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Gagueira sem preconceitos

Distúrbio da fala pode ter diferentes motivos. Carinho e compreensão são tão importantes quanto tratamento médico

Nos primeiros anos de vida, o desenvolvimento da criança baseia-se, principalmente, em um tripé formado pela aquisição da linguagem verbal, pelo desenvolvimento psicomotor e pela formação sócio-afetiva. A aquisição da linguagem verbal é um dos pilares do desenvolvimento infantil e esse processo ocorre desde o nascimento. Ao nascer, a criança é envolvida em uma teia de estímulos. Cheiros, toques, olhares e, claro, sons fazem parte desse universo. Todos esses estímulos podem ser considerados uma forma de linguagem, mas de todas essas formas, a linguagem verbal é a mais complexa.

No início, a criança emite sons para imitar as palavras que ouve; aos poucos, na medida em que é inserida em um mundo de estímulos sonoros, percebe e compreende a necessidade de usar os sons (palavras) como instrumento de comunicação. Durante o processo de aquisição da linguagem, é normal que a criança repita algumas sílabas ou palavras.  A preocupação só deve surgir se esses bloqueios ou repetições se perpetuarem.

A gagueira é um discurso de comunicação complexo caracterizado por inúmeras disfluências que impedem o uso contínuo da fala. Manifesta-se, inicialmente, através de repetições de palavras e sons ou, menos frequentemente, por repetições tensas, prolongamentos ou bloqueios. Segundo a educadora Ana Maria Schiefer, as causas da gagueira ainda não são bem conhecidas. Acredita-se que fatores orgânicos (hereditariedade), desenvolvimentais (fala e linguagem) e ambientais (pressão comunicativa) influenciam sua origem. A gagueira não é uma desordem única; algumas formas persistem até a vida adulta, outras desaparecem até a fase da puberdade, algumas parecem ser idiopáticas, outras parecem ser geneticamente determinadas, algumas estão associadas a problemas de fala e linguagem e outras parecem ser um fenômeno motor isolado.

A fonoaudióloga Flavia Cascardo  esclarece que a gagueira  é uma desordem da fluência da fala, que pode advir de quatro causas: a emocional, a articulatória, a linguística e a psicomotora. A gagueira pode se manifestar tanto na fala encadeada quanto na leitura, e acredita-se que há uma correlação entre o processamento das informações auditivas e a gagueira. Pesquisadores levantam a hipóteses de que a gagueira poderia ser resultado de erros de como o indivíduo ouve a própria fala. Estudos com processamento auditivo visam compreender como as orelhas se comunicam com o cérebro, e como o cérebro compreende o que os ouvidos lhe contam.

É importante que os adultos que convivem diariamente com a criança que gagueja, como pais e professores, tomem alguns cuidados. Evitem chamar a criança de gaga, interrompe-la ou até mesmo completar o que ela está dizendo. Não a force a falar em público e nem a apresse para falar rápido. Respeite seu ritmo, preste mais atenção ao que ela fala e não à forma como fala. Mantenha contato visual enquanto conversam e, principalmente, mostre à criança que dificuldades são naturais à fala de qualquer pessoa.

Além disso, é importante buscar tratamento. Existem vários programas de terapias com enfoque na dinâmica da fala e até mesmo da própria gagueira. Fonoaudiólogos evitam falar em cura, pois não consideram a gagueira uma doença e sim um distúrbio de fala que pode ser minimizado. Com atenção e cuidado adequados, a criança aprende a lidar com o distúrbio. Para a criança, alcançar a fluência na fala é tão importante quanto se sentir aceita pela família e pessoas próximas.

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