Educação

Por um ensino bilíngue para surdos

Professor defende aprendizado de Libras associado ao de escrita da Língua Portuguesa

Carlos Hilton aprendeu a Língua Brasileira de Sinais (Libras) por curiosidade e desejo de ser útil à comunidade surda. E desde 1994 vem se dedicando não apenas à linguagem, mas aos direitos dos surdos como agentes sociais. Para ele, é importante que a educação, que começa na infância, esteja condizente com as necessidades reais daqueles que nascem sem a capacidade física de ouvir, mas que se desenvolvem cognitivamente como os ouvintes. E isso inclui um ensino bilíngue, com Libras como primeira língua e a escrita do português, como segunda.

– Ser surdo é tão natural como ser ouvinte. Meu projeto de mestrado na Uerj busca conscientizar os profissionais clínicos dessas características dos surdos e seu direito de usarem a Libras – diz Hilton, que é professor do Centro Universitário Celso Lisboa e da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Libras é reconhecida por lei como meio legal de comunicação e expressão no país, desde 2002, e se tornou disciplina obrigatória nos cursos de formação de professores para o exercício do magistério, em nível médio e superior, e nos cursos de Fonoaudiologia, em 2005. Segundo Hilton, que acompanhou o desenvolvimento das leis, houve grandes avanços na área, como a criação do curso de Letras/Libras, titulação de mestres, doutores e PhDs surdos, além de cursos livres de extensão e pós-graduação em tradução e interpretação. Mas ainda há muito o que melhorar.

– Além da visão patológica sobre o surdo ainda forte em nosso país, falta muito que empreender para a formação em ensino e conscientização sobre a educação bilíngue do surdo, que não é efetivada nas práticas educacionais diárias em nosso país. Não adianta ensinar Libras se não há o reconhecimento do corpo docente das particularidades específicas educativas desse sujeito, que ainda é avaliado como um ouvinte e sai prejudicado em seus processos de aprendizado e avaliações, com desistência de seus estudos. Deixo essa reflexão: As provas do Enem, Enade e de demais concursos são em Libras com metodologia bilíngue? O certo é que há muito que fazer pela verdadeira educação bilíngue e por uma pedagogia bilíngue, que será efetivada somente com escola bilíngue para surdos. É isso que a comunidade vem cobrando ao MEC, e que ainda não existe na prática.

Carlos Hilton ressalta que a inclusão social do surdo não deve passar pela metodologia de ensino voltada para ouvintes, mas sim por escolas bilíngues para surdos, que são raras.

– As línguas de sinais são complexas tanto quanto as línguas orais, sendo também línguas genuínas desenvolvidas na mesma região cerebral responsável pela linguagem humana, mas de modalidade visual-espacial e possuindo propriedades gramaticais como qualquer outra língua – afirma Hilton, criticando a adaptação forçada ao mundo dos ouvintes. – O hilário é que o SUS e, agora, os planos de saúde viabilizam o chamado implante coclear (ouvido biônico) como uma maneira de difundir a falsa “cura de surdos” pela visão clínica da surdez, mas não humanizam com consciência pelas pesquisas da linguagem humana a língua natural do surdo como direito dele de desenvolver e pensar na sua língua.

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