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Depressão pós-parto

Quadro tem sintomas variáveis, mas em todos os casos precisa ser tratado para segurança da mãe e do bebê

Um dos momentos mais emocionantes da vida de uma mulher, o nascimento de um filho, pode vir acompanhado da depressão pós-parto ou depressão perinatal, de acordo com o manual de diagnóstico médico. Segundo o psiquiatra do Hospital Adventista Silvestre, Sander Fridman, os sintomas podem ser percebidos desde a concepção até um mês depois do parto. Alguns grupos de pesquisa, no entanto, estendem esse período até um ano após o parto.

O médico explica que o parto marca uma abrupta e radical mudança no estado hormonal da mulher, incluindo um súbito e intenso decréscimo nos níveis sanguíneos e cerebrais de estrogênios, progesterona, e um intenso aumento nos níveis de oxitocina (hormônio do amor) e prolactina (responsável pela estimulação do leite materno).

– Nem sempre o reflexo destas transformações é clinicamente tranquilo. E, além disso, podem estar associados a quadros psiquiátricos de variável gravidade – afirma.

O psiquiatra alerta também para a ocorrência de episódios depressivos prévios, na gravidez, ou antes dela, na pessoa ou em familiares consanguíneos, mas também em outras pessoas de seu grupo sociocultural, que podem aumentar a chance de ocorrer um quadro depressivo associada à gravidez ou ao pós-parto. Mas, de acordo com o médico, o principal fator de risco específico para os quadros depressivos perinatais é a ausência de uma apropriada infraestrutura social e/ou emocional que dê suporte prático durante a gravidez, bem como durante a difícil adaptação à vida com o bebê.

Os sintomas podem ser muitos e de intensidade variáveis. Em geral, são eles: ansiedade, em diferentes apresentações, incluindo choro, tristeza, irritação; hipersensibilidade à rejeição interpessoal; agitação ansiosa; restrição na capacidade para desfrutar e ter prazer; dificuldade de vivenciar sentimentos positivos em relação às pessoas próximas; aumento de apetite; aumento de peso; pessimismo; desesperança; pensamentos sobre morte, desejos de morrer; sentimentos de culpa; grande medo de ficar sozinha ou do isolamento social; insônia no início da noite, ou, ao contrário, sono excessivo.

– Como nas depressões não relacionadas com a gravidez ou o parto, podem, mais raramente, predominar características melancólicas, apresentando-se com predominância da apatia, incapacidade de sentir prazer em geral, inapetência e perda de peso. Em ambas os casos, a concentração e a memória podem ficar prejudicadas, ideias de desamor pelo bebê podem prevalecer, e ideias de suicídio e homicídio podem ocorrer – alerta.

De acordo com o psiquiatra, em casos mais graves – e também mais raros -, sintomas psicóticos variados, desde ouvir vozes que comandam a atos – por exemplo, ao suicídio, a matar o bebê – até a ver espíritos, ou ter a convicção de que o bebê está possuído, podem acontecer.

-Por outro lado, um quadro depressivo bem menos grave e muito mais frequente, comumente chamado de tristeza ou “blues” puerperal, deve ser cuidadosamente examinado para descartar-se a presença de sintomas afetivos e psicóticos bem mais graves, mas “ocultos”, que possam ameaçar à mãe e ao bebê.

O tratamento, segundo o médico, deve começar o quanto antes, se possível antes mesmo da concepção.

– A ocorrência de quadro depressivo anterior à gravidez ou de outros fatores de risco psicológicos, emocionais, econômicos, sociais, deve prontificar uma busca pelos apoios familiares e institucionais disponíveis na preparação para a emocionante aventura da maternidade. Uma psicoterapia qualificada, uma alimentação adequada, um bom estado nutricional, uma revisão das condições de saúde gerais e neuropsiquiatricas, são procedimentos bastante recomendados – afirma o Dr. Fridman.

Quando ainda assim forem necessários, antidepressivos poderão ser utilizados na gravidez, com cautelas sobre dose e, principalmente, o período de uso, visto que o embrião é especialmente sensível a medicamentos. Após o parto, exceto pelos medicamentos, as medidas terapêuticas devem ser as mesmas.

– Os medicamentos devem ser escolhidos, quando indispensáveis, de acordo com sua taxa de eliminação no leite e de acordo com seus reflexos sobre o comportamento e o desenvolvimento do bebê. É preciso reconhecer que a depressão grave não adequadamente tratada tem por si graves reflexos potenciais sobre o comportamento e desenvolvimento do recém-nascido. Portanto, o tratamento e a exposição mínima do bebê aos psicofarmacos poderá ser preferível ao não tratamento ou ao desmame precoce.

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