Dislexia, disgrafia e discalculia são transtornos de aprendizagem e devem ser tratados
Dificuldade de leitura, na formação de letras, na realização de operações com números. Alguns “atrasos” no aprendizado podem ser sinais de transtornos específicos, como dislexia, disgrafia e discalculia. São questões relacionadas a aspectos biológicos, genéticos e ambientais, e diferentes de dificuldades em determinado assunto, que qualquer pessoa pode ter. Nota baixa no boletim não significa que a criança tenha um transtorno de aprendizagem. Mas é preciso ficar atento à inabilidades associadas à escrita, leitura e matemática.
Dos três transtornos citados acima, a dislexia é o mais comum, e afeta o reconhecimento preciso e fluente das palavras. Na disgrafia, a grosso modo, a dificuldade está na ortografia e na formação das palavras, com consequente dificuldade na fluência e na escrita. Já a discalculia se refere à inabilidade em questões matemáticas e dificuldade para organizar e classificar números.
– Os transtornos específicos de aprendizagem podem ser diagnosticados a partir dos 8 anos de idade, mas os sintomas começam ainda na idade pré-escolar – diz a pedagoga Renata Haddad, da Pluralitá Assessoria em Educação Inclusiva.
Pós-graduada em Neuroeducação com ênfase em Transtorno do Espectro do Autismo e mestranda em Distúrbios do Desenvolvimento, Renata explica que não há cura para os casos, mas tratamentos específicos e eficazes:
– Por serem considerados transtornos, não possuem cura. Porém, as intervenções feitas através de sessões de fonoaudiologia, psicoterapia e psicopedagogia atenuam bastante os sintomas.
Geralmente, são os professores que percebem a dificuldade e solicitam avaliação fonoaudiológica. A família, desconfiando de algum problema, também pode procurar a escola e orientação médica.
– A intervenção precoce é o principal elemento para que os transtornos sejam amenizados. Portanto, quando não diagnosticado no início da infância, as características podem prejudicar a sociabilidade e a autoestima das pessoas, dificultando ainda mais a parte acadêmica e a aprendizagem – diz a pedagoga.
E vale ressaltar a importância do bom senso, pois não se pode justificar simples dificuldades rotulando-as de transtornos.
– Os transtornos se diferenciam das dificuldades porque tanto a discalculia quanto a dislexia são problemas de origem neurobiológico com dificuldades persistentes na aprendizagem, enquanto a dificuldade de aprendizagem apresenta dificuldades transitórias – explica Renata.
A discalculia, por exemplo, é um transtorno de aprendizagem raro, diz a psicopedagoga Luciana Brites, do Instituto NeuroSaber.
– Nem todas as crianças que têm dificuldade de matemática têm discalculia. De acordo com estudos científicos, o índice de discalculia é de 0,3% a 0,5% da população. É raríssimo! – afirma.
Segundo Luciana, é preciso muito cuidado no diagnóstico de discalculia.
– A discalculia é um transtorno do neurodesenvolvimento gerada por uma dificuldade intrínseca, em que a criança não consegue fazer relações entre a quantidade de coisas e inter-relacionar isso com números. Ela chega num ambiente, vê um monte de criança, e não consegue dizer se são muitas ou poucas. Em alguns transtornos, como na dislexia, 20% das crianças podem ter problemas com a aprendizagem de matemática, como fazer conta de cabeça ou memorizar tabuada. Essa dificuldade viso espacial e de abstração à matemática é comum na dislexia. Então, quando se avalia uma criança com dislexia, é importante que seja realizada uma avaliação psicopedagógica, neuropsicológica para entender essas habilidades com déficits cognitivos. É importante também saber se a criança com dificuldade de aprender matemática tem TDAH, que nem sempre é discalculia. Uma criança com Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade, por exemplo, pode simplesmente ser ansiosa para aprender ou ter medo de não aprender a matemática. Isso faz com que a gente confunda as coisas. Por isso, todo cuidado na avaliação é pouco – avalia.
A dificuldade em matemática pode ser por ansiedade ou insegurança excessiva; ou por falta de conhecimentos básicos durante a pré-escola e primeiro e segundo anos do ensino fundamental. São situações ambientais, pedagógicas ou culturais, diferentes da discalculia, um problema no desenvolvimento neurológico voltado para a aprendizagem de matemática.
– A escola tem um papel muito importante na condução de crianças com discalculia; precisa fazer uma adaptação curricular, porque a criança não domina os processos que envolvem números. Ela tem dificuldade de abstrair, categorizar, localizar, direcionar, organizar e sequenciar números. A escola precisa trabalhar em cima de métodos e caminhos que não se utilize do número propriamente dito pronto, e trabalhar de forma multissetorial, usando materiais que direcionem para uma matemática concreta, que seja explicável de um jeito que não se utilize muitos símbolos. É preciso buscar caminhos diferenciados para que a matemática seja absorvida dentro das limitações dessa criança – diz Luciana.