguns desenhos que parecem inofensivos, mas mostram sempre uma mãe histérica e um pai idiota, onde as crianças e adolescentes acabam dominando o lar. Infelizmente, vemos isso acontecer a todo tempo com nossos jovens, levando à depressão, uso de drogas, suicídios e até assassinatos. Temos que estar sempre alertas e ouvir as escolas, pois é onde as crianças se expõem mais uns com outros – avalia Karla.
Telas – Tempo de exposição excessivo traz vários prejuízos à saúde de crianças e adolescentes
E mesmo que o conteúdo seja bacana, é preciso ter cuidado com a quantidade de tempo que crianças e adolescentes passam diante das telas. Não é de hoje que a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e outras entidades de saúde alertam para os limites de exposição apropriados a cada faixa etária. A pandemia, sem dúvida, contribuiu muito para o aumento dessa exposição, com praticamente tudo sendo realizado por meio digital. Ainda assim, é preciso buscar equilíbrio.
– Com o isolamento social, as crianças estudavam pelo computador ou celular, se divertiam pelo computador ou celular, descansavam pelo computador ou celular. Quem fizesse terapia com psicólogo fazia pelo computador ou celular, para conversar com amigos e parentes tinha que ser por computador ou celular. Isso acaba ficando uma coisa muito pesada do ponto de vista do uso de telas. E isso acarreta várias questões de desenvolvimento, cansaço visual e mental. O que a gente recomenda é sempre o equilíbrio. Pode usar tela, mas precisa fazer uma atividade física, precisa fazer algo ao ar livre, tomar sol, brincar de forma física com outras crianças e adultos – ressalta Priscila.
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